digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, julho 29, 2016

Arte e ciência – tirado do incrivel.club

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Roubo ao Mário de Cesariny e ao povo:
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 – Afinal o que importa.
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O défice, as sanções da União Europeia, a pré-época dos clubes de futebol e o terrorismo serão esquecidos e virão outras coisas iguais. Mas há que não perde tempo e por isso valor.
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Afinal o que importa é a arte e dentro de quinhentos anos ou mil anos, se ainda houver humanidade, ou até haver humanidade, só a arte resta.
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Porque sei que, mais tarde ou cedo, há sumiços na internet, recrio o trabalho do incrível.club, mas deixo ligação para visitas ao original.
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Vincent van Gogh pintou «A noite estrelada» em junho de 1889, um ano antes de sua morte. Este quadro é conhecido não apenas como um dos melhores trabalhos do artista, mas como uma das obras mais importantes de toda a história da pintura.
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Em 2004, com a ajuda do telescópio espacial ’Hubble’, os cientistas observaram o vórtice de nuvens de pó e gás que rodeava uma estrela distante. Imediatamente, lembraram do quadro de Van Gogh.
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Eles começaram a estudar com detalhe a luz na pintura do artista e encontraram um padrão diferente das estruturas líquidas e turbulentas.
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Acontece que, quando o famoso pintor estava no hospital, na França, ele registrou um dos conceitos mais complexos e difíceis de alcançar na ciência: a turbulência.
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A turbulência é um conceito na mecânica dos fluidos em que as partículas se misturam de forma não linear, isto é, de forma caótica e com o aparecimento de redemoinhos. Por exemplo, as nuvens se formam em função da turbulência. Visualmente, é assim que se vê:
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Há mais de 100 anos, Van Gogh, sofrendo, foi capaz de perceber e expressar uma das mais difíceis noções extremas da natureza, e conectou em sua imaginação os maiores mistérios da circulação e da luz.
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Após analisar os quadros com a luz ’pulsante’ de outros impressionistas, onde também é possível ver a inquietação, os pesquisadores chegaram à conclusão de que suas obras não são tão matematicamente precisas como as criações de Van Gogh. Até mesmo ’O Grito’, de Edvard Munch, está longe de conseguir mostrar a turbulência.
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Nos tempos mais escuros de sua vida, Van Gogh conseguiu, de maneira brilhante, capturar um dos conceitos mais complexos da física e da matemática.
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Este vídeo vai te mostrar mais sobre a turbulência e a pintura de Van Gogh:
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Dioneia

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Declaração inicial temendo uns chapadões na cara que serão bem dados se me incompreenderem. Vou escrever o que vou escrever sem que escreva estupidez e menos petulância e de modo que me entendam – especialmente que entendam.
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Sei de trocar os vês por éfes e os dês por tês e bês por pês, sei de serem aparentadas pelo normalidade e leve dislexia. Peço compreensão para gralhas e outros corvídeos pois na pressa tingir a folha deixo frequentemente inconseguimentos – animais de estimação por vezes guardados para memória.
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Tenho diante dos olhos dormindo e desperto – atenção para o começo – costas mais belas do que as da fotomontagem Man Ray e das vertidas por Ingres. Não pela arte mas toda ela, do ruivo ao fim.
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O belo é belo e dizê-lo não pode ser sujo em juízos ou ideologias. Só a fotografia é objecto e ela é ela, antes e depois, apoquentando-me vivo ou sonhando.
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Não sei onde a vi, não se cruzou nem procurei, chegou despida e ainda assim sensível e imperial. Sem inocência e muito lume. Dizem olhos e boca, não é de surpresa – nem por não a estar beijando porque sabe da distância – mas de ordenança.
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Um só seio derramado e grande – aprecio-os pequenos e subidos – e de mamilo invisível provocadoramente fingindo esconder-se pelo braço, as pernas chegadas dizendo de toda a proximidade de tudo e os pés trocados de lado mostrando abraço como o da dioneia.
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Treme-me a voz e as mãos. Indigo, se som saísse seria ruído ou desacerto ou desnexado ou tudo isso. Como estivesse diante, em casa vaga num dia infinito.
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É beleza, a prisão e eu patético. A beleza é beleza e daí não digo mais.
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A pornografia é visível e o erotismo pressentido e o amor, o amor é muito complicado. Não a quero amar. Ser o insecto da dioneia até à acalmação.
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Dizer o quê além de beleza e já explicado? Se não entenderem, pois venham os chapadões.
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Nota: a modelo é Ameliya Noita.

quinta-feira, julho 28, 2016

É a vida

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Sou adulto quando percebi que hoje é reflexo de ontem e sem me reconfortar nas injustiças. Porque dói-me a consciência, fui mau e mais fundamente na insistência depois de saber da maldade. Deixei de ser jovem quando me tornei cínico, pois perdi. A minha vida é a derrota, é sua matéria e espírito. Cassafodam as razões e os outros. Se não tivesse falhado não precisaria de socorro.

