digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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segunda-feira, junho 12, 2017

Eu-Lisboa

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Não vou para ficar e antes de ir sinto regresso, sou aqui, como se fosse desta cidade como a luz ou, mais modestamente, uma árvore que só aqui tem chão.
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Sou fim, sem lembrança nem caminho.
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Ordem das fotografias: Artur Pastor, Gérard Castello Lopes e Joshua Benoliel.

sexta-feira, março 17, 2017

Cidade de ser e voltar

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Lisboa tem ánima de Greco e de Liechtenstein. O Tejo é os céus de Matisse e Rubens. Desejoso de partir, não vejo o segundo de retornar.

sábado, outubro 03, 2015

A Bélgica

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Quando lá fora chove, cá. Quando lá fora gente, aqui. Quando lá fora o calor do suor que resfria, de fora.
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Quando a melancolia, os outros. Quando a nostalgia, ninguém. Quando a tristeza, os telefones.
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Jogo a palavra e o silêncio vem como trunfo. Perco na sueca, envergonho-me na copa. Fogem do poker, onde a vantagem de olhar de dentro, canasta não dançam.
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Jogo a palavra, o silêncio não ouve. Quando lá fora chove, em mim fica a Bélgica.

sexta-feira, março 27, 2015

Dispense-se a ciência mas não a arte

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O que seria dos reis se ninguém sobre eles escrevesse ou os pintasse? Quanto dura a memória e sabendo que se inventa, recria e se contradiz… quanto?
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O que seria dos artistas sem reis? Seriam artistas, mesmo sem nada para mostrar, porque esconder e fingir fazem parte do mesmo, do retrato e da comédia e da subtileza e das laudes.
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O que seria dos eclipses e dos planetas sem astrónomos ou cientistas? O que seria da vida, da matéria, do universo sem cientistas?
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Seriam o que são. Mas sem artistas não seriam memória.
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Por isso a arte é maior do que a ciência. Um cientista vê matéria onde um artista vê o que quiser, poderá fazer além, aquém ou só isso.
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Podemos viver sem ciência, mas nunca sem arte.
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Nota: Lisboa, eclipse de 1912.

Queria ser calceteiro

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Quando era criança fizeram-me a pergunta que se faz a todas:
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– O que queres ser quando fores grande?
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Astronauta, terei dito. Bombeiro, lembro-me. Quase sempre ser calceteiro.
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Não via o tédio nem as dores por causa das cócoras. Via pedras, areia e instrumentos. Não sabia que hoje teria impaciência.
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Via construção e construção é arte.
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A paciência escreve-se no mármore e a ansiedade fica com vento a passar.
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As calçadas são de pedras anónimas. Juntas são indiferentes, às vezes bonitas. Faltando aleijam os distraídos, o fígado arranha.
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Via construção e construir é conhecer.
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Talvez porque na vida antes desta tenha morto e morrido matado.
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Não tenho ódios, tenho vergonhas.
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De cócoras não nos vêem as lágrimas.
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De cócoras escondem-se vergonhas e a cara.
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De cócoras pensa-se o que se quiser e na distracção juntam-se as pedras.
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De cócoras quase ninguém repara ou se importa.
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Sei que matei e morri matando. Perdoado, acusado e por descobrir.
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De cócoras – os odiantes saciam-se.
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Penitenciar-me? Escondido apenas.
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De cócoras – os odiantes segregam a bílis e do alto desprezam.
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Queria ser calceteiro…
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Quero ter a humildade para fazer do meu ânimo um calceteiro.