digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, dezembro 07, 2013

terça-feira, dezembro 03, 2013

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Perito em linguagem binária

























Sempre fui muito esperto a matemática. Enquanto os colegas aprendiam continhas e equações, eu dedicava-me à suprema e elitista linguagem binária... em todos os testes tinha ou zero ou um.

Ser serei

























Se for a reencarnação do meu bisavô sou descendente de mim mesmo?

segunda-feira, novembro 25, 2013

A Flor de Luz

Quando acordares dá-me um beijo. Dá-me outro ao deitar. Para não enjoar, dá-me quinhentos durante o dia. E outros tantos durante a noite.
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Nota: No entanto, não vêem nada. A luz da Flor é só minha.

Um milímetro é maior do que a desgraça


O peso das palavras e o desconhecimento das unidades de medida.
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Nota: Há pessoas que não sabem o que dizem. Como se pode classificar de «desumana» a afirmação de que um golo foi nos descontos quando ocorreu aos oitenta e nove minutos. A paixão cega.

Momento de intimidade dois


O amor é cruel. O fígado, que é um coração, desenamorou-se da minha boca.

Momento de intimidade um





















Amo citrinos.

Estou a chegar


A caminho e pode ser para a frente.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Os jovens não sabem o que é mandar um fax e talvez só saibam o que é «mandar um fax»... Portugal vai de fax





















Um rebut já não dá. O «sair e voltar a entrar» aqui não dá. Só formatando. O drama é se é um problema de hardware. Se está mesmo escangalhado irá para o lixo e nós iremos também.
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Nota: Vou classificar a imagem como «fotografia», mas o género artístico é «fax art».

O impossível


O impensável aconteceu! Hoje não aconteceu nada no mundo.

quinta-feira, novembro 07, 2013

Concerto

Apresenta-me esse sono que cai como morte se a morte existisse. Que um sonho desentedie a noite e acorde aliviado.
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Apresenta-me uma memória, lembra-me um sentimento. Um concerto, um charro, uma noite, uma bebedeira, um momento tine.
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No relvado a dançar. No relvado deitado. No concerto a curtir. A namorada e um cigarro, e não fumando. Ah, o charro...
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Deitado sob as estrelas diluídas pela cidade. Deitado encaixado na namorada. Ela fumando e ouvendo o concerto e eu ouvindo e vendo-a, apaixonado e com uma tesão descarada, suspensa pelo momento e sentimento pré-consciente da poesia e fragilidade do momento. Sim, sabia que me haveria sempre lembrar. Sim, sabia que me haveria de esquecer. Sim, sabia que um dia, muito mais velhos, numa conversa tranquila, despida de nostalgia, me haverias de lembrar.
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Onde foi pouco importa.
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É uma memória rescrita, não inventada. Um tapete de momentos e virgindades. Foi tudo há muito tempo e no muito tempo cabe muita gente e no muito tempo cabem muitos eus e muitas noites e dias, dos alvoreceres às madrugadas.
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Pode ter sido num lado qualquer contigo, sejas tu quem fores.
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Sejas tu quem fores, amei-te. Com a brevidade e intenção dos zetários. Tanta borbulha na alma e por dentro da cabeça. Tanta certeza de tanta ignorância.
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Ainda hoje me apaixono. Infelizmente, a virgindade passou e quase nada deslumbra.
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Os teus olhos castanhos, escuros pela noite, brilhavam e tinhas a boca tranquila. Estavas a ouver o concerto e eu estava apenas contigo e queria beijar-te, para perceber que não gostava do sabor dos cigarros.
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Nesse tempo difícil, o da borbulha, estavas lá. De lá ninguém te tira. Nem da memória que não me lembrava e que me recordaste.
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Sejas tu quem fores, quando penso para trás percebo por que amava. Se penso, era capaz de te amar outra vez, quisesse Deus que me renascessem borbulhas no pensamento.
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Não é fácil

Quando ele fala e ela interrompe é «uma achega». Quando ela fala e ele interrompe é a génese duma birra. 

Oh vida!

Procrastinação. Preguiça. Depressão. Hipotiroidismo. Drunfo. E eu acordado...
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Nota: O filme é medonho! A estética breakdance já é pavorosa e o conceito de rua de bairro manhoso de Nova Iorque é miserável. Porém, a interpretação e óbvio estúdio são uma pândega. 

sábado, novembro 02, 2013

Lux

Entre uma coisa e outra do lado de fora. Como é possível a nostalgia pelo triste. Devem ter sido as luzes e os amanheceres. Mundo de muitos amores, perdidos e não abandonados. Canções espalhadas pelo chão, como a roupa por causa do frenesim dos corpos. Foram tempos duma adolescência desastrada, de sofrimento sem borbulhas, mas com passado. Não sei se é arrependimento que me castiga com a saudade ou se gostei mesmo de ter tido a alma ferida. Talvez seja por essa juventude tardia ou pela memória das manhãs. Não gosto de estar adulto.

sábado, outubro 19, 2013

Sensível prazer

Vamos ao proibido. Com tenção dos ladrões roubar o que é nosso.
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Tremendo de nervos e desejo, despejando as roupas. Loucura demorada.
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Dentro de ti fazendo promessas inconcretizáveis.
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Fingindo acreditares-me na voz, o silêncio.
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O teu verdadeiro prazer. Junto com o meu.
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Parados, suados, confusos... arrependidos sem arrependimento e cobiçosos.
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Mais. Mais. Quanto mais, mais.
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Sem remorso nem mágoa, um copo de vinho e o teu cigarro.