Pimenta na língua

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Não quero ser erudito!
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Uma porra, é que não quero ser erudito!
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Mas.
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Não sei latim, desisti do alemão, custa-me a mexer a boca para falar francês, tropeço na gramática inglesa, italiano nem pensar e o castelhano é tão medievalmente chique que temo estragá-lo se o disser.
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Nota: Achei deliciosa esta paródia com o retrato de Agnolo Doni, de Rafael. Porém, não conseguir encontrar o nome do autor da gracinha. Se alguém souber, por favor informe-me, de modo a poder atribuir a autoria.

terça-feira, julho 26, 2016

Quando lá não estou

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O mar está cheio de tubarões, peixes-aranha, alforrecas, caravelas-portuguesas, orcas, olharapos, extraterrestres sanguinários, viscosidades nojentas, coliformes fecais, lâminas infectadas, algas carnívoras, piranhas transgénicas, crocodilos voadores, hipopótamos de mau-humor, tigres de bengala, galifões de crista, remoinhos, correntes traiçoeiras, vagalhões de trinta metros, maremotos insistentes, desabamento de arribas, salteadores aquáticos, onças confusas, jaguares perdidos, cavalos-marinhos gigantescos, enguias assassinas, tremelgas, cobras de água, jibóias, boas, anacondas, formigas irritadas, térmitas, filoxera, varejeiras verdes, pulgas, chatos e carraças, sacos de plástico, vidros errantes, pregos em mergulho invertido, ladrões oportunistas, miúdos a jogar à bola em cima das toalhas e sem cuidado, idiotas nos olhares e a mergulhar-bomba, miúdas feias em topless, gordos com escaldões, agentes da autoridade prepotentes, bandeira vermelha, vento ciclónico, calmaria de queimar, areia incomodativa a entrar nos olhos e orelhas, raios ultravioleta, buraco de oxono, alto nível de oxono no ar, águas radioactivas – tudo isto e mais algumas coisas se podem encontrar na praia quando lá não estou.
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E no campo? Há ursos acordados da hibernação, alcateias, matilhas desamadas, tigres, chitas, leões, leopardos, jaguares, linces e gatos assanhados, incêndios florestais, sismos, desabamentos, avalanchas, ribeiros com fundões, descargas de fábricas de curtumes, ventos de Almaraz, assassinos foragidos, limpa-chaminés amnésicos, bruxas voando a cavalo em vassouras, políticos psicopatas, gordas apaixonadas, pançudos embriagados, crianças afrancesadas, velhas de bigode, festas de aldeias, foguetes, cerveja marada, intoxicações por tremoços, amendoins bafientos, salazaristas de calções, republicanos de gola-alta, palermas com motas, patos-bravos com piscinas em declives,  pernas partidas, geninhos corruptos, formigas de ponta vermelha, vespas traiçoeiras, abelhas daltónicas, poetas populares apaixonados, concertos de músicos pimba, vendedores de farturas, romarias, feiras toda a noite, gárgulas falantes, sinos matinais tocando mais do que finados, coscuvilheiras de aldeia, padres moralistas, industriais pedófilos, tarados de gabardina – é como a praia.

De mais para mais, é demais

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Primeiro mosca e após imperador. Vê-las todas e decidir com quais dormir. Tão pueril e leviano e prepotente – tão derrotado.

Desejo e dúvida

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Um dia hei-de escrever um texto perfeito, ao invés poemar encadeado por mulheres imperfeitas. Não sei como será nem começo de caminho ou ideia de paisagem. Pode ficar longe ou diante. Imaginária, intangível, serena ou desprezada, que não a veja antes de arrumar as palavras – e que tenha a certeza que são certas.

segunda-feira, julho 25, 2016

A chatice dos livros

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Ler é-me penoso, não sei se o é para ti. Mas adoro livros, senti-los com os dedos, usar o nariz e pousar os olhos – não é como uma mulher-objecto ou fotografia de nu. O problema é a leitura, sabes? A cada par de palavras somo outras, tiro algumas, mudo-as de lugar, substituo-as. Quantas mais, maiores os arranjos. Depois há as vírgulas, os pontos finais, a pontuação, no geral e particulares. Claro que a ortografia conta, a gramática, a irritações secretas e as públicas, aquelas em que estou só e noutras na multidão. De tudo, o pior é a estória. Há com cada cretino a desviar-se do trilho, gente que escreve bem e falha porque não sabe escrever. Depois há aqueles que não sabem escrever e que por isso nunca o saberão. É difícil encontrar um livro que não tenha de rescrever – esses são os que leio até à ponta. É desgastante para os olhos, cabeça e fígado, até talvez para o coração. Martirizo-me porque gostava de saber ler. Não é arrogância nem qualquer forma de superioridade, é um impulso nativo, animalesco, sôfrego e maníaco de refazer.
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Ou quase tudo. Quando, apaixono-me e não perco letras. Ainda que por vezes me deixe levar pela mania submeto-me à luz e escuridão. Rendo-me e digo que gostaria de ter escrito aquilo. Acredita que não é sobranceria, é impulso como respirar.

