digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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sexta-feira, junho 01, 2018

O amor e o sexo


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Há o medo de perder o que não se tem nem se pode ter – o amor.
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O cerco e a reclusão não prendem, nem a liberdade garante.
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Há medo do segredo. Não da luz. De perceber a penumbra e a sombra – uma estufa de sal e orgasmo, do ímpeto pueril.
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Não há palavra de promessa nem de arrependimento – quem não acredita, não respeita e fala duma substância de condição e estrutura.
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Há palavras guardadas, duma claridade quase transparente, de olhos, beijos e abraços.
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Há quem não saiba mentir, apenas calar.
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Assim mente-se, para que não chegue a verdade, da voz do amor enganador.
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Assim se resguarda em mudo e choro, dos dias e das vésperas, do antes ao amanhecer, das tardes longas e das noites infinitas – melancolia e desânimo.
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Há episódios simples, repetidos e pronunciados vazios. Numa lonjura, o mar tapa a areia – dois corpos entregando-se no sexo. Mas à luz, o oceano se acalma e falando de amor se deixa na praia
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A paz da guerra é falso repouso. Nem há breu absoluto nem eterno.
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Quem vai descansa crente da sua invisibilidade. Quem resta sente o embate atrevido do ciúme.
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Não antes, agora. Um bicho irrequieto, acordando e perfurando num qualquer momento, indiferente à vontade do perdedor.
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O ciúme é um rio que, de adormecido na represa do silêncio castigador, se larga, atropelando a memória e crença.
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O ciúme é impronunciável. O rio que sobe as margens, se estende secretamente fora do seu leito, mesmo na bonança é o sossego atropelando o sossego.
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Perdendo-se se prisioneiro. Perdendo-se ausente. Perdendo livre duma corrente. Perdido de confiança
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A fidelidade icorrespondida não será morta, porque é morta e morrida – matando sempre e sempre.
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Não há presente sem passado e a água repete-se nos leito. A sua jura é chuva certa sem tempo de chegar.
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Perdida a crença, não haverá outra barragem de silêncio, todas as pedras caídas serão seixos, ficando correndo-ficando. A fonte será outro rio e o curso a torrente para outra terra.
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Se a natureza dos rios é desaguar, não há muralha nem confiança alterando a sua índole. Quem quer escoar, correrá – um delito de desobediência, indiferente à beira-rio.
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O conhecimento é duma dor. Se pronunciada – sua vergonha, pesar e inutilidade – é o momento de chorar ao brilhar das águas e da multidão despercebida.
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Dói e dolorosamente mata. Confia-se até quando se finge acreditar.
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Os rios desaguam, mesmo dizendo correr apenas por não haver sexo no seu leito – e do amor ser outra coisa.
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A palavra carência, sua distância, é a mentira de quem trai o padecente – se foi, será sempre. Uma qualquer palavra fenecida.
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Nem a detenção nem a soltura – mesmo a promessa uma sem regresso – fidelizam calmaria mansa.
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Assim se cai. Caindo, fica o desperdício, do pretérito e tempo vindouro.
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Nenhuma jura se ressuscita. Caindo se cai.
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O que é a dança? A liberdade e a transgressão. Qualquer ritmo tem os seus corpos. O seu odor não diverge do da cópula.
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A fidelidade afiançada é morta na próxima sensualidade.
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Quem sabe e se cala do corpo infiel – do dizer da cabeça sem traição do batoteiro – não se perde em ilusão, embaraça-se na desilusão.
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Há flores que se abrem repetidamente à Primavera, da volúpia estrangeira – aquela dita vazia.
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Há heras eternas, presas até ao fim da cama do amor. Morrem morrendo na certeza e do ciúme.
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A Hera – da boda – desponta, um dia morrerá estéril pela cama molhada pelos beijos dos forasteiros, duma língua presa noutra língua, da cor dum qualquer país e da sua fala.
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Do amor onde subiu soltar-se-á. O vento será para onde a flor desabrochada numa cama – do suor da lascívia, da fruição e da falsificação – não a encontrará.
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A dor do engano é calada, mesmo oculta, mas grita rasgando o sangue e o espírito – tudo o que se esconde se revela.
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Assim se diz do amor e do sexo.

