digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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sábado, fevereiro 14, 2009

O Carnaval e o sentido de outras coisas

O Carnaval é o momento mais patético do ano. Não é patético fazer-se uma triste figura sem querer, patético é fazer uma alegre figura porque se quer estar alegre à força e diferente sem originalidade. Mas há pior. O Carnaval é um anacronismo saloio e sem sentido. É como os palhaços do circo, não tem graça nenhuma.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. É no tempo do Dias de Todos os Santos que ganhámos o Halloween, uma importação tão idiota quanto a sua desnecessidade. A coisa é esvaziada de significado. Claro que, se o Natal é quando um homem quiser, também o Carnaval o pode ser. De acordo! Mas, por que temos de multiplicar a imbecilidade?!
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Se o Halloween é uma festa importada e, por cá, esvaziada de significado, já o Carnaval não é; ou não era. Hoje o período da carne alargou-se e caiu do sacrário. Até se come carne quando dantes era pecado.
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Se comemos carne todo o ano, então para que queremos o Carnaval? É como a festa do 25 de Abril, se temos liberdade, por que haveremos de repetir o mesmo ritual todos os anos? Se comemos carne todo o ano, podemos divertir-nos todo o ano. Podemos mascararmo-nos, no sentido literal, todo o ano. Até porque mesmo na Carnaval há quem leve a mal, e fora dele quem não leve. Para que queremos o Carnaval?
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A sociedade ocidental contemporânea habituou-se à diferença, às posturas de ruptura desde os anos sessenta, embora na década de vinte já se tivesse andado muito à frente. Já ninguém pára na rua para ver passar um tipo andrajoso com uma moicana. E quem diz moicana diz as vestimentas de «elegância» exagerada dos setenta e as extravagâncias dos oitenta.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. Ganhámos o Halloween e também o Natal. Ou pior, o Carnatal; mistura de Carnaval com Natal. É juntar Coca Cola Light com Mentos… a gasosa salta da garrafa em vómito grosso e súbito.
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Não ligo nada ao Natal, mas compreendo que haja quem o celebre e respeito muito o que significa, mas, como já disse em postas anteriores, passa-me ao lado. Porém, juntar o sagrado ao profano, numa mesma festa, não é pecado, é uma estupidez. Esvazia-se uma e enxerta-se com outra. Não é carne nem peixe. Esquisitices.
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Onde devia haver contenção passa a haver desregramento. Onde devia haver meditação há o regabofe. Contudo, por todos os sítios onde presenciei o Carnatal, as festas eram o menos desbragado possível. Todos com muita atenção ao que faziam e ao que os outros diziam, todos educadissimamente bêbados com duas taças de espumante manhoso, todos cerimoniosamente enfardados em doces não tradicionais, a música baixinha para não ofender os ouvidos, as conversas circunstanciais, fúteis e a marcar posições e estatuto… Tudo muito calculado e previsível. Sem a espiritualidade do Natal nem o excesso do Carnaval. Champanhoso sem gás.
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A festa do Carnatal não é uma orgia fidalga no século dezoito. Não é uma festa de arromba e de desvario. Não há engates indecentes, encornanços nas barbas do cônjuge. Não! É uma seca disfarçada, onde ninguém quer estar com o resto da gente e só finge estar feliz e divertido, porque demonstrar o contrário seria má educação. A coisa ficou no termo idiota entre a tradição cristã burguesa e a projecção cultural burguesa do Carnaval. Uma bizarria de saloios urbanos, certamente com vergonha das suas, não muito distantes, raízes rurais e populares.
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Vou, por um momento, aceitar o argumento do Carnaval apenas pela sua tradição. Tradição por tradição. Acontece porque sempre aconteceu. Tudo bem. Tudo bem. Mas… e as escolas de sambas dos carnavais mais desvairadamente giros, interessantes e divertidos de Portugal? Adoro o sambar no pé na Mealhada, Estarreja, Ovar, Torres e Albufeira (espero não ter-me esquecido de nenhum). Mas, se há escolas de samba e desfiles semi-nus num país setentrional, talvez essa seja a verdadeira razão e essência da gireza e razão do Carnaval, pois ridículo, mais ridículo, não há.
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Faz tanto sentido uma branquelas beirã ou algarvia andar a sambar na estrada como um Pai Natal no Rio de Janeiro. Se os sul-hemesferianos representam árvores de Natal com neve é com eles e a questão é estética, mas uma tipa andar descascada no Inverno a dançar na rua é estupidez.
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As Câmaras Municipais da parvónia financiam os cortejos e as escolas de samba portuguesas – escrevo isto em riso incontrolável por causa do ridículo. Podem as bibliotecas ser curtas e vazias, as escolas distantes, o cinema ausente, o teatro desconhecido, as artes plásticas só as dos artistas locais – tudo isto aplicável às diferentes actividades artísticas, a enumeração foi aleatória e estética -, mas dinheirinho para esbanjar em aleivosias alarves, isso não pode faltar.
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Já todos devem ter reparado que uma característica do Carnaval português é a das matrafonas, ou seja homens vestidos de mulheres. Não quero nem falar na facilidade simplória de quem se disfarça com o sexo alheio, isso é um problema de imaginação. O que quero é maior compreensão para os travestis e transexuais deste e doutros países. Por que quem quer ver homens vestidos de mulheres não vai à noite passear para a rua do Conde de Redondo? Bem, se calha, muitos irão…