Rainha de Espadas e Rei de Copas

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Lembrava-me sempre à segunda-feira, também mas sempre à segunda. Como se me fosses soprada para te intuir.
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Se me lembro e tantos dias, a memória do sorriso estranhamente menino.
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Daquela vez que adolescemos, arrependo-me de não te estremecer os olhos.
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Vi como deixar de ver tal a água que dá sede. Mais imagino o calor da seda dentro e fora da pele.
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Nunca quis pressa, só que te abandonasses, flor e eu beija-flor.
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Mais depressa vejo nave alienígena do que me esquecerei de ti.

Poças Júnior e Luís Mendonça

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A firma Poças Júnior é quase centenária (2018), familiar e portuguesa, conhecida pelos Vinhos do Porto da família tawny, mas que hoje faz também vintage e Douro. É o Poças Colheita 2001, filho de Ervedosa do Douro (Cima Corgo) e Numão (Douro Superior), com as uvas tinta barroca, tinta roriz, tinto cão, touriga franca e touriga nacional. Guarda a razão por que o Vinho do Porto tem o carisma que tem. Muito rico de aroma e extraordinário na boca.
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Luís Mendonça criou sete esculturas alusivas ao vinho. Fugiu do óbvio e agarrou-se a sentimentos, disposições e intuições que nos transmite a segunda melhor bebida do mundo – a primeira é a água.
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Quem quiser ler a crónica sobre os vinhos basta clicar nesta linha.
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domingo, julho 24, 2016

É

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É possível noite e chuva como dia e luz tanto quanto certas e impossíveis. Depende dos negros luzidios e brancos baços e da forma como se vêem os cinzentos e modo de os pronunciar.
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A acalmação desponta no pé-de-paz, quando o solo perfurado se permite a ervas e depois árvores. O troar dos canhões num limbo, passado e perene, numa bolha que se colhe para encostar às orelhas, os ouvidos dormentes e a nostalgia do Inferno.
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Chove atrás da vidraça. A luz cinzenta da rua deserta. A quietude da noite alta.
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Na rua, só e mal coberto, sapatos salpicados e a melancolia como confidente, cabelos e ossos.
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Nem cão, só gato friorento num resguardo e infeliz, carente de colo e precisado de fuga.
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A noite é dos gatos e da Lua. É minha nas insónias tristes que permito e se impõem, a preto e branco de luz cinzenta, atrás e fora do vidro.
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A melancolia é minha predadora e me alimenta.
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Vivo por aqui, aí nesse sítio, quando e sempre.
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Nota: Gostaria de ter escrito «A realidade é um lugar estranho», mas tantos lugares estranhos foram escritos.
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Nota: Não foi possível identificar a autoria desta fotografia. Se alguém souber o nome do fotografo agradeço que me informe, de modo a atribuir-lhe os créditos.

sábado, julho 23, 2016

Na direcção

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Por vezes é preciso fugir antes que chegue a coragem, na direcção do arrependimento, que o será sempre.

Quarto

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Há o quarto negro, paredes almofadadas de negro, do chão ao tecto todo negro. Refúgio nas pungências sem luz, chega-se caído num túnel quântico – digo sem saber o que é isso. Vertigem brusca. Depois acorda-se do lado de fora ou num lugar se saltar para esperança se houver coragem para ver a porta.

Voz

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Se não te ouvem, fala mais baixo. Quem não te ouve nunca te ouvirá.

quinta-feira, julho 21, 2016

Sítio

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Dias dormentes no jardim onde não há cidade e campo. É lugar onde tudo pode, letárgico e demorado.
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É calor e vem água do Inverno. No frio, mantas e almofadas até ao chão onde se nada e brinca ao amor às escondidas não fossem risinhos.
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O que importa é aquém do muro e depois dos ciprestes, Éden sem veneno nem pecado. Umas vezes músicas dolentes do amor ou vento, sempre aves, e silêncio. A árvore para o País das Maravilhas.

