digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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quinta-feira, setembro 10, 2015

Revista masculina

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Tudo era claro e límpido, olhando para qualquer lado. Querendo tudo, debrucei-me na pressa para chegar onde chegasse a abastança. Não vi os muros invisíveis e já não queria nada e agarrei-me à pressa para viver bonança.
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Esta terra não tem vento e faltam as marés. Os outros são apenas outros. Alguns telefonam e não me escrevem. Raramente perguntam e raramente o querem.
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Conforto-me como o adolescente olhando para as mamas da modelo da revista masculina. Conforto-me em fantasia de quererem saber, adormecendo a incandescência.
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Os outros são os outros e estão nos aís. Eu, nos ais.
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Assim se vive enganado, porque se vive por engano e porque se engana a vida.

sexta-feira, agosto 26, 2011

A volta do pai, a volta da volta do pai



















O pai ri-se. Interroga, afirma, delira, flutua, entre este mundo e um outro. Da lucidez à fantasia real das suas horas, minutos. O pai ri-se e brinca. O pai grita, a mãe desespera. O oceano manso alevanta-se, e o pai amaina-se sem aceitar nem compreender. O pai ri-se. O pai fala. O pai diz com voz de se ouvir. Há quanto tempo não o sentia assim. O pai grita, há quanto tempo, com voz de todo o corpo. O pai grita e a mãe desespera. O pai ri-se, flutuando entre a realidade e um outro mundo.

domingo, agosto 21, 2011

Março em Agosto


















Hoje houve Sol. O calor abraçou o pai e o pai sorriu. Lembrei-me do pai, lembra-se o pai. Sorriu, como há tempo não sorria. Sorriu com a confusão do riso, sem rir e na tristeza. Sorriu num dia de Março que chegou em Agosto. Feio e prometendo luz. Ventoso e anunciando a Primavera, sorrindo. Que o sorrir seja em Março e não de São Martinho, Verão de engano, de Outono profundo, certo do fim da luz e do Inverno. Será um dia, mas não hoje. Hoje, não. Hoje sorriu.

sexta-feira, agosto 19, 2011

O pai


















O pai já não é e, contudo, jaz vivo. Ali, entre a vida e já a morte da consciência. Fala para o outro lado e mal diz para este. Desama quem ama, desama quem o ama. Não quer o que quer e agarra-se à vida. Quer o que não quer e tenta alcançar a morte. Não chega a ser triste. É a constatação, a vida vai-se devagarinho, em estrondo sussurrado, em grito louco de grande voz delirante, em sopro fraco e trémulo. A indecisão, na incerteza da certeza de que irá. O meu pai foi-se, só falta o corpo e a voz.