Claros prazeres

Se deixasses, tirava-te o cigarro e dava-te a boca.
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Levava a mão à tua nudez. No teu peito prolongado.
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Desceria até encontrar-te onde a timidez se torna loucura.
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Tu, resignada ao prazer, dar-me-ias e até ao fim.
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Repousando, tirar-te-ia o cigarro e voltava a dar-te a boca.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Assim o queira

























Não estou intratável! A vida é que é imprestável. Só falta o inadiável. Possibilidade realizável. Assim o queira o infotocopiável.

A minha vida é matemática non-sense...

Quando dois e dois não são quatro. Feliz na arte, poesia e vinho. Na vida mortal não tem graça nenhuma. Para que raio existe a lógica se não é obrigatória? Repenso: Para que possa haver lógica. A vida devia ser matemática e a matemática não deveria ter devaneios no estado do ânimo. Dois e dois deveriam ser sempre quatro. São quase sempre, mas as minhas contas somam sempre só três.

Chumbo

Amargura no cimo do estômago. Suor frio na testa. Chumbo nas veias. A sensação de tranquila cólera. Não estou doente, estou apenas derrubado. Respiro a terra, saboreio o sangue seco, enquanto se me encarquilham os dedos das mãos. Podia estar encharcado depois da batalha, mas estou acordado. Estou apenas derrubado.

Brutalismo


Apetece-me praticar o desconstrutivismo. Sempre é mais divertido do que o brutalismo. Bom mesmo era ser padeiro na Suécia.
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A luz tanto faz, Deus revela-se na escuridão.
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Há também tantos suicídios por cá, que matar-me lá não seria diferente.
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Padeiro porque são quentes os fornos e há sempre com que matar a fome.
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Partindo-me na brutalidade, seja a morte seja a arte.
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Seja a arte de morrer.
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A brutalidade do suicídio é teatro memorável. Por mais que aconteça, é sempre notícia em algum lugar e toca sempre alguém.
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O dinheiro é a droga do não ter. Na Suécia os hospitais são melhores, consta.
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Tanto faz, se o objectivo é ir daqui. N
a Suécia não há ninguém para me deter.

Gula





















Despes-te ou tens esse sorriso para sempre, de olhos densos e boca de beijo?
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Espreitei-te para o sobre-pele num primeiro olhar.
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O contorno da felicidade a puxar os meus olhos e a adoçar a boca.
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O mistério que se deduz pela luz de mera revelação. Sem um fotão a mais.
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Imediatamente as mãos contiveram-se para não te revelarem os dois segredos.
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Se a conversa desse, nesse momento de silencioso desejo...
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Levei o vinho à boca e logo te dei banho, partilhando a água e o vinho.
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Depois fizemos amor até ao acordar.

Afinal para que serve a poesia?

Para que porra serve a poesia se os outros a entendem e quem a escreve não percebe?

Fora de margens

Cair numa enxurrada, se morrer num afogamento justo, será merecido.
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Mereço a água, que tudo lava.
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Que a minha vida suja de tristeza fique lavada.
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Que de mim se guarde alguém que viveu a respirar e respirou desenhando, mas que mais não fez do que escrever.
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Se mereço morrer? Como todos! Tantos (todos) mais estúpidos e mais inteligentes, mais ingénuos e mais filhos-de-puta morreram... por que haveria eu de ser falhado ao ponto de ter de cá ficar?!

Sina

Triste como se me tivessem dado a beber vinagre por vintage. Triste como tendo nas veias um garfo. Triste e sem lágrimas.
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Durmo à Lua cheia. Quando me acordam, é Lua Nova. Diga o que disser, a vida deu-me Quarto Minguante.
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É sina. Não sou o primeiro falhado na família. As tradições são de manter.
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Ou matar. Se não por raiva, pelo menos por pena.
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Porque a honra se lava com sangue, a derrota veste-se com o nosso.
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O que fazer? É sina!...
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Movem-se montanhas, mas nunca a sina.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Claridade

























Tenho a tensão ao pé da boca. Cordel de raiva que prende a dentadura e o berro.
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Morder em alguém ou praguejar...
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O que quero é ajoelhar-me antes de cair.
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Chorar como um menino órfão e pedir a Deus que me ponha noutro lugar.
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Há demasiado ar à minha volta e solidão diante.
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Não sei se tenho inimigos, o que é patético... não saber ou não ter.
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Que venha uma luta e que ganhe perdendo. Perdendo a vida e ganhando a morte.
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Que venha a paz e a distância e só com o colo da mãe.
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Quero ir antes de todos, para que os possa receber com saudades.
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Morre-se bem à chuva, quando não se pode num dia de Sol.