Alamedas, azinhagas e horizonte, linha férrea sobre pedra, água e mar, apeadeiros de ausência, sombra de pomares e florestas. O céu, maior espectáculo.
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O dia não começa sem acabar nem nascer, Inverno, Primavera, Verão e Outono nos tempos perfeitos, não exigindo mais do que seus carácteres.
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Vinhos surgem sem chegarem, sortilégio que permito e gosto.
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Noite de lobisomem, luar tanto faz, castigo do mar na rocha da gruta, porta sob a casa.
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Na vez de heras, videiras, segredos e fantasmas, tapeçarias de pastrana. A casa de barroco de Greenaway, o espelho espelha-me em Rembrandt, lá fora o céu de Rubens e a luz de Vermeer, da sua janela se vê de Magritte e a noite de Burton.
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Os retratos dos antepassados seguindo, mistério de qualquer coisaO cheiro do pó-de-arroz e talco, baunilha e canela, bebendo chá. Café, tabaco e batota. Alguém viu aberta uma porta fechada há duzentos anos.
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A capela de gótico puro, junto de rococó de impuridade, pedra e soalho, a biblioteca de escada longa, de dormir de abóbada celeste sem cadentes igualmente silêncio na estufa de ferro, vidro e verdes. No corredor veludo e seda, escarlate, lazúli e negro indo ou fiáveis.
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No salão houve bailes, debruçando-se para fogos-de-artifício e, se proíbe se permite, amantes fugindo no labirinto de bucho, dando rosas, roubando beijos, transgredindo nas grutas e secretos, lagos de cisnes sonâmbulos, velas nos caminhos, gargalhadas, choros e desflorares.
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Sítios sempre noite, outros de revelação. Abandonos de granito para a chuva surpreendente.
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Gatos fogem, gatos vêm, gatos ficam, gatos sentam-se no colo. Cães sendo cães sem pressa. Ninguém, sortilégio que me permito e gosto.
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Claro a tristeza, melancolia da solidão, memória que espero criada. Tédio de remorsos e vergonha.
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Sem horas, os dias ligam-se às noites e as estações nos seus tempos perfeitos e carácteres.
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Fazer amor e comer uvas, no refresco do pavilhão dos linhos voando e ribeiro azulejado. Ninguém ouve os risinhos.
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Só para dizer longe.
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quarta-feira, julho 20, 2016

Passo

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Ir em frente. Se surgir um precipício, levá-lo também para a frente.

Quatro-mil-quatrocentos-e-oitenta-e-quatro dias de infotocopiável e quatro-mil publicações

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A vinte e quatro de Março completou dez anos e a dezanove de Julho chegou à publicação quatro mil. Disseram-me:
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– Também tu tens um blogue?
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Aqui há flores orvalhadas e outras na luz. Declarações de amor e nunca ódio e ainda tristeza e negrum, que é fundo do que negrume.
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Vinham para ler amor e foram-se outros para ver no espelho as feridas e mais, muito mais, sexo, por causa de imagens e palavras.
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Quatro-mil-quatrocentos-e-oitenta-e-quatro dias de infotocopiável.
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Tanto quanto quatro mil anos. Para a frente, de hoje talvez só a roda. De antes, lembrei-me:
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O Egipto do Império Médio e a Suméria a desfazer-se, rapidamente em traço tosco.
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Misturando os dias como se mergulhasse e quase na areia um golpe de tronco e pernas para a subir e entre o ir e o voltar de olhos abertos ver agricultura e a casa e o inventário para depois poesia e antes ou depois a pecuária, já o lobo era cão e o gato atrevia-se.
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Quatro mil anos são como quatro mil dias são e quatro mil publicações.

terça-feira, julho 19, 2016

De olhos verdes de luz

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Não fosse a felicidade teria sempre um prego. Este amor que me cura e bela. Todas as frases pirosas e os risos. Fizemos sete, o número de maior estrela, dizem e sei que temos.