sábado, setembro 27, 2014

Dráculas

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«Drácula» é um romance romântico e erótico. O abismo sedutor da morte, a ânsia de sobreviver, o amor longínquo, os tempos em suspenso, as incertezas, a dor e a tragédia final.
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Bram Stoker, que descobriu a Transilvânia em almanaques de actualidades.
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O romance foi escrito pelo irlandês Bram Stoker e publicado em 1897. Ao que parece, o irlandês tirou todas as informações de livros e almanaques. O mais longe que terá ido foi a biblioteca, hoje teria a internet. O conde é delicado, mas houve abordagens homo-eróticas. Porém, à parte as duas primeiras versões, o aristocrata transilvano viveu em filmes de fraca qualidade. Não vi todos os filmes e estupidamente não apontei, nos meus caderninhos, todas as designações adoptadas para Portugal. Assim, em alguns casos recorro ao título original.
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Friedrich Wilhelm Murnau, o primeiro e melhor realizador dum filme de Drácula.
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Em 1922 foi rodado a primeira versão, obra do realizador alemão Friedrich Wilhelm Murnau, onde a corrente expressionista sublinha o terror da estória. Os familiares de Bram Stoker não gostaram de «Nosferatu – uma sinfonia de terror». Não gostaram ou porque não entenderam a genialidade da fita ou apenas por ganância. Pelo que sei, foi mandado destruir todas as cópias… ou esquecidas ou escondidas, salvaram-se bobinas suficientes para que hoje se possa sentir o terror da equipa Stoker e Murnau, em que o actor Max Schreck corta a respiração.
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Max Schreck – o vampiro que saiu do caixão.
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Nove anos depois, já com consentimento dos herdeiros, foi rodado «Drácula». Tod Browning escolheu o húngaro Béla Lugosi para protagonista. Penso que ainda hoje, a figura altiva e elegante é a que mais impressiona a memória.
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Béla Lugosi – o vampiro sedutor.
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Depois das duas primeiras versões, 1922 e 1931, a obra foi sempre as descer. O terror expressionista e a arrogância de Lugosi não foram alcançados, ainda que bons actores tenham encarnado o conde transilvano. Até um realizador genial agarrou o livro com patinhas desastradas.
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Em 1943 foi Robert Siodmak a abordar o tema, mas como uma sequela. Na verdade é um filme de «série B», o «The son of Dracula» – a personagem principal é o filho do infame transilvano. Lon Chaney Jr. Foi sempre um vampiro com ar chateado do que assustador.
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Lon Chaney Jr. – o vampiro chateado.
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Erle C. Kenton filmou «House of Dracula» em 1945, mais um prego no caixão de Bram Stoker. John Carradine foi, por vezes e involuntariamente, um vampiro cómico e exagerado.
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John Carradine – o vampiro patético.
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Christopher Lee tem boa fisionomia para encarnar um Drácula, um vampiro bem americano em filmes de relevância fininha.
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Christopher Lee – o vampiro teimoso e persistente. Christopher, o que se tem de fazer para ganhar a vida…
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«Horror of Dracula» (1958 – de Terence Fischer), «Crypt of the vampire» (1964 – de Camillo Mastrocinque), «Dracula: Pince of darkness» (1966 – de Terence Fischer), «Dracula has risen from the grave» (1968 de Freddie Francis), «Taste the blood of Dracula» (1970 – de Peter Sasdy), «Scars of Dracula» (1970 – de Roy Ward Baker), «Count Dracula» (1970 – de Jesus Franco), «Dracula AD» (1972 – de Alan Gibson), «Count Dracula and his vampire bride» também titulado como «The satanic rites of Dracula» (1973 – de Alan Gibson) e «In the search of Dracula» (1974 – de Calvin Floyd).
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Roman Polanski também quis deslizar no sangue, mas o chão, de tantas sangrias, já se colava aos pés. Ferdy Mayne foi o escolhido para a fita rodada em 1967.
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Ferdy Mayne – o vampiro engatatão das sessões de chá dançante.
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Em 1974, Udo Kier protagonizou o filme «Blood of Dracula», realizado por Paul Morrissey. O filme ficou também conhecido por «Andy Warhol’s Dracula», por este artista visual ter sido um dos três produtores da película. Os cineastas Roman Polanski e Vittorio de Sica deram o seu contributo como actores.
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Udo Kier – o vampiro homoerótico. 