sábado, setembro 28, 2013

Uma onda leve que leve o peso

Das margens fora. Sem horizonte nem tempo no fim da luz. Cairá a noite e a Primavera que se segue à meia-noite será de melancólico Inverno. O negro nas cidades é quase azul-prussiano e na madrugada o céu fica roxo e depois lilás. Como o Senhor dos Passos, um solene caminhar com solidão e tanto faz a cidade ou a vereda. O luto vestido empalidece no esquecimento e escuridão, até que o corpo seja ar e o pano esteja por fim morto. Ficará na terra ou no mármore algumas letras gravadas e nada mais. A alma talvez tenha regressado, o novo corpo não depositará flores na tumba daquele que o antecedeu. É triste a morte não existir nem o mundo acabar a tempo d’eu morrer.

Uma tristeza fora das margens


Entristece-me saber que a morte não existe.

Gordo sentado em tédio


























Não sou gordo. Tenho é o arquivo do que bebo e como.

Gladíolos são da cor da carne, mas os limões também são doces

Devo-te o fazer amor. Se não entendeste o amor, é porque não o merecia. No entanto, não me faltaste. Não dando tudo, foi o suficiente.
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Por ti não fui no fio da navalha. Saltaste até cima e roubaste-me o vazio desarrumado.
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Lamento ter-te perdido. Se eras tu que juro me amavas e eu quem desejava.
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Levei-te flores e cruzei a cidade. Detestei aquelas flores e acariciei-as porque tuas.
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A surpresa da menina e o sorriso pelas flores. Eu vestia um fato e estávamos numa avenida.
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Sim, estou triste e a nossa história foi triste, por mim. Tudo o que tem de alegre é a tua pureza. Alegre não é feliz.
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Não te me deste. Seja por que razão for. Se foi triste o final, foi patético, foi porque tomei o amor com mãos impuras.
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Perdi tudo. O que mais perdi foi ter ganhado uma tristeza.
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A tristeza é uma chatice!

Não lamento não te ter tido, porque o tempo que te tive diante de mim saciou-me. Hoje sei-o.
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Deves-me o fazer amor. Sinceramente, acho que sim.
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Se foste infantil? Foste e não percebeste. Menina adulta não é de todo madura.
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Se o mereci? Não.
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Não o mereci por não me dares, mas por eu não merecer merecer.
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Escrevo-te num dia triste, quando há felicidade.
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Confidencio-te o que talvez saibas, que te tenha já derramado. E o que te disse em sonhos.
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O limão também é doce.
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Detestei aquelas flores e gostei tanto de tas dar que mais de dez anos depois ainda me lembro delas.
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Nota: Dedicado à DN... com um abraço ao Zeca.
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Nota: Nunca tinha pensado em escrever este poema. Por alguma razão, hoje tive de o escrever. Foi de rajada, repentista, quase sem pensar. Tinha-o de fazer e tinha de ser hoje, com urgência. Ao escrevê-lo percebi que andei mais de dez anos a escrevê-lo.

segunda-feira, setembro 16, 2013

Dois




Luz Negrum
amor amor
beijo beijo
coração suspiro
vida vida
água sangramento
ânimo doença
morte morte
paixão desfalecimento
queda ascenção
trompa órgão
picasso Van Gogh
Rubens Rembrandt
Lully Mozart
cravo rosa
sorriso gargalhada
seiva sangue
fim princípio
amor amor

Querido diário

Hoje voltei a querer morrer. Acontece-me sempre que morro um bocadinho. Quando morro sem querer fico com um túnel, onde a saída é para trás e a vontade de olhar em frente. Se cair, mais um passo. O destino de cair é a vontade de chegar.

O uso da estupidez

Estúpido não é o desdotado de inteligência, mas aquele que tem preguiça de a usar.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Cemitério de prazeres

Quem não cometeu excessos na juventude? Noites, farras, vigílias, directas, vinhos e namoradas. Aprendi com a idade. Hoje sou um homem diferente e evito dores de cabeça... As mulheres dão ressaca... ao contrário do vinho!
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Nota: Não tenho ressacas de álcool!

quarta-feira, setembro 04, 2013

Ups! Vida not found

Poetiso por causa das desgraças que me fazem viver, e quando poetiso estou em morte, sem corpo enterrado, mas não morto, porque tenho de sofrer para poesar. Não passo sem as letras das mãos, sina cravada em linhas das mãos. Sofro porque é a razão do meu viver. Sofro porque me alegra, o sonho de morrer.