sábado, julho 16, 2016

Sangue e fala

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Morreram quase todos, menos os filhos da Eva.
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Do regaço, todo o espaço.
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Que voltas deu o mundo.
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Aqui se misturaram e pêlos no corpo, cabelos louros e ruivos, pele clara e narizes grandes.
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Que voltas deu o mundo que falando não nos entendemos.
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Na família à noite notg nui notte nuòch notti notte noche noite nit gnot noapte nit – nogte, diziam os avós – é tempo de cantar chantar chanter cantare chantar cantari cantà cantar cantar cantar cjantâ cânta cante – cantare, diziam os avós – e até ao alvorecer ficamos de pé pe pied piede pè peri pe pié pé péu pît picior piet – pedem, diziam os avós.
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Quase nos entendemos. Mas também fazemos amor.
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Dançar e beijar é o mesmo, em bailes diferentes tal as bocas – fazemos igual.
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Nem sempre azeite, porém pão e vinho.
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Esquece a cor e a voz, que viemos da Eva. Sabe-se lá como dizia ela, mas os avós contavam do mesmo sanguinem – e a language que fique na ostium.
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A Teoria de Eva ou de Eva Mitocondrial assenta no resultado de pesquisa de ADN Mitocondrial, que encontrou o mais recente antepassado comum. Uma vez que reporta a uma fêmea, foi-lhe atribuído simbolicamente o nome de Eva.
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Esta Eva não é o nosso antepassado mais antigo, apenas aquele que mais recentemente surge nos testes genéticos realizados em todo o mundo. Acresce que a variedade genética humana é menor do que quaisquer (ou a grande maioria) outras espécies animais.
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A razão por que tal acontece não é consensual, mas uma corrente defende que a humanidade esteve à beira da extinção, salvando-se um pequeno grupo de hominídeos. O número também é divergente, com cientistas a referirem não ter sido superior 10.000 indivíduos e não inferior a 1.000.
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A causa dessa extinção pode ter sido a erupção do supervulcão do Lago Toba, na Ilha de Sumatra, na actual Indonésia. Esse momento terá ocorrido entre há 70.000 e 80.000 anos. Os efeitos fizeram-se sentir em todo o planeta, reduzindo os alimentos disponíveis necessários à sobrevivência.
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O estudo do ADN Mitocondrial e achados arqueológicos colocam o aparecimento do Homo sapiens na região montanhosa de Kibish, no vale do Rio Omo, na actual Etiópia.
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O chamado Homem de Kibish é um Homo sapiens arcaico, uma subespécie. O Homo sapiens sapiens, o homem moderno, é o único hominídeo e única subespécie que vive actualmente.
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A Eva Mitocondrial terá vivido há 160.000 anos, segundo a pesquisa do Instituto Max Plank de Antrolologia Evolutiva (Max-Plank-Institut für Evolutionäre Anthropologie). A Universidade de Medicina de Stanford (Stanford University School of Medicine) calcula entre há 99.000 e 160.000 anos.
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A migração do Homo sapiens para fora de África poderá ter acontecido há 70.000 anos. O momento de chegada à Europa ocorre entre há 40.000 e 52.000 anos. Esta referência é relevante, pois marca o encontro com outro hominídeo, que desempenhou um papel relevante.
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Não existe consenso quanto à data do encontro entre o Homo sapiens e o Homo neanderthalensis, até porque a área em que este último viveu também não colhe unanimidade. Alguns estudiosos situam há 35.000 anos. Porém, os neanderthais viveram seguramente no Próximo Oriente, à porta de África, e por isso cedo se terá dado o encontro.
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O Homo neanderthalensis viveu principalmente na Europa e num momento de climatologia bastante fria, mesmo glaciar. Este facto determinou que fosse mais robusto, mais hirsuto, com cabelo mais claro, com nariz grande e pele mais clara.
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Este hominídeo terá surgido há 350.000 anos e extinguiu-se há 27.000 anos. Várias teorias surgiram: dizimados pelo Homo sapiens, perda de fonte alimentar por via da concorrência com a outra espécie humana e as duas razões concertadas.
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Possivelmente verificaram-se essas duas situações, mas ainda o cruzamento entre as espécies. Teoria inicialmente rejeitada e hoje é dada como certa. A primeira prova consistiu no achamento do esqueleto duma criança, aparentando ter quatro anos, com características ósseas mistas e que viveu há 24.500 anos.
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Os detractores da teoria dos híbridos consideravam que se tratavam de anomalias genéticas. Esse primeiro achamento, em 1998, em Lapedo, perto de Leiria, seria depois confirmado por novos vestígios encontrados noutras localizações na Europa.
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O ADN dos caucasianos brancos – note-se que a Oriente, por exemplo na Índia, a população é caucasiana, embora de pele seja mais escura – apresenta variações genéticas face a populações não europeias. Alguns cientistas referem que o ADN neanderthal está presente entre os 4% e os 7%. Há quem especule que o ADN neanderthal pode ser totalmente reconstruído através do que existe nas populações actuais caucasianas.
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Homo sapiens sapiens, o homem moderno, significa que tem conhecimento, que é sábio. Estabelece-se que surgiu há 10.000 com os primeiros assentamentos sedentários e a prática da agricultura.
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A linguagem falada é extremamente antiga, comprovada nomeadamente pelos indicadores da formação óssea – não é exclusiva do Homo sapiens. Aqui importa apenas a relativa à nossa subespécie, que é muitíssimo variada, desde as línguas actuais às mortas.
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Há académicos que se têm debruçado na procura da raiz, da fala primordial dos hominídeos, portanto daquela donde derivam todos os idiomas. Nem certezas nem consensos, resultado das numerosas famílias linguísticas.
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Neste texto refiro o falar dos avós, ilustração do latim. A dos pais serão as derivações em que cabem diferentes línguas, como o galaico-português. Diria bisavós às que radicam na matriz indo-europeia. Seguindo sempre uma lógica metafórica com a genealogia.
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Não gosto de imagens que sejam ilustração e textos que sirvam de legenda – embora assumidamente crie situações em que tal ocorre. Assim, simbolicamente escolhi uma imagem de Adão e Eva, presente na Igreja de Adão e Eva, que terá sido construída entre 700 Depois de Cristo e 1000 Depois de Cristo. O templo situa-se em Wukro, na Etiópia.

