digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Gelo como no Verão


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Vivo uma premonição, como o gelo que às vezes o Entrudo.
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Repentinamente lembrei-me e aquela dor ficou onde estivera.
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Foi quando te soube nua. Como tu outra neste agora de antes há uns tempos.
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Agora a dor da nudez que não toco nem sei nem percebo nem consigo querer compreender.
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A pele só pele antes sem pecado e agora de antes há uns tempos na vergonha de sem-vergonha.
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Sim, qualquer coisa, uma sirene chegando e partindo depressa ou a chuva repentina como antigamente.
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Sei há muito tempo sofrer e não me habituei por mais habitual que seja.
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Hoje não sei nem se será como em todos os Verões neste agora de antes há uns tempos.
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Quando Julho ou Agosto ou Setembro uma nudez perdida e achada por alguém.
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Se a minha casa fosse outra e o eu for a do meu corpo.
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Se eu pudesse ser um outro, nem que fosse por desexistir. Mais tarde recriado sem vida antes de.
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Se eu não fosse e as premonições não viessem.
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Quantas tu tenho para contar dessa nudez que não vi noutros lugares.
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É uma premonição, um sono repetido e descubro. Como és bonita quando fazes amor.
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Sinceramente, muito banalmente digo que não sei onde moro nem sei se tenho sonhado que vivo.
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A escuridão voltou ao anoitecer como a manhã fôra de punhal e o dia de torcer de vagas.
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Sinceramente, muito adolescentemente digo que não sei quem sou nem se sou.
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Sinceramente, repito que não sei o que faço aqui nem se neste lugar tenho vivido nem se sonho um pesadelo de ausências, da minha aos tu da minha vida.
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É Julho, Agosto e Setembro no Entrudo quando tu nua me desapareces e surges despida noutro luar.