Error 404 – Esse sentimento não existe

Já disseram. Já ouvi. Ouvi muitas vezes. Percebi.
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Que diferença entre saber e fazer.
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Li, ouvi e disse:
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– Errar é humano.
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Compreendi, repeti e aconselhei.
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Li, ouvi e concordei:
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– É bom aprender com os próprios erros.
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Compreendi, repeti e aconselhei.
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Li, concordei e sorri com Bismarck:
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– Prefiro aprender com os erros dos outros.
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Li, ouvi e disse:
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– Insistir no erro é burrice.
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Compreendi. Repeti o erro.
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Há oito anos, julgo que a treze de Fevereiro, conheci.
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Repeti, amei.
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Amei e pensei que amando a mãe podia amar a filha.
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Pensei que amando a filha podia ajudar a mãe.
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Pensei e agi e errei, perdi a filha e a mãe.
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Hoje é quatro de Setembro e essa mãe faz anos e essa mãe é mãe de alguém que não se lembra de mim.
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E é neste quatro de Setembro que me lembro, por causa de hoje, deste ano, que me lembro que errei. Amei e perdi.
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Repeti e voltei a amar.
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Errei? Se amar o filho como amo a mãe.
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Como repetir um erro.
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Repetindo a vontade eterna e infinita de amar quem não é.
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Se não existe, se não pode, se não deve, se vive em Marte não se ama.
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Porquê amar.
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Sabendo a resposta, concordo, porque sei.
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Repito o erro acreditando que acerto.
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Se a alma fosse de osso, tê-la-ia engessada.
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Se fosse, e sendo fosse, intangível...
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Algo como ctrl + alt + del...
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Melhor! Quem me dera format C:
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Nada disso existe. Esse tempo passou e ainda o repito, como se alguém se lembrasse e os novos soubessem.
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Não escapo à vida, nem à sina.
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Nem ao erro.
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É sina da minha vida.
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É burrice, pois.
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É humano, o erro.
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Sou demasiado humano, sou burro!

sábado, agosto 31, 2013

sábado, agosto 24, 2013

Dever

Devia estar na praia. Devia ter férias. Devia ao Fisco.

Alembranças

Quando te olho, tento não ver os momentos dos beijos, mais beijos que tive entre pernas e os recíprocos. E que tu, simples sacana, sorrias como me bebesses em água. E a... aquela coisa que tem tantos nomes, mas que nenhum diz a verdade ou ao certo... era tão húmido e quente, que se não fosse a vida e ainda hoje lá estaria. Os beijos melhores duma vida. Esses sorriso. O que ficou e é aquém do que és. Um prazer d’além de se conhecer. Só podes ser a mulher da vida duma homem. Mestra de tudo o que é ser mulher.

Xabregas

Estava bêbado
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Não me lembro da música
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Passavam dos dez vodcas.
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Não sou Messias!...
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Não sou profeta!...
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Não sou Cristo!...
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Sou nulo!
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A tua boca. A tua boca tem.
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Uma pastilha-elástica que não existia.
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Era Xabregas, era sutiã, era beijo.
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Era sexo. Eras tu. Era ela. Era amiga.
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Foi?
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Faço artifício.
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Fiz de manequim.

Movimento, crido perfeito.
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Eco!
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Entre vodcas e os beijos. Os teus beijos. Os meus beijos.
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Na altura ouviam-se canções.
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Sem ser perfeito pra ti.
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Sem seres perfeita pra mim.
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Partilhámos táxis.
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E corpos para partilhar.
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Quem nunca fomos além dos nossos.
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Assim creio. Além creio.
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E assim, esse suor, colado ao meu.
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Por ti, pra mim... se fossemos.
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Por fim.
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Enfim.
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Sem esquecimento e nunca esquecendo,
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Ainda aquele dia, antes do antes da antes da minha,
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O beijo antes do antes do teu.
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Uma memória caduca.
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E esse futuro. Sem esquecimento.
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Ui! Xabregas! A Sofia, o tempo, o reencontro, o mundo e a vida.
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Xabregas. Só duas vezes.   Cinco, seis vezes, contigo talvez só duas.
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Nosostros com vidas. Só duas.
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As vezes...
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Esses beijos roubados.
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Dos intervalos das viagens dos meus pais.
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Eu de pijama e tu de mulher.
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Beijos.
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Não esqueço!
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A boca e o mais íntimo de eu.
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Vindo-me, em ti, na boca, na cona.
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Uma namorada quase tão breve.
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Como.
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Qualquer amor que se ama não querendo amar.
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E se ama.
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Amando, porque amar é a razão.
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De amar.
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Nota: ano e mais anos, depois ou talvez mais. Ainda assim, anos, na rua do Chiado, na Garrett, beijinho pra cá e lá, e estavas giras, eu solteiro, e mais um tempo, e encontro e beijos e não nos comemos. Mas depois... oh depois! Família e filha. Conhecemo-nos donde? Somos amigos. Porém. Seremos pra sempre amigos.