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Mas nestas coisas das mutações das festas culturais há mais: São Valentim foi um bispo itinerante e tipo como padroeiro dos amorosos e dos epilépticos… compreende-se, pois a paixão causa grandes frémitos. Embora tendo sido retirado do calendário litúrgico pelo Papa Paulo VI, o facto é que os milagres, encomendas e celebrações têm vindo a aumentar. Duvido é que por causas espirituais. Já Santo António de Lisboa, ou de Pádua, foi um monge franciscano e, também, tido como casamenteiro. Não fossem os dois santos e dir-se-ia que eram concorrentes. Mas não, pelo que devem ser amigos e até trabalhar em conjunto.
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Bem, talvez a sofisticação da sociedade contemporânea ocidental necessite dum patrono para o namoro e outro para o casamento. Sim, porque há muita gente que tem muitos namoros na vida e outros um casamento para a vida. Já outros só conheceram um namoro e outros, ainda, vários casamentos. Tenho de escrever ao Papa, senhor de toda a sabedoria divina, mais do que o próprio Deus, a saber disto.
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Contudo, não percebo por que, a par da abertura da economia e sociedade portuguesa ao exterior, a devoção a António em matéria de amores decaiu a favor de Valentim. Será que o espírito material e comerciante, inflacionado por escalas da sociedade capitalista global, se impôs?! Hoje, os casais não vão celebrar os seus aniversários de amores ou festejá-los, tão somente, a 13 de Junho, mas a 14 de Fevereiro. Porquê? Porque é assim que estamos alinhados com o resto do mundo que queremos imitar.
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Mas não fiquem tristes os adeptos de Santo António, porque o taumaturgo português encontrou um novo mercado. Não um nicho de mercado, como em economia se diz, mas uns hectares de mercado, criados à custa de São Pedro e São João (Sanjoão no Puorto).
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Antigamente, numa sociedade dominada a mais de noventa por cento por católicos apostólicos romanos, o 13 de Junho era a festa do santo lisboeta, havia celebrações, pois então, bebida na noite, folia, com certeza, e religiosidade. No São João, a 24 de Junho, a festa pagã a ele associada levava a que se saltasse a fogueira. No São Pedro, a 29 de Junho, não era a fogueira, mas havia as suas tradições e espiritualidades.
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O problema não é a sociedade ter ficado menos espiritual, pois esse é um problema de cada um. O problema está no desvirtuamento das datas e das festas. Sim, outrora festas pagãs foram reconvertidas em católicas, mas mantinha-se uma linha de ligação espiritual e/ou mágica. Agora está desviada de qualquer significado além do interesse em beber muito, vomitar, causar ou assistir a confusões, roubos e violências. Em Lisboa, a noite de Santo António é uma imensa orgia, em que a generalidade dos mais de 2,7 milhões de habitantes da área metropolitana acorre aos bairros históricos da capital. Todos bêbados, muitos conflituosos e alguns meliantes. No Porto passa-se o mesmo com o Sanjoão.
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Na noite de Santo António, em Lisboa, o que importa são as sardinhas, a preços astronómicos, e o álcool – cerveja cara ou vinho manhoso a preços de escangalhar a rir… já para não falar em falta condições de higiene, de poucas facilidades para o cumprimento de necessidades fisiológicas, fuga aos impostos, poucas boas maneiras, maus vinhos, agorafobias, claustrofobias, etcaetera.
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Quem não sabe ou não quer saber do significado das datas – e são muitos, talvez a maioria, por falta de cultura ou mero pragmatismo materialista – designa à noite de Santo António em Lisboa como a dos Santos.
- Vais para os Santos?
Isto pergunta quem quer dizer: vais sair à noite para te enfrascares, comer mal e pagar muito, no meio duma enorme confusão de gente e muita porcaria, numa área indeterminada da cidade velha.
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Vais para os «Santos», porque têm uma vaga ideia de que havia mais do que um quer era celebrado num ciclo de festividades de Junho. O que sabem, e querem saber, é que há um feriado em Lisboa e, por isso, uma noite propícia à borga. Como não vão celebrar o São João a Almada, porque, tratando-se dum subúrbio, «ninguém» conhece, ou o São Pedro ao Montijo, porque a terra é pequena e foi transformada num dormitório incaracterístico, ninguém descobre, a noite de Santo António, em Lisboa, é a noite de Santos. A noite tudo em um.
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Portanto, quando se ouve alguém interrogar-se acerca de alguém ir para os Santos, não está a referir-se ao dia de Todos os Santos, mas à noite de Santo António, em Lisboa. Data que agrega todas as noites dos santos fixes, os do álcool e da folia… como no Carnaval, só que no Verão. O ir para os Santos não tem nada a ver com o dia de Todos os Santos, pois nessa altura celebra-se o Halloween, ou seja o Carnaval. Aquele que, poucas semanas antes, antecipa o Carnatal.
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Nota: Estão a ver o que dá não ter namorada nem o que fazer na noite de São Valentim?! É o resultado que dá!