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John Badham, ficou mais conhecido pelo filme «Febre de sábado à noite», mas também abimbalhou a personagem de Bram Stoker. Dois anos depois da disco sound, em 1979 surgiu nos cinemas um novo «Dracula», encarnado em Frank Lagella.
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Frank Lagella – o vampiro com pinta de empregado de mesa dum navio de cruzeiro e soldado da Mafia.
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«Love at first bite», de 1979, juntou humor ao terror. A façanha foi dirigida por Stan Dragoti e George Hamilton foi o vampiro, arrogante e enjoado.
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George Hamilton – o vampiro gay com ar enjoado por se ter peidado.
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Produtoras alemã e francesa juntaram-se, em 1979, para criarem «Nosferatu: phantom der nacht». Klaus Kinski foi o morto-vivo escolhido por Werner Herzog. Abordagem séria, que pecou por se colar, sobretudo na parte plástica, à obra-prima de Murnau.
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Klaus Kinski – o vampiro sinistro.
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Não vi o «The monster squad», de 1987, realizado por Fred Dekker. Consta que junta comédia e terror, numa fórmula para adolescentes mamarem. Duncan Regehr é o vampiro se serviço. No género, o «Caça fantasmas», de 1984 e realizado por Ivan Reitman, deve ser bem mais fixe.
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Duncan Regehr – o vampiro com mau hálito.
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Na melhor toalha cai a nódoa. Francis Ford Coppola realizou tantas obras-primas que deve ter querido fazer um filme de «série  B», que me lembra «Os canibais», de Manoel de Oliveira, rodado em 1988 e em que o canastrão do Luís Miguel Cintra consegue atingir o apogeu da expressividade dum caixote de papelão. Em «Drácula de Bram Stoker», o Gary Oldman, que fez de conde, ficou um misto de expressividade de Joaquim de Almeida mas menos enjoado, com a dinâmica do Diogo Infante e a frescura de pele de José Castelo Branco, que parecendo morto está vivo ou que parecendo vivo está morto – ou algo assim.
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Gary Oldman – o vampiro ridículo e com a mania que é o Elton John.
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Em 1995 o Drácula voltou à comédia, com «Dead and Loving it», de Mel Brooks . Comédia parva, non-senso tosco, que de tão idiota me consegue fazer sorrir. É idiota por nascimento e faz gala nisso. Poupa-se assim a desilusão das versões desastradas. Leslie Nielsen não desilude no desempenho esperado.
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Leslie Nielsen – o vampiro aparvatado.
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O novo século – esqueçam lá essa coisa do ano zero – trouxe «Dracula 2000», de Patrick Lussier, com Gerard Butler, a agredir a personagem.
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Gerard Butler – o vampiro que põe as adolescentes aos gritinhos abafados.
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No ano 2000 surgiu uma outra película, que não sendo uma obra-prima abordou o universo vampiresco de modo interessante, colocando o filme de Murnau no centro da trama e Max Schreck como verdadeiro vampiro. «Shadow of the vampire» foi dirigido E. Elias Merhige e com Willem Dafoe como Schreck – bem merecia ter ganho o Óscar para o Melhor Actor Secundário, que nesse ano foi para Michael Caine.
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Willem Dafoe – o actor que era vampiro.
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Mais «interessante» foi «Van Helsing», de Stephen Sommers e com Richard Roxburgh… um filmezeco para pipocar na sala e ir ao WC sem carregar no botão da pausa.
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Richard Roxburgh – o vampiro muito mais vivo do que morto.
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O tempo passa e não há como «Nosferatu». A perfeição é impossível! A perfeição seria Max Schreck poder ser Drácula ao mesmo tempo que Béla Lugosi.
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Quem nunca viu «Nosferatu», basta clicar nesta frase, quevai directa ao sítio certo no youtube.
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O vampiro mais divertido é o «Conde Patrácula» – «Count Duckula», na versão original e «Conde von Pato», no Brasil. A série foi realizada pela Cosgrove Hall (Reino Unido) e produzida pela Thames Television, entre 1988 e 1991. Em Portugal passou inicialmente na RTP 2, mas também na TVI, SIC, Canal Panda e Kids Co.
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Numa família de patos vampiros, o jovem titular é vegetariano, para grande desgosto do mordomo, o abutre Igor, que tudo faz para que o seu amo siga a tradição familiar. A ama (Ama) é uma galinha grande, gorda e estúpida, mas que ama o seu menino. O castelo é mágico e muda de sítio. O professor excêntrico e caçador de vampiros, o ganso (não me lembro o nome, vai em inglês) Dr. Von Goosewing é incansável na busca para apanhar o conde, que desconhece ser vegetariano.