Era tarde ou outra hora

Era de tarde, quase noite. Era de tarde, quase tarde, quase noite. Era de noite, quase tarde.
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Uma prostituta, um quadro.
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A luz amarela e o frio, que se intuía, ou era mesmo.
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Carlos Mendes, Natal, compras e isso.
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Três pessoas, três vidas. Três pessoas, duas vidas. Três pessoas, o desejo duma vida.
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Solidão, quando se passeava com a mãe, junto às montras... ainda que não.
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A música, a que tocava no rádio, a das ruas, a da vida.
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Amélia. Quem? A dos olhos doces, a quendera que fosses.
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Apenas mulher.
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Eu, miúdo, lembro-me da luz amarela do ateliê e do meu pai.
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Quadro e quadros fazendo-se, e a Amélia.
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A mãe que não chegava e a vida que ainda assim existia.
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E existia, sem perceber se era vida.
As meninas da rebâra do Sado é qué... sã comó asovelhas.
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Épa... Biaxo Alen

Por amor ou qualquer coisa

Já te disse tudo e, também e por isso, disse tudo.
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Que posso dizer? Só o que disse por escrito ou por outra pessoa.
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Se quiseres?
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Se quisesses?
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Não queres! Porque ninguém quer como eu.
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Nem tu, nem irmãs, nem primas...
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Porque eu, fidalgote caído...
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Sou morto.
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Morto de amor por ti...
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Morto, porém, contudo.
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Morto.
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Tesão, não é vida.
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Inda que não exista pra ti,
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Quero-te pra mim...
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Morras, por raiva ou rancor...
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Viverás sempre em eu.

Se fosses, se fosse eu

































Há uma mulher, que podia amar, que podia conhecer, que podia ser só amiga de amigos, que podia ser só morena, que podia ter cabelo comprido; ou mais curto.
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Há uma mulher que me levaria ao altar, se eu fosse levável ao altar se..
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Fosse casadoiro... se fosse o certo, além de correcto.
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Há uma mulher que me mandaria, ainda que eu fosse não mandável...
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Mulher tão mulher que só poderia ser mulher de amar, mas tão mulher, que fosse mulher de mandar.
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Eu, homem mandável mandado de amores, amoraria.
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E como é linda! E como é horrível dizer que uma mulher é linda, se for somente linda!... Mas que é belo se o for.
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O meu coração rebenta e muita coisa ,de resto, também.
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Segredo!
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E se souber, o que me dirá?
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Amor? Outra coisa.
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Porém, amor.
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No entanto, eu cobaia, querendo ser feliz e desejando...
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E ela serendo o que quiser ser.
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Eu, querendo, logo sonhando.
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Como é bela! Mas tão mulher... eu tão homem, tão pequenino.
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Nunca me querendo.
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Ainda assim, querendo-a.

quarta-feira, agosto 21, 2013

Nem Estaline

Consegui viver sem conhecer essa beleza, que mesmo depois de conhecer não osculei e ainda antes de ver perdi de frente das minhas ideias.
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Porém, depois da verdade, pouca escuridão resta ao mistério e nenhuma vontade sobrevive à ignorância.
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Estaline mandou refazer fotografias. A verdade é um local estranho, em que estando todos nenhum está no lugar do outro.
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Nem mesmo Estaline conseguiu apagar quem não esteve nem colocar quem esteve. Brotaram e eclipsaram-se presentes. Tanto faz, nem a ausência nem a invisibilidade nem a surdez significam inexistência. E mesmo essa tem de pedir aos poetas pra existir.
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A vontade é um o preconceito; o medo, uma intimidade; o desejo pode ser uma mentira:  o problema e a ilusão, a solidão e o ombro, a tesão e a fome. Tudo de muita coisa e quase nada doutra tanta.
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Sim, a saudade é um amor. Como qualquer amor tem irracionalidades. Explica-se como qualquer amor e, ainda assim, pode inexplicar-se.
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A saudade do que não aconteceu é tão verdadeira quanto a da vida de betão. O desejo não morre, o que morre é o tempo em torno das pessoas.
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Por mim, se tivesse mais tempo, soprava sem fim os problemas, que nunca são de cimento, e deixava-os mergulhar num esquecimento que podia durar uma vida.
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A beleza é que não passa nem entristece. Como o desejo, o melindre é morte, como o orgulho.
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Há uma estupidez qualquer que cometeu a estupidez de não deixar uma felicidade acontecer, mesmo que não tivesse de acontecer. Ou que teve a intuição de deixar morrer o não-gerado.

Control + Alt + Delete

Não sei se os programadores informáticos são pessoas muito inteligentes ou se apenas pessoas que fazem coisas que tão estúpidas parecem inteligentes.
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Quase tipo gato, mas em estúpido.

Aviso

Acerca das verdades do Verão, dos amores, escaldões e nostalgias. Acerca da praia, do sal e da água vagamente fria ou vagamente quente. Acerca do tempo sem tempo. Acerca do ócio. Acerca do Sol. Acerca dos amores estivais. Acerca do marisco e dos vinhos leves. Acerca da ausência de tédio. Acerca dos telefones e telefonemas esquecidos. Acerca da vida que não acontece nos outros momentos da vida...
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Tenho a dizer:
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Cuidado com as alforrecas... algumas andam a voar...

