digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
A fruta proibida
sexta-feira, junho 05, 2009
Cor de fogo

sexta-feira, janeiro 30, 2009
Malvados... Maldosos...

- Mas aqui não é proibido?
- Para mim não é.
- Como assim?
- Sou primo do ministro.
- Mas não há leis? Não são iguais para todos?
- Sim, claro, mas tudo se resolve.
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- Primo, ‘tás bom?
- Tudo fixe. E contigo?
- Também. Olha, precisava dum favor teu.
- Se puder ajudar…
- Quero construir uma casa ali em Coentros de Baixo.
- Mas aí é proibido. Terras da reserva nacional.
- Não podes dar um jeitinho?
- Claro que posso… Deixa-me ver… faço um despacho a dar ordem aos serviços para considerarem o teu terreno sem importância para a reserva nacional. Depois faço um decreto para que o espaço não seja considerado reserva nacional.
- Então, pode ser tudo legal?
- Claro. Comigo é tudo legal.
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- Então, sempre resolveste a situação com o teu primo?
- Sim. Tudo tratado. Não é para isso que serve a família?
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- Senhor assessor, olhe o que os malandros dos jornalistas andam a escrever sobre mim.
- É tudo mentira, não é?
- Completamente. Por quem me toma?!
- Temos de encontrar uma solução… mas o quê?
- Diga-me você, justifique o dinheiro que ganha.
- Já sei! Vamos falar em aproveitamento político por parte da oposição… que há uma campanha negra, por parte de forças ocultas, contra si… realçamos que há eleições este ano e que a oposição está a aproveitar-se da situação.
- Isso… isso… Mas, os gajos até têm estado calmos… muito decentes comigo.
- Não importa! A culpa é sempre da oposição… e como há eleições este ano, eles vão passar por interesseirões, que se aproveitam dum simples e legal acto de gestão ministerial para fazerem um banzé, sobre coisas que não existem.
- Deixe-se estar descansado… como está tudo legal, não há nada a temer.
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- Estás a ver esta bronca?
- Fogo!
- Lembras-te como isto começou?
- Fui eu que preparei a parte legal.
- O ministro pediu-te isso directamente ou foi o chefe de gabinete?
- O ministro. Disse-me que era urgente, importante e que teria de ser discreto, porque havia pessoas muito sensíveis… pediu-me para esquecer o Dr. Santos.
- Lembras-te quando foi?
- Completamente. Foi uma semana antes das eleições.
- Que bela memória!... Mas nessa altura o Governo só podia proceder a meros actos de gestão… além do mais porque foi o próprio primeiro-ministro a demitir-se.
- Sabes como é… um decretozinho aqui, um despachozito ali, nunca fizeram mal a ninguém. Além de que o assunto era importante. Não se podia deixar para o Governo seguinte, porque podia de ser da oposição, e foi, esses malandros... depois podiam não aprovar a alteração que o senhor ministro queria fazer ali em Coentros.
- Era importante? Então?
- Estratégico. Construíram lá uma casa, bem grande… empregou aí umas vinte pessoas durante seis meses.
- É relevante.
- A casa está linda, com aquela bela paisagem toda à volta.
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- Senhor assessor… o que faço agora?
- Tem a certeza que foi tudo legal?
- Bem… sim…
- Mas o dono da obra não é seu primo?
- Não me diga que também está alinhado com os que me querem ferir a honra… jornalistas, magistrados e outros…
- Claro que não!
- Vamos dizer que está inocente, uma vez mais… que não tem razões para se demitir e que está disposto a colaborar com a justiça…
- Mas tenho de abdicar da minha imunidade?
- Claro que não. É só para dar aquela pala…
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- O ministro, teu primo, está num grande aperto por tua causa…
- Pois… não deixo de pensar nisso…
- Daquela vez, chegaste a agradecer-lhe?
- Sim, mandei-lhe uma caixa de Barca Velha.
- Epá, vê lá se há registos disso… ainda te entalas e a ele também.
- Não há problema! Dei-as ao irmão, o outro meu primo.
- Ufa! Já estou mais descansado.
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Nota 1: Estas conversas privadas são pura ficção. A situação passa-se num distante país de brandos costumes. Qualquer semelhança com a realidade política portuguesa é mera coincidência.
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Nota 2: Não acham que um tio pedir ao sobrinho ministro um favorzinho para se reunir com uns empresários, que querem construir alarvemente numa Zona de Protecção Especial, é grave o suficiente? É o chamado senhor Cunha…
sexta-feira, janeiro 09, 2009
A posta de ontem - 8 de Janeiro - o Capricónio - Lamber as feridas
Nota: Parabéns porquê?
domingo, dezembro 28, 2008
quinta-feira, julho 03, 2008
Na cozinha