quarta-feira, junho 05, 2013

A miúda perdida

Lembro-me da temperatura da língua, que tinha a força das coisas frágeis. Que tinha o tesão da quase inocência.
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Nada que diga faz o tempo voltar. Fiz-lhe amor dormindo ou acordado no ócio. Esmeralda perdida.
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Não parece que foi ontem. Parece que foi nunca. E nunca foi. Um ramo de flores sem Outono.
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Morrerei sem voltar aos lábios que me amaram por tão pouco. E sem nunca lhe ter morrido no leito.

sábado, junho 20, 2009

Os calores





















Quero o calor do teu corpo para me refrescar a alma. A tensão e o alívio. A ternura, os animais e o desaguar dos rios.

sábado, março 21, 2009

Separação

Não me recordo se manhã ou tarde, mas sei que me levou noites e madrugadas de pensamentos de dor. Eu com a cabeça cheia ouvia-te dizer o que calculava e não queria. Escutava-te no inacreditável fim. No teu colo pousei a cabeça e molhei-te com as primeiras lágrimas dos desgostos.
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Essas águas passaram, mas não passaram as dores dessas noites nem a incompreensão do fim. Tínhamos tudo para sermos até ao fim. Ao fim desta carne, porque em alma estaremos, cada um por si, unidos.
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Houve quem esperasse por nós. Desilusões vagamente violentas. Desilusões se sal no sangue, que me feriram e te pouparam. Porque só eu as pude ver e ouvir.
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Desde então, desde essa manhã ou tarde, de dores de noite e madrugada, que só tenho o sangue a revoltar-se nas veias e as lágrimas no pensamento. Certamente um dia faremos contas, mas, digo-te já, que te perdoo.


Estrela Da Tarde - Carlos Do Carmo

sábado, março 07, 2009

Posso?

Se a vida é minha deveria saber o que fazer com ela. Se não sei é porque, certamente, não será minha. Será que posso dela sair?

sábado, abril 05, 2008

Fazer

O que fazer com o amor antigo? Quentes banhos de imersão não me ajudam a pensar melhor. Nem pior. O turpor na estufa, o suor na pele, a leve tontura e o silêncio não são muito diferentes da minha cabeça a processar o amor antigo. Um amor que o desassossego confunde com a vida. Se por um instante penso em expulsá-lo ao despir-me do corpo, noutro instante relembro que a dor está em mim. Se num instante de precipitação o fizesse, um nova questão nasceria. O que fazer com as minhas gatas?

domingo, abril 09, 2006

Dormir

Outro dia perguntaram-me:
- Mas tu não dormes? Só escreves!...
Durmo! Só penso em escrever, só penso em escrever, só penso em escrever, só penso em escrever, só penso em escrever, só penso em escrever... Criar, é preciso criar! Parece que o mundo vai acabar amanhã e não me importo com a comida nem com a dormida nem com o vestir. Tenho é de criar e de despejar tudo cá para fora como se fosse uma ânsia, como se fosse um vómito. Mesmo que seja vómito e nada preste.
Outro dia perguntaram-me:
- Mas tu não dormes?
Durmo nos intervalos em que não escrevo e não desenho. E o que desenho não ponho aqui porque não tenho como o pôr, porque poria se soubesse e pudesse... tudo aberto, tudo franco, tudo escancarado para quem quisesse ver, porque nu para uma pessoa, nu para toda a gente... É igual. A minha nudez é sempre a mesma. Se não tenho vergonha frente ao espelho também não a tenho no Rossio!
Outro dia perguntaram-me:
- Mas tu não amas?
Amo! Amo muito. Amo demasiado. Amo e não sou compreendido. Amo há demasiado tempo sem que percebam que o meu amor é diferente de todos os outros amores. Amo sem sexo, sem tesão e sem semente. Foda-se, amo muito e faz confusão a muita gente que a mulher que eu ame só exista dentro da minha cabeça. E não me deixam estar sossegado, porque acham que eu gosto daquela ou da outra ou da mesma ou da anterior ou da precedente ou da futura ou da repetida ou da coxa ou da das mamas grandes ou da das mamas pequenas... Não! Amo uma mulher que só existe na minha cabeça e é por isso que preciso de escrever, porque a conheço desde que nasci e não é a minha mãe nem a minha irmã nem as minhas avós nem nenhuma das minhas tias! Amo a tusa que ela me dá quando escrevo ou crio ou faço qualquer coisa que mais ninguém percebe... entre mim e ela só existe ar.
Outro dia perguntaram-me:
- Mas tu não dormes?
Durmo, mas durmo com a televisão ligada, porque tenho medo de dormir. Tenho medo de dormir sozinho. Tenho muito medo da noite e da solidão. Preciso de ouvir vozes quando não há vozes. Durmo mal porque não tenho quem me oiça. Durmo mal porque não tenho a quem me agarrar, porque a mulher que eu amo só existe dentro da minha cabeça.