Veritas

































A verdade é um local estranho.
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Digo local, porque sendo sempre quem somos, nem sempre estamos.
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Podendo estar, nem se está, se noutro poiso tivermos o sentir.
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A verdade, de quem? E que honestidade?
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Seja de Deus ou da ciência ou da ciência de Deus ou do deus da ciência, nunca é exacta, sendo-o sempre.
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Chamemos-lhes erro de paralaxe, juízo em causa própria, egocentrismo, presunção.
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O que me melindra é não me verem a importância que julgo ter.
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O que me comove é ver a grandeza dos que não a sabem.
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O que me faz mosquito é reconhecer a grandeza dos que não dizem.
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Uma vida dura uma medida exacta, de minutos precisos em tempo variável.
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A verdade, numa crua bondade, não comove, faz-se esperar.
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Se amo, acredito. Se amo, duvido.

quarta-feira, agosto 14, 2013

Herdade da Bombeira 2009





















Dos dois milhões de critérios e conjugações de alíneas, momentos e contingências para escolher um vinho... escolhi este (não esta colheita) por causa dum serzinho de quatro anos, dos quais com 4.000 de ternura.
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Corria o ano de 2005 e namorava eu uma moça (a G) que tinha uma filha linda (linda mesmo) e muito doce (docíssima). A P era uma paixão de se cair para o lado. Para se ter uma melhor ideia da P... coisa dum ano depois, estava eu com uma nova namorada, a V, e cruzei-me com a G e sua filha. Encontro que não foi longo, mas que deu para V, muito habituada a lidar com crianças, entender e afirmar:

 – Como é possível alguém não se apaixonar por esta miúda?
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Tranquilos! Sossegados! Não houve sangue! Tudo bem! Tudo bem!
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Voltando a 2005... a P é a «mãe» da minha gata Paraquedas. Gata que já se chamava Paraquedas antes de ela a ver, e que foi tida na ninhada da gata do meu irmão – a par da Amiguinha, cuja narrativa é excessiva para aqui. A Paraquedas que é irmã, embora doutra ninhada, da Granita e da Lioz, 11 meses mais velhas. Por enredos dispensáveis ao tema, a Paraquedas acabou minha e, visto a forma como ficou, pode dizer-se que caiu de paraquedas em minha casa.
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Uma vez mais, voltando a 2005 e à P... a miúda dizia querer ser bombeira. Ok, por que não? Há os que querem ser astronautas... outros médicos... professores... eu queria ser calceteiro. Como também quis ser bombeiro, razão pela qual o meu pai foi cravar, e conseguiu, um capacete... achei absolutamente compreensível que a P também quisesse ser bombeira.
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Uma tarde, passeava eu sem rumo (mais ou menos), olhei para a montra duma loja em Campo de Ourique... ok, a Garrafeira Campo de Ourique, dos meus amigos... e estava uma garrafa de Herdade da Bombeira.
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Todos já comprámos coisas só porque combinam com qualquer coisa, independentemente de terem um sentido com sentido: uma gravata azul branca para oferecer a um fanático do Benfica, após perder o campeonato para o Porto; um porta-chaves do café «O Careca» ao amigo calvo; um busto de Lenine para um anti-comunista universitário; uma edição do jornal Avante do dia do nascimento daquele cromo que teima em ser fascista... um disco do David Bowie a alguém que nasceu no mesmo dia, ainda que não aprecie a sua música (eu – as duas coisas)...
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Pois! Herdade da Bombeira prestou-se mesmo para um jantar com a G e sua partenaire. Assim foi. Correu bem... e o vinho esteve mesmo bem... sem qualquer avaliação subjectiva. Tratou-se da edição de 2004, à qual atribuí a nota claramente positiva de 4,5.
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Para ser sincero, não me lembro do vinho. Lembro-me da miúda e da sua fantasia profissional. Lembro-me da mãe da catraia, que é pessoa de quem só posso dizer bem. Lembro-me do momento... do vinho, não.
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Por todas as notas atrás referidas, Herdade da Bombeira não mais me sairá da memória, a menos que uma doença degenerativa me corroa os miolos. Se todas as avaliações são subjectivas, e as expressas neste blogue são-no o «mais possível»; e nunca este vinho terá uma menção negativa.
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Ok, se fosse vinagre... e do mau, não o elogiaria. Não é o caso. Acresce que o vinho é bom, agora refiro-me à vindima em causa, embora tenha tido sempre ecos muito favoráveis doutras vintage. Mas bebidos por mim, só 2004 e 2009.
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Justificar uma nota? Para mim, tal é sempre subjectivo; tenha copos pretos, temperaturas ajustadas, sejam as garrafas escondidas. Tudo depende de muita coisa. Este blogue não é feito mais do que impressões pessoais, falíveis, com erros de paralaxe, de miopia, de hipermetropia... é sincero e honesto. E sinceramente, apesar de tudo o que adiantei, este é um belo vinho.
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Sendo tudo subjectivo e assumindo isso no ADN deste blogue, qualquer análise vai forçosamente errar na justiça, seja por excesso, seja por defeito, via complexo emocional tentado reparar...  já perceberam. Porém, não falha na verdade, na do seu autor. Represento-me a mim e só a mim. Tenho a presunção de ter alguma coisa a contar; e o que quero é «contar histórias, estórias», não definir padrões ou ditar sentenças.
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Faço, tento, o exercício da imparcialidade... não consigo. E neste vinho, não consigo mesmo. Tenho distanciamento para dizer que é um vinho de qualidade. Direi o que me vai na alma: muito bom!
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A história é esta! Quanto à adjectivação, cada um leia como quiser.
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Factual: a herdade fica no concelho de Mértola, na margem direita do Guadiana. As castas que compõem o lote são: trincadeira, cabernet sauvignon, syrah e alicante bouschet.
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Finalmente: se já o disse e escrevi bastas vezes, embora frequentemente ceda ao protocolo, os descritores não me interessam nada e, na verdade, não indicam nada, a menos que apontem defeitos. Tendo isto em consideração e mais ao que disse, não vou perfilar narizes nem paladares.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Bombeira do Guadiana
Nota: 6/10

