digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, agosto 09, 2019

Galé

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Sim, isso, por aí, por isso.
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Onde o Sol se renova e a Terra se engana, aos olhos.
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Vendo o azul-lilás ao lilás ao lilás-rosa ao rosa ao rosa-laranja ao laranja.
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Como os refrescos e a pele escaldada.
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A noite é cinema, das estrelas que me esqueci de olhar. Talvez nem se vissem no tanto barulho da alegria.
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Vem a noite no Verão e futura-se a praia, só em frente, chegando-se desviando das árvores e das coisas.
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Pela manhã tardia, o doce e a calma. Quase ninguém acordou, mas algures há cães por passear e gatos quase-invisíveis.
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Pela manhã tardia chega-se à praia, onde se chega indo sempre em frente, bastando o desvio das árvores e das coisas.
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O Sol é luz, o mar está salgado, como pudesse ser diferente.
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Não importa a cor denunciando o humor da água.
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Uma bandeira axadrezada não voa sobre a areia, não há meta nem fim.
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Nem o Sol se renova nem o mar se importa.
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Haverá noite e manhã. É claro, nem se precisa acreditar.

Rotina


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Compreendi. Esse momento era e nesse momento compreendi.
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Deito-me noitadamente, mesmo à tarde e, por vezes, pela manhã.
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Sonho com sede e acordo. Se não a água, é uma gata.
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Acordo e uma gata espera. Se acordado, impacienta-se.
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Sirvo-a nos caprichos, a cadela inveja-as. Já acreditou, hoje obedece-lhes.
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Depois de levantado, levanto-me. Levanto-me como todos e, se não todos, contrariado.
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Faço por me esquecer e não atrasar. Banho e barba, se puder estar limpo.
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Lavo os dentes antes de comer, saio apressadamente e compreendo.
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Os dentes lavam-se depois de comer.

quinta-feira, agosto 08, 2019

De vazio vestidos

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Se me disseram e se.
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Se quando a vi e esperei, não esperava outra da aceitação.
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A sua sorte foi não me ter dado a sua.
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Assim vazios como despidos dissemos coisa duma despedida e ficámos.
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Não falha um, diariamente lembro-me dessa e todas como e como se fossem da noite passada.
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Perdi a conta e não desconfio da certeza de muitas mais.
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Se a vergonha tivesse voz, mais vergonha eu teria.
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Nem sei se diga do meu amor-próprio servil e doutros desastres confusos e mais ainda do que o pudor e a memória me permitem contar. Talvez a multidão saiba.
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É assim falando que falo do que quero e não quero e não-quero-que-quero e do que todos desconfiam e do que todos sabem e, pior talvez, do que a dúvida se esqueceram.
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Se confuso? Deviam conhecer-me.
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Pela manhã, bebe-se água.
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À noite toma-se um comprimido, mas é para outras coisas.