A curiosidade morde e tenho medo do que posso comer. Escondo a personalidade atrás dos ingredientes e envergonhado tapo-me curioso. Se estou nos meus cozinhados, dou-me a todos; que me provem e saibam quem sou. Estou com o colestrol elevado e nem por isso ganho medo, porque medo só de me descobrirem numa cozinha sem todos os apetrechos. Preciso de tralha para que possa pôr toda a minha tralha e a possa servir.
segunda-feira, junho 30, 2008
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Eco e Narciso
sexta-feira, novembro 30, 2007
Faz sol
É sexta-feira e eu aqui fechado. Lá fora pode ser Verão. E eu aqui fechado. As horas demoram-se. O dia está de sol. Cercado. Cercado por orelhas e olhares. Bisbilhotado. Uma enorme vontade. Vulcão. Uma gargalhada. Um desejo. O verbo ir. Lá fora está sol.
Demasiado
Já aconteceu. Passou. A vida sem um ou sem o outro é insonsa. Noites de sono. Noites de insónia. Dor de cabeça. Dor de corpo. Muita água para depois. Que um não atrapalhe o outro.
Dancing with myself
Estou quase a conseguir. Daqui a nada já está. No final destas palavras. Dançarei sozinho. Dançarei e só saberei porquê. A vantagem dos trinta. Trinta e tal passos. Não está cá para dançar comigo. Mesmo sem ela danço. Estou quase a conseguir. Já danço. Consegui.
terça-feira, novembro 27, 2007
quarta-feira, novembro 21, 2007
O jardim

Desalinhados são os passos pensativos. De vez em quando, os olhos atiram-se para o chão e vão seguindo o caminho de areia escassa e raras pedrinhas.
Não se deve olhar o chão. Ver onde se põem os pés. O velho, o rapaz e o burro. Pensa-se melhor com os olhos confortáveis, estejam fixos, fechados ou em voo, rasante ou celestial. Quando se pensa quase nem se repara no horizonte da vista.
Sobre as sebes, sob as árvores, sobre tudo, as aves fazem tangentes e secantes, mas nunca intersecções. Parece que o odor tem ruído e o som tem aroma. Distraídas passam as mãos pela sebe, mais do que os olhos.
Distraídas passam as mãos pela sebe. Mais concretos são os passos. Os passos não têm objectivo. Há uma música muda. Há uma música só na memória. E há a música do envolvimento.Depois do que fica depois do verde natural e do lago há um muro, depois da barreira de árvores grandes. Talvez plátanos. Talvez tílias. Depois do que fica depois, depois das últimas árvores e do muro, fica o que não interessa.
Moby - Porcelain.w... |
terça-feira, novembro 20, 2007
Movimento

A vingança. O corte do ar e dos sítios como uma faca. Metal opaco. Sem uma gota de sangue. Gotas de chuva no pára-brisas. Suor da natureza. Metal sensível. Desejo de chegar e usufruto do prazer indefinível de ir.
A carnificina de insectos só cessa no fim. No último rodado. Foge lebre. Foge cão. Foge gato. Fujo para a frente. Fujo sabendo do que fujo. Fujo sabendo do que não sei. Desejo de chegar e usufruto do prazer indefinível de ir.
Quanto falta para chegar. Distância igual à de partir.
segunda-feira, novembro 19, 2007
Hugo Chávez 0 x Juan Carlos 5
Enquanto mandas outros desobedecem. Se te enfrentam feres. A tua boca infame morde naqueles que acusas de atitudes como as tuas. A tua desfaçatez não engana. Já todos sabem da besta que és. Ainda assim continuas a falar.
segunda-feira, novembro 12, 2007
Ainda que seja só uma miragem

Sinto o meu corpo fraco para carregar o peso do mundo. Mas há uma ilha. Uma miragem. No esforço do penar faço a desistência. Porque agora encolho os ombros e esqueço-me. Na ilha. Curto a bom curtir como se não houvesse amanhã.
Na ilha. Há a música. A adição da música. O mundo cabe na ilha. Na ilha há a música. Há droga alucinogénica. Há placebo. Curto a bom curtir como se não houvesse amanhã.
Amanhã não carrego com o mundo. Acredito. Acredito na ilha eterna. Lugar de música e sem amanhãs. Não carrego com o mundo e dali não vou sair. Não há dores. Há placebo.
Canteloupe Island ... |
A Bica

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Fugir daqui

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terça-feira, novembro 06, 2007
Dançar sozinho

Não chove. Não parece que vá chover. Sobre o campo florido passa um ar quente. Um silêncio de sonho.
A bruxa do Oriente vive no seu castelo. As dos outros pontos cardeais estão nos seus sítios. Não se vêem fadas. Saltam coelhos na verdura.
As cores são vivas e sobre o chão verde, púrpura e vermelho passa um ar quente. Ao longe ficam os castelos das bruxas. Não se chega a ter medo.
A nuvem voltou. Há um silêncio de sonho. Não se chega a ter medo. Há fadas que não se vêem. Pode ser que o vento quente a leve para longe, novamente.
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