segunda-feira, agosto 12, 2013

Mãe-galinha





















Quem se deita com meninos, acorda molhado. Quem adormece meninos, acorda adormecido.

Mantra – Manifesto de protesto contra Portugal, o mundo e a espécie humana, em verso branco banal e indignado

Om. Om. Om.Oooooooom.
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Acho que este não é o mantra.
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Hokus pokus, abracadabra!
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Esta não é a magia.
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Viva o comunismo!
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Não é a ideologia.
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Com a verdade não vi.
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Na poeira, na cinza e no escuro também não.
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Nem as águas do Ganges nem as do Jordão.
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Em Cristo encontro a lógica, falta-me a fé.
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De que serve a luz aos olhos fechados.
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Dias felizes houve alguns.
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Afectos, amigos, amores.
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Apaixonei-me e sofri sem contas.
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Já perdi amores e chorei cem rosários.
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Acredito na vida eterna e quero a morte.
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O vinho não acalma e droga não apeteceu.
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Não gosto de ler, gosto de livros.
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Quase não oiço música e não vou ao cinema.
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A comida, porque tem de ser. Ter de ser também cansa.
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Deixo o que tenho para fazer, como se abandonasse a vida.
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Não quero saber nem pensar no que vão pensar por pensar assim.
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Pela manhã penso na vida.
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À tarde desisto de pensar.
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Penso à noite que não quero voltar a pensar na vida.
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Durmo numa loucura mal dormida, quando o pensamento se chama sonho e o sonho é um pesadelo.
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É de manhã quando penso na vida.
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Porque de manhã há uma ideia vaga de esperança.
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Um dia e outro e outro e outro e sempre outro e outro.
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Daqui a nada é Natal e ainda não fui à praia.
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No ano passado não fui à praia.
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No ano anterior também não.
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Gosto tanto de praia, mais do que teatro.
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Não vou nem a uma nem ao outro.
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Não tenho dinheiro e sem dinheiro custa-me sair de casa.
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O que vão pensar se virem o meu extracto bancário?
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Em que devo gastar os cinco euros que me restam.
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Quase não nada para vestir e bem me fazia comprar qualquer coisa, mas não gosto de fazer compras.
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Não tenho dinheiro.
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Andar a pé faz bem.
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Não me apetece.
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Faz bem.
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Não quero ir a nenhum lado.
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Faz bem.
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Mas não quero.
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Exercício físico.
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Não posso comer isso. Não posso beber tanto. Pago a renda. Pago o IVA. Pago a Segurança Social. Pago os remédios e pago ao médico.
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Os papás dão dinheiro.
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Não chega.
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Sou menino dos papás.
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As primas emprestam.
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Não sei como nem quando pagar.
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Vou a casa dos pais, não quero.
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Tenho merdices para resolver.
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Deixo pra depois.
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Não quero.
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Dizem-me: Não deixes tudo para o fim...
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Não quero saber.
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Trabalho.
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Pagam pouco.
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Um pirolito no Tejo?
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Está despoluído, não serve.
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Tomar comprimidos, não porque são remédio.
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Pistola não tenho.
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As pontes não servem, tinha de ir de carro e o carro está sem ar condicionado e já bebi uma cerveja, pelo que se a polícia me apanha ainda me tira a carta e tenho de pagar uma multa ou dormir na esquadra para amanhã ser levado a um juiz.
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Cortar os pulsos ia sujar o chão e alguém teria de limpar. Não quero dar trabalho.
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Morrer é uma fatalidade. Morrer é um aborrecimento.
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Morrer deixa saudades. Morrer leva saudades.
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Morrer é uma banalidade.
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Mesmo quando escolhemos morrer somos banais.
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Tanta gente se matou e o fez de tantas formas.