Assim pressinto

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A morte na poesia e no amor.
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Amor na morte.
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Morte no amor.
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E a poesia que o não é.

Minotauro

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Que vida podes dar? Só ovo e semente. Acredites ou negues Deus, sozinho não tens sopro criativo. Sobre a morte também nada.
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Quanto vale uma vida humana se não a podes inventar? E se for formiga ou urso ou crocodilo ou tamboril ou colibri? Não revertes a morte.
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Dirás que matamos para comer. Direi que sacrificamos, porque nos cede vida.
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Ah, a morte! Morreremos, dirás. Possivelmente até te sentirás imortal.
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Ah, a morte! Fim de ciclo da vida ou duma vida.
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Feres, matas e amas. Leva-lo ao desconhecido, onde assustado pelas luzes, vozes e música.
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Em Espanha picam-no antes do massacre. Mas leva os cornos vivos. Dizes da sua morte honrosa. E se matar o homem?
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Em Portugal é rasgado a cavalo, porta para sofrimento a outro bicho. Tem os chifres fechados. Honra só os forcados, que se vestem de sangue, agarrando de corpo desarmado.
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Às vezes correndo desgovernado para divertimento. Às vezes preso a uma corda, sem a liberdade de quem goza. Às vezes iluminado com fogo preso nos chifres e queimando-se.
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Gostarias que te fizessem? Que não!
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Traje de luzes, dizem. Luz negra de negrume, sombria de dor.
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Ah! Que Deus proteja o bravo homem enfrentando a besta. Pode amar mais um filho do que outro? Acredites ou o negues, não tens sopro criativo. Sobre a morte também nada. Seja! O que for! Não podes! Não podes nada! Um dia morrerás!
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E se disseres que Deus protege o homem, porque homem é homem e tu és homem, e fez do toiro um inimigo? Quando te benzes pensas em Francisco de Assis? Tens-te como melhor santo.
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Se o toiro mata que se mate ainda a mãe. E se fosse contigo? E se fosse a tua mãe? Aquela que possivelmente chamas de santa. E se fossem os teus queridos filhos?
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Pode saltar-se sobre o dorso e desafiando as hastes. Como os minóicos. Mal menor.
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Pensa com coração e consciência. Na justiça e em Deus ou no tangível. Não tens sopro.
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Em branco imaculado, diz-me se não te sentes Minotauro.
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Podia citar as muitas notícias acerca da morte de um toureiro na arena. Daria sempre no mesmo. Uma basta. Fica a do sítio da TVI, de dia 11 de Julho de 2016.
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A progenitora do touro que colheu e matou um toureiro, na praça de touros de Teruel, em Espanha, foi abatida. É o que dita a tradição tauromáquica de Espanha. Esta decisão impulsionou os protestos por parte das associações dos direitos dos animais.
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Victor Barrio foi fatalmente atingido pelos cornos do touro, em frente a centenas de espectadores, incluindo a sua mulher. Este episódio ocorreu no sábado, na província espanhola de Aragão. Barrio tornou-se o primeiro toureiro deste século a ser morto durante uma tourada.
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O animal, chamado Lorenzo, atingiu o toureiro no peito, causando-lhe ferimentos fatais. O touro foi morto logo a seguir ao incidente, mas, agora, chegou a vez de Lorenza, a mãe, também ser abatida para se acabar com a linhagem familiar. Esta não foi uma decisão inédita, pois a tradição espanhola assim a dita: sempre que um touro mata um toureiro, o animal e a sua progenitora devem ser abatidos.
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Os activistas dos direitos dos animais demonstraram grande revolta pelo sucedido, referindo que o animal não deve «pagar» pela morte do toureiro. Muitos usaram o Twitter para mostrar o descontentamento, através da hashtag #SalvemosALorenza e, em poucos minutos, conseguiram o apoio de centenas de pessoas.
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Nota: Até há alguns anos frequentei praças de touros. Garanto que gostava, provavelmente gosto, de touradas. Um dia pensei na dor e se fosse comigo. Não me importa se gosto. A questão é moral. O prazer não pode alimentar-se de sofrimento involuntário. Não me importa se gosto, mas que alguém faça justiça e finde as touradas.
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sexta-feira, julho 15, 2016

Definições do azul

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Da janela como de Vermeer, solidão e silêncio como o cheiro da terra molhada depois da trovoada, a luz que é sal e azeite.
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O azul nunca será triste. Pode a solidão ser azul. A solidão é triste. Mas nunca o azul.
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Magritte pintou azul e silêncio, anónimo como louco, duas dimensões, aliás três, e um sítio metafísico.
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O céu, que é azul, pode ser de qualquer cor, até de inverso.
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Picasso pintou azul. Imagens mansas, às vezes tristes, às vezes melancólicas, às vezes outras coisas.
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O azul do arlequim à mãe que abraça a criança.
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El Greco não pintou azul, mas grotesco.
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E o negro que também é belo.

