digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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quinta-feira, novembro 05, 2009

Tantas palavras para dizer satisfação

Há vinhos brancos para o Inverno... e porque hoje estou do contra, vou apresentar um. Por não haver touradas no Inverno é que me apetece escrever sobre um vinho do Ribatejo. Para mais andei as vasculhar e descobri muito Douro e Alentejo. Bem sei que é quase inevitável, mas bolas!... Há mais gente a saber fazer vinho no ocidente peninsular!
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Depois há um imenso apetite de contrariar as regras. O Inverno é uma chatice! Pelo menos é o que se ouve em gritaria. Pois não concordo! Que belo é o Inverno com suas chuvas, trovoadas, ventanias e temperaturas baixas! Garanto que gosto do Inverno. Apetece-me estar do contra e justifico.
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Diz o senso comum que calha bem é tinto quando o frio faz agasalhar os corpos. É quase uma convenção. Diria, até, uma instituição de sabedoria: o branco no Verão e o tinto no Inverno. Pois, como hoje estou para desatinar com a norma, vou apresentar um belo dum branco que apetece na invernia e calha bem à mesa estival.
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Na crónica de hoje tudo parece contra a norma e complicado, pelo que o nome do vinho é comprido como um comboio de mercadorias: Quinta da Lagoalva de Cima Arinto e Chardonnay. Uf! O mais curioso é que estas palavras todas cabem no rótulo....
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Tal como o fandando se dança a pares, também este Regional Ribatejano se faz de castas em dueto. A arinto, que no Entre-Douro-e-Minho se chama pedernã, é fresca, frutada (citrinos e maçãs verdes) e cítrica, e brilha muito na região de Bucelas. A chardonnay é uma uva típica da Borgonha que, pela sua qualidade, se tem dispersado pelo mundo. A traço grosso digo que o Quinta da Lagoalva de Cima Arinto e Chardonnay tem uma alegre acidez da uva saloia e uma macieza gorda do bago francês.
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Este vinho é uma alegria! É diferente do que se espera dum branco, menos vivaço e refrescanto do que no habituou este género. Tudo isso é resultado do saber enológico e das opções tomadas. O vinho fez a fermentação em barricas, tendo o chardonnay feito a fermentação maloláctica também em recepiente de madeira, antes de estágiarem em carvalho francês.
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Porque no Ribatejo se criam bovinos com agrado, por que não exprimentar este branco com um prato de carnes vermelhas? Se a ousadia não for a tanto, que se experimente com carne de aves. Para mim fica a satisfação de descobrir um vinho destes...
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O vinho do jornal
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Estava a ler o jornal na mesa do café quando chegou o meu amigo Indiana Jones. A alcunha irrita-me – como lhe deve arreliar a ele – mas foi ficando e por culpa do próprio. Meteram-na quando ainda andava no liceu por causa das roupas fora de tudo que usava e pelo chapéu de abas largas, da polícia montada canadiana, só possível porque abusadono feitio, que assim perdeu as características quatro covinhas no topo.
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O Indiana Jones chegou atrasado – devo ser o único português pontual – e esbaforido, porque preocupado por me ter deixado, mais uma vez, a secar. Não fez grande mossa, já estou habituado e tenho uma espécie de comprimidos mentais que atenuam a dor de esperar.
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Após algumas, muitas, mutíssimas e prolongadas conversações, desviadas obviamente do ponto pretendido, lá decidimos levantar da mesa e marchar para o jantar. Lá vieram umas carnes vivas, em sangue, com umas batatas fritas palitadas e crocantes. Para beber mandou-se vir um Diálogo, um duriense da casa Niepoort. Ah! Agora me lembro: o pormenor do jornal é importante, pois o rótulo faz-se dum cartoon de Luís, o mesmo que todos os dias anima o Público.
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Ai! Estou a confundir tudo. O que disse acerca do vinho é verdade, mas bebi-o com outro amigo, com o Turco. É a senilidade!
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Lembrou a um careca
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O careca lembrou-se de me convidar para jantar lá em casa. O patife tem uma casa vasta ali em Campo de Ourique e gosto de lá ir. Para onde lhe havia de dar e para onde se foi; é sempre assim, há amigos com quem se fica horas a falar de vinho.
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O dito careca, que parece o pai do Calvin da banda desenhada, recebeu de presente uma colecçãozinha de vinhos velhos. Ora veja-se o azar, eu que gosto tanto da terceira idade no vinho, desde que ainda vitalizados.
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Ora veja-se o azar: a primeira estava avariada – é o risco dos vinhos velhos -, a segunda tinha encomendado a alma ao criador e a terceira não deu prazer de fazer sonhar. Criou-se um dilema: o que fazer? Instalou-se a dúvida se a garrafeira era antiga ou velha. Não se arriscou mais.
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Abriu-se e bebeu-se feliz o Lybra, da Quinta do Monte d’Oiro, um tinto regional Estremadura. Um vinho bem estruturado, vigoroso e seguro, bem tingido e opaco. Descomplicado e acessível.
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Ora – hoje estou numa de «ora» e travessões – o referido amigo é um mago (ficava estranho chamar-lhe fada) da cozinha e levou para a mesa comidinha muito boa. Eu levei pastas de azeitonas cordovil e galega, e cabeça de xara – assim só para chatear a gula do leitor. Ele lançou para a mesa alheiras de caça fabulásticas, grelos salteados e umas cenourinhas cortadas às rodelas e temperadas com azeite, alho e cominhos.
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É por estas e por outras que gosto de jantar com o careca. O tipo cozinha bem e sabe o que servir, além de me dar a conhecer vinhos como o Lybra.

sábado, outubro 24, 2009

Jantar de vinte e três de Outubro

Ao todo éramos seis, mas foram dois que sobressaíram: o picareta-falante A e a pita tagarela I. O Guillaz sempre foi dizendo qualquer coisa e a SB, sempre recatada e calminha, mostrou mais vontade de se fazer ouvir. E o que eles falaram!... tive de os pôr fora de casa ou hoje à tarde ainda estariam aqui na cavaqueira.
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A noite teve quatro momentos altos: o Auster, o vazar duma garrafa sobre a toalha, obra do incansável A, o estilhaçar duma chávena e pires de café, obra do impagável A, e a varridela final, quando os meti lás fora.
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O primeiro vinho da noite foi um Casa Santos Lima Chardonnay 2008 (regional Estremadura), com a untuosidade que caracteriza esta casta, sem ser pesado, e fresco… fruta tropical e erva cortada. Este vinho acompanhou paiola de porco alentejano, os peixinhos da horta e os camarões em alho.
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A entrada prevista era de chamuças… mas a Dona Emília em vez de doze trouxe trinta. Assim, a especialidade, indiana e da senhora, foi servida com honras de prato principal. Às frituras, para contrabalançar, foi servido puré de castanhas.
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Os tintos foram o Casa de Santar Reserva 2005 (Dão), algo austero, mas com boas notas de fruta vermelha, o Duas Quintas 2007 (Douro), vivo nos aromas e com fruta notável, e Auster Reserva 2002 (Douro), em plena forma, com agradáveis aromas terciários, de confitados, um toque suave de cogumelos, uma pitada de especiarias.
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Para finalizar, veio para a mesa um derretível bolo de chocolate, trazido pela SB. Acompanhou-se, e lindamente, com o Auster.
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A conversa decorreu animada, com os decibéis a irem demasiadamente frequente a níveis proibidos pela lei e pela decência das horas. Felizmente, não aconteceu, como noutros tempos, vir um vizinho à porta ou ao telefone queixar-se do ruído.