digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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quarta-feira, julho 02, 2014

Crawl: dez braçadas e respira para a direita, dez braçadas e respira para a esquerda

Existir – inspirar.
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Expirar – inspirar.
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Inspirar – viver.
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Expirar – suspense.
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Inspirar – alívio.
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Desistir – cansaço.
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Desexistir – vontade.
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Pensamento – acção – consequência
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Pensamento – acção – reacção – consequência.
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Hiato – indecisão – inspirar – expirar.
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Ponderar – fazer – expirar.
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Ponderar – não fazer – automatismo melancólico.
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Inspirar fundo – tédio.
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Expirar fundo – tédio.
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Vida – angústia.
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Inspirar – expirar.
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Esperar – agir.
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Passar do tempo – inspirar – expirar.
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Sucumbir ao peso do tempo – inspirar – expirar – desistir.
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Uma recordação para a viagem – inspirar.
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Expirar – por fim.
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Existir – desistir.
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Desejar – desexistir.

terça-feira, novembro 14, 2006

Letras e sudoku

Encontrei, ao calhar, a rapariga mais bonita. Descia a rua, olhos postos no caminho, e dei com ela. Tem uns olhos muito grandes e bem vivos. Estava sentada numa pedra a solucionar sopa de letras. Espequei-me embasbacado sem saber o que dizer, apontando sem o dedo o sentimento desperto naquele instante. Não disse palavra alguma por não saber de acerto ou tino. Ela olhou-me de baixo para cima e mostrou um sorriso tão largo e franco e juvenil que o meu coração ficou ainda mais dela. Com o delo indiquei-lhe os enigmas já decifrados, não percebendo que apenas os estava eu a ler como novidade. Todas juntas, as palavras contavam um amor por vir; e eu ali frente à miúda de olhos encadeados uns nos outros e as palavras ditas e por dizer a encaixarem-se nas vidas, em simetrias e sintonias. Uma maravilha escrita numa sopa de letras.
E de letrinha em letrinha percorremos o alfabeto, escrevemos amizade, cama e jantar. No fim da linha encontrámos o «z», de zebra e zulu, no léxico incomum. Chegou ao fim o enigma da sopa de letras. Finou o amor? Depois vieram os números. Ela sentou-se numa pedra a desfazer enigmas de sudoku e eu a olhar para ela com o mesmo espanto de quando a vi pela primeira vez. Faço silêncio e saboreio o momento.