Dor de corno

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Ela fez sexo sem mim. Não lhe perdoo-o e não me perdoo e não lhes perdoo. Juro vingança, elaboro planos – um após outros, anulados por defeitos e riscos. Se o matasse, se fosse capaz, se fosse invisível e silencioso e ubíquo para alibi. A ela não, para que seja minha, embora a perdido.
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O que fazer às horas, aos dias, semanas, meses, anos? A vida não tem futuro e a luz é-me indiferente. A noite é noite, por vezes bebedeira.
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De tanto maquinar revanchas, no tempo longo pelo que abstracto e sem medida, esqueci-me dela e nem me lembro quem é ele.

Indo pela rua

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Podia ser anjo e fazer aos outros tudo aquilo que não me farão.
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Acobardo-me e recolho-me envergonhado e perseguido pelo Grilo Falante.
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Mudar o mundo é pouco mais difícil do que corrigir a índole dum egoísta.

quarta-feira, julho 13, 2016

A cabeça como uma canção em repetida espiral

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Nascer e crescer sem amanhã. Depois os sonhos. Depois as esperanças. Depois vitórias. Depois qualquer coisa. Depois perder. Dias de se ser nada e de até já desejar ser coisa.
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No que me tornei, umas vezes cínico noutras maldando noutras traindo-me falando demais e diante de surdos que me escutam em aflição e indiferentes, incomovíveis e a minha consciência abrindo-me carne e alma.
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A culpa é da mãe. A culpa é do pai. A culpa é dos amigos, das más companhias. A culpa é da vida. Quem me dera não saber que é minha e acreditar.
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Diziam do mercúrio a eterna vida.
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O faqueiro de prata empenhado. O brasão escondido. A loucura revelada. A solidão é fogo posto e não mais do que cinza.
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No que me tornei, mas riu-me patético da desgraça nas vagas etéreas esperanças do pesadelo e da visão do Sol pondo-se ao fundo do mar calmo sem nuvens.
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A solidão é isso mesmo, solidão. Como o escuro é escuro e o sangue calor e a derrota amarga e enraivecente, por certezas de injustiça e crueldade de abandono e incompreensão na desilusão da traição.
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Não me avisaram não ouvi não acreditei, o mundo era meu, o Sol punha-se sem nuvens.
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Matei três ratos, duas cobras e um pombo. Maltratei a Liberdade, a mansa cadela enjeitada que o bairro cuidava por vezes guardava. Castiguei o amigo Gordo a quem revelei as traições m’infligidas e o traí.
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Consolo-me na misericórdia que me permito. Era criança e não havia futuro porque não havia passado, antes dos sonhos, apenas a lonjura dos dias da escola, a ânsia das férias, o Verão não tinha fim.
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No que já me tornara antes de me tornar no que sou.
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Inconsciente no amor leviano. Sem amanhã. Sem sonhos, porque o Sol se punha sem nuvens.
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Então cresci por acaso, fiz amor, um dia perdi e perdido me perdi. Então a loucura, apunhado verti vida depois arrependido e agora arrependido do arrependimento mas cobarde.
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A perdição é isso mesmo, um local em que se está desconhecendo onde se fica não podendo ir nem.
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Não há perdição sem solidão nem solidão sem dor nem dor sem alma-coração-cabeça-pulmão-fígado.
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Diziam do mercúrio a eterna vida.
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Se olhando a libertação pudesse pois desexistir, não é pedido que Deus conceda.
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No que me tornei. Não quero a culpa porque me arrependo mas o gesto não regressa nem esqueço. Afinal não tive o Diabo na mão.
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O pior são as mágoas que deixei, a vergonha de trair o Gordo e a maldição de maltratar a Liberdade, generosa me perdoou como só os cães.
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Não quero a vida eterna mas mercúrio.
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Nota: Como muita coisa do outro lado da Cortina de Ferro, a autoria do desenho deste rádio permanece anónima. Contudo, se por milagre alguém souber, que me diga o nome, para que possa atribuir o crédito da autoria.

terça-feira, julho 12, 2016

O voo da orca

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Ir sem voltar, sobrevoar o oceano baixo que salgasse e ver o salto da orca no caminho de Cabral à areia branca e coqueiros.
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A distância só me custa fora da casa. Ainda assim riscar o ar céu sem regresso nem morte nem saudades nem prisões.
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E antes no areal contemplar o sonho como os braços alcançando a margem oposta puxando e comigo as lembranças de ficar deixando mágoas e arrependimentos. Uma vida sem princípio.
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Nunca olhar para a crusta portuguesa e noutra parte esquecer o horizonte.
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A música infinita sem saciar nem indigesta e o corpo de sal e areia. Se eu ficasse além de mim.
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Pormenor da Carta Marina.