terça-feira, janeiro 13, 2009

Festas do frio e do Ronaldo

Portugal é um país magnífico, onde não há notícias. Não se passa nada. Por isso, os noticiários fazem-se com faits divers. Ontem, dia de grande glória nacional (enfim), foi um fartote de Cristiano Ronaldo, desde a família, os amigos, os colegas, os adeptos, os portugueses na rua, os ingleses na rua, a história desde pequenino, o treinador de quando era juvenil, o de quando era iniciado, o de quando era júnior, o seleccionador nacional, o treinador que o lançou nos séniores, o treinador do Manchester United... espero não me ter esquecido de ninguém.
Depois do miúdo maravilha foi tempo de, uma vez mais desde que há Inverno, fazer reportagens sobre o frio e a neve. Não é suposto nesta época fazer frio? Quanto muito noutros anos seria notícia não nevar nas terras altas.
Por fim, depois de muitos zappings nas televisões generalistas e antes de me decidir a fazer alguma coisa de jeito, ainda fui informado que o futuro presidente dos Estados Unidos vai ter um cão (já se sabia) e que pode (pode) ser de raça portuguesa, no caso um cão de água do Algarve.
Nesta festa de Ronaldite, aguda ou grave, já nem sei, é de assinalar que a maioria dos jornalistas não sabe pronunciar o nome de Cristiano Ronaldo, chamando-lhe «Rónaldo». Ora, a palavra não é uma paroxítona (que por acaso também é uma paroxítona), por isso lê-se «Runaldo». Mas enfim, os tadinhos saem da escola sem saberem escrever nem falar, além de que os jornalistas desportivos têm, em média, um QI semelhante ao dum jogador de futebol, ou seja duma miss beldade. Pudera, o tema é bem desafiante para o intelecto!...


Nota: Já depois de ter escrito este texto e de algumas pessoas o terem lido, vieram contar-me que um brilhante jornalista pôs uma iluminada questão a Cristiano Ronaldo. Se quando estivera no Japão, por causa da taça do mundo de clubes (ou lá o que é), tinha comido sushi. Ora, como se vê, é uma excitação. O país não podia perder tamanha informação. E parece que o cromo não respondeu: «Não, pá, comi sushi em Manchester. Já há sushi em todo o mundo»... Dah!

sábado, janeiro 10, 2009

Fim do mundo

- Por que se constrói e se cria, por que há arte, se um dia virá o fim do mundo?
- Antes fôssemos animais!...
- Ou plantas...
- Ou rochas, antes isso!

segunda-feira, agosto 06, 2007

Babel

A minha língua é diferente da tua e os meus olhos talvez vejam diferentemente dos teus. Como será a cidade do futuro?
- Será alta para tocar os pássaros em voo.
- Caberemos todos nela.
- Terá de ser um espelho de virtudes, ou não será a cidade do futuro.
- Mas já o dizemos há muito tempo...

Pieter Brueghel - velho


Autor desconhecido


Autor desconhecido


Hendrick van Cleve


Stich von C. Decker


Doug Tiller


Gabriela Trynkler


Julee Holcombe