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Morreram quase todos, menos os filhos da Eva.
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Do regaço, todo o espaço.
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Que voltas deu o mundo.
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Aqui se misturaram e pêlos no corpo, cabelos louros e
ruivos, pele clara e narizes grandes.
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Que voltas deu o mundo que falando não nos entendemos.
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Na família à noite notg nui notte nuòch notti notte noche
noite nit gnot noapte nit – nogte, diziam os avós – é tempo de cantar chantar
chanter cantare chantar cantari cantà cantar cantar cantar cjantâ cânta cante –
cantare, diziam os avós – e até ao alvorecer ficamos de pé pe pied piede pè
peri pe pié pé péu pît picior piet – pedem, diziam os avós.
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Quase nos entendemos. Mas também fazemos amor.
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Dançar e beijar é o mesmo, em bailes diferentes tal as bocas
– fazemos igual.
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Nem sempre azeite, porém pão e vinho.
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Esquece a cor e a voz, que viemos da Eva. Sabe-se lá como
dizia ela, mas os avós contavam do mesmo sanguinem – e a language que fique na
ostium.
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A Teoria de Eva ou de Eva Mitocondrial assenta no resultado
de pesquisa de ADN Mitocondrial, que encontrou o mais recente antepassado
comum. Uma vez que reporta a uma fêmea, foi-lhe atribuído simbolicamente o nome
de Eva.
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Esta Eva não é o nosso antepassado mais antigo, apenas
aquele que mais recentemente surge nos testes genéticos realizados em todo o
mundo. Acresce que a variedade genética humana é menor do que quaisquer (ou a
grande maioria) outras espécies animais.
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A razão por que tal acontece não é consensual, mas uma
corrente defende que a humanidade esteve à beira da extinção, salvando-se um
pequeno grupo de hominídeos. O número também é divergente, com cientistas a
referirem não ter sido superior 10.000 indivíduos e não inferior a 1.000.
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A causa dessa extinção pode ter sido a erupção do supervulcão
do Lago Toba, na Ilha de Sumatra, na actual Indonésia. Esse momento terá
ocorrido entre há 70.000 e 80.000 anos. Os efeitos fizeram-se sentir em todo o
planeta, reduzindo os alimentos disponíveis necessários à sobrevivência.
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O estudo do ADN Mitocondrial e achados arqueológicos colocam o aparecimento
do Homo sapiens na região montanhosa de Kibish, no vale do Rio Omo, na actual
Etiópia.
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O chamado Homem de Kibish é um Homo sapiens arcaico, uma subespécie.
O Homo sapiens sapiens, o homem moderno, é o único hominídeo e única subespécie
que vive actualmente.
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A Eva Mitocondrial terá vivido há 160.000 anos, segundo a pesquisa do Instituto Max Plank de Antrolologia Evolutiva (Max-Plank-Institut
für Evolutionäre Anthropologie). A Universidade de Medicina de Stanford
(Stanford University School of Medicine) calcula entre há 99.000 e 160.000
anos.
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A migração do Homo sapiens para fora de África poderá ter
acontecido há 70.000 anos. O momento de chegada à Europa ocorre entre há 40.000
e 52.000 anos. Esta referência é relevante, pois marca o encontro com outro
hominídeo, que desempenhou um papel relevante.
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Não existe consenso quanto à data do encontro entre o Homo sapiens
e o Homo neanderthalensis, até porque a área em que este último viveu também não colhe unanimidade. Alguns estudiosos situam há 35.000 anos. Porém, os
neanderthais viveram seguramente no Próximo Oriente, à porta de África, e por
isso cedo se terá dado o encontro.
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O Homo neanderthalensis viveu principalmente na Europa e num
momento de climatologia bastante fria, mesmo glaciar. Este facto determinou que
fosse mais robusto, mais hirsuto, com cabelo mais claro, com nariz grande e pele mais clara.
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Este hominídeo terá surgido há 350.000 anos e extinguiu-se há
27.000 anos. Várias teorias surgiram: dizimados pelo Homo sapiens, perda de
fonte alimentar por via da concorrência com a outra espécie humana e as duas
razões concertadas.
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Possivelmente verificaram-se essas duas situações, mas ainda
o cruzamento entre as espécies. Teoria inicialmente rejeitada e hoje é dada como certa. A primeira
prova consistiu no achamento do esqueleto duma criança, aparentando ter quatro
anos, com características ósseas mistas e que viveu há 24.500 anos.
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Os detractores da teoria dos híbridos consideravam que se
tratavam de anomalias genéticas. Esse primeiro achamento, em 1998, em Lapedo,
perto de Leiria, seria depois confirmado por novos vestígios encontrados noutras
localizações na Europa.
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O ADN dos caucasianos brancos – note-se que a Oriente, por
exemplo na Índia, a população é caucasiana, embora de pele seja mais escura –
apresenta variações genéticas face a populações não europeias. Alguns cientistas
referem que o ADN neanderthal está presente entre os 4% e os 7%. Há quem especule
que o ADN neanderthal pode ser totalmente reconstruído através do que existe nas populações actuais caucasianas.
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Homo sapiens sapiens, o homem moderno, significa que tem
conhecimento, que é sábio. Estabelece-se que surgiu há 10.000 com os primeiros
assentamentos sedentários e a prática da agricultura.
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A linguagem falada é extremamente antiga, comprovada
nomeadamente pelos indicadores da formação óssea – não é exclusiva do Homo
sapiens. Aqui importa apenas a relativa à nossa subespécie, que é muitíssimo variada,
desde as línguas actuais às mortas.
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Há académicos que se têm debruçado na procura da raiz, da
fala primordial dos hominídeos, portanto daquela donde derivam todos os
idiomas. Nem certezas nem consensos, resultado das numerosas famílias
linguísticas.
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Neste texto refiro o falar dos avós, ilustração do latim. A dos
pais serão as derivações em que cabem diferentes línguas, como o
galaico-português. Diria bisavós às que radicam na matriz indo-europeia.
Seguindo sempre uma lógica metafórica com a genealogia.
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Não gosto de imagens que sejam
ilustração e textos que sirvam de legenda – embora assumidamente crie
situações em que tal ocorre. Assim, simbolicamente escolhi uma imagem de Adão e
Eva, presente na Igreja de Adão e Eva, que terá sido construída entre 700
Depois de Cristo e 1000 Depois de Cristo. O templo situa-se em Wukro, na
Etiópia.