Com éne se escreve não

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Não sei onde estive estes anos. Adormeci ou morri ou invisivelei-me, alguma coisa que não sei, o que disse, o que fiz, se fiz ou se disse.
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Num comboio expresso a paisagem não se demora. A janela está molhada dos dois lados.
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Na estação ninguém me espera nem fica, vazia de vida como se sorvida por espaçonave, um canto de ave e nada mais do que as folhas mexendo-se nas árvores. Fechando os olhos, ánimas rodeando-me enlouquecidas. Ainda assim é dia, terrivelmente dia.
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Não sei se dormindo, sei que não, mantenho-me desperto e confuso. Olhando o vazio ou cegando-me temporariamente, na irresistível dor, para inquirir personagens deletérias. Porém é dia.
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Nesta vida não sei e noutras pouco menos. As contas desta e das outras espelhadas na folha do deve e haver escaldando na consciência, lembradas nos urros e ameaças dos espectros. Antes fosse noite para acordar.
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Não, não pode ser. Não posso estar, não posso ser. Atónito e mudo, culpando-me pelo que sei, deduzo e dizem.
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As mais antigas questões da consciência. A janela é molhada.

sexta-feira, julho 08, 2016

Verão em Lisboa

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Gostava de ter coragem para te pedir que levantasses a camisola e me mostrasses o peito. Escandalizada mo mostrasses, beicinho e beijo. O resto já sabe.
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Este calor-céu-Lisboa só não entende quem não sabe. Faríamos amor de janela da água-furtada aberta, um gato, telhados e Tejo.
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A estas horas a música é alta, gin tónico ou sangria de espumante. Beber melancia untados de meloa, não há outro pretexto.
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Talvez se tivesse coragem.

Tens

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Tens leite no frigorífico e pão de ontem no cesto. Tens fiambre, manteiga e chocolate para barrar. Há pizza e hambúrgueres no congelador. Há ovos. Podes fazer massa e salsichas, sabes onde estão. Se ainda tiveres fome, há uma lata de frango com ervilhas.

quinta-feira, julho 07, 2016

Vuuuu

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O quente sopra grosso e o frio espeta agulhas ao redor. Pela frente sou navio que vence as ondas e por trás avião segurando-se na altitude. Parado é sentado. Nem sei nem rocha nem folha nem sei. Faço de Deus numa água presa com barquinhos. Faço de homem na onda salgada e às vezes.

segunda-feira, julho 04, 2016

País das Maravilhas

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Queria Alice e o sonho. Nunca estar atrasado, beber chá e rir e entender os gatos, que a maldade nunca me alcançasse e o livro não terminasse.
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Nota: O livro «Alice no País das Maravilhas» foi publicado a 4 de Julho de 1865.
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Promessa

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Um dia subi à prancha dos dez metros e apontei os olhos à água e recebi o tiro do arrependimento e o som da vergonha e fitei o horizonte e esqueci-me e na queda lembrei-me de tudo e sobrando tempo desejei acabar a viagem e uma paz ansiosa de azul de bolhas translúcidas passando e antes dos azulejos regressei e no alívio prometi nunca saltar e arrependo-me.

Dias de noite

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Angústia

Luz
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Existência
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Angústia
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Angustência
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Tédio
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Tendência
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Dor
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Dormência
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Negro
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Incandescência
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Reclusão
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Residência
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Tragédia
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Clarividência

Olhei

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Há dez anos numa noite numa praia num atrevimento numa cama.
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Começo do final abrupto. Da morte e do morrer.
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Da morte se regressa. Da vida se regressa.

Túnel

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Deixo a pele e a carne num corredor comprido de escuro-néon entre dois incómodos, talvez recém-acordado ou em dúvida.
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Corredor de incumprir como nos sonhos. Ou surdo ou cheio ou esquecido. Voando como astronauta nas incertezas.
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Feito e preenchido por mim, do triste aos esquecimentos como se o coração parasse e a cabeça ainda.
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Meio caminho entre os infinitos num tubo de ângulos rectos de luz néon-negra, inalcançável – idem.
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Se acordo ou voo nas estranhezas, ignorando.

Anjo

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Se a angelitude ficasse na transcendência até de carne seria. Passaram-se muitos anos, dores, enganos, remorsos, reconciliação, perdão e amor. Se fosse de ouro nem de carne seria.