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O suicídio é uma banalidade.
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Morrer é a banalidade seguinte à vida, que seguiu a banalidade de nascer.
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Reencarnar é outra banalidade.
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A banalidade é um tédio.
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É impressionante constatar na quantidade de gente que se sente especial. Já pra não falar dos que se julgam fenomenal ou fantástico ou simpática ou divinal ou com bom gosto.
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O Inferno deve ser um sítio bestial. Uma surpresa, ainda que banal, para a multidão de gente banal que se pensa especial.
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Ao pé de mim há uma casa que vende frangos para fora. São uma porcaria.
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Será que alguém já o disse aos donos da frangaria?
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Sei é que as pessoas lá vão.
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Isto é abaixo de medíocre.
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Outro exemplo: na minha rua há uma tasca pestilenta. Nem vinte barrelas tirariam o cheiro nauseabundo a pescada frita daquele antro. Esse e outros cheiros. Estão todos misturados.
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Está sempre cheia, a casa.
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É alarmante para quem ainda possa ter alguma consideração pela espécie humana.
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Ah! É popular. É para gente pobre, dirão alguns, entre a bonomia e o snobismo.
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Então, os pobres e os encalhados têm de comer mal e malcheiroso, com falta de higiene?
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A inspecção não vê? Pra quê?
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Tem clientela, a imundice.
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Nada pior do que gostar do mau. Até isso é banal.
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Nasci pra ser rico. Os outros também.
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Querer ser-se rico é tão banal que até os ricos o querem ser.
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Chateia-me a minha existência banal.
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Tendo em vista a situação económica, diria que sobreviver nestas condições é extraordinário.
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Não é. É banal. O país e o mundo estão cheios de pobres, miseráveis e inimputáveis que vivem com bastante menos do que eu.
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A culpa é dos políticos. Só lá estão pra se encherem.
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Encherem de quê? De insultos. Pobres as senhoras, suas mães.
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Ganham muito? Não ganham.
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Fazem pouco e mesmo assim ganham pouco.
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Estão lá é pra fazer pela vidinha deles.
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Pois estão. Como todos fazemos pelas nossas.
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Não digo que todos fizéssemos como alguns fazem aquilo que muitos acusam de fazerem.
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Todos fazemos pela vida. E quantos chulos, oportunistas, corruptos, corruptores anónimos andam por aí? Quantos filhos-da-puta há fora da política? Já não contando com os que querem entrar e nos que já saíram.
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Não sei se o país merece o povo que tem ou se o povo tem o país que merece.
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Temos o país que temos. Temos o povo que temos. Temos os políticos que merecemos.
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Os políticos são todos iguais!
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Não são. Há os do tacho que mal disfarçam e os do tacho com olhos meiguinhos. Há os que querem o tacho e de vez em quando se afiambram a um cargo. Há os democratas de ideologia que não o é nem pode ser. Há os bem-pensantes preocupados com o povo, mas que mal disfarçam a impressão que lhes faz quem não sabe comer de faca e garfo, não tem cultura nem provou trufas, caviar e Champanhe Cristal.
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Há os fascistas, os nostálgicos, os tacanhos, os matarruanos e mais uns tantos, que se dividem em filhos-da-puta e pobres de espírito.
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É o que temos. Há que encolher os braços e aceitar as coisas com a normalidade que a democracia exige.
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Há que aceitar com normalidade a banalidade.
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Este país, que todos os portugueses dizem ser fantástico numa série de coisas, que não devem passar de cinco, aplaude a alarvidade dum pseudo-humorista que só diz caralhadas e bate palmas a qualquer merdice que lhe ponham à frente, num palco, numa televisão ou numa rádio, desde que seja de graça. Porém, às vezes também paga para ser encornado.
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Este país, coisa que mais ou menos sempre fez, aplaude medíocres e deixou morrer à fome o Camões, o Pessoa ou o Pacheco.
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Este país não lê nem jornais nem livros. Eu também não. Sou tão medíocre e banal como qualquer um, o que me chateia.
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Não se pensa, mas diz-se o que se pensa. Pensa-se mal. Diz-se mal. Fala-se mal. Escreve-se mal.
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A culpa é dos professores. Se a culpa fosse dos professores eles não escreveriam mal nem diriam mal nem pensariam mal.
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A mediocridade, a merda do banal, é transversal.
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Interviram. A gente fazemos. Melhor não é mais bem. O conjunto dos portugueses não pensam. Porque é o mesmo que por que.
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Merda! Merda mais aos rodapés das notícias da televisão!
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Os professores não sabem ensinar. Os jornalistas e tradutores não sabem escrever. Os paizinhos querem é boas notas. Os governos gostam de números bonitos nas estatísticas.
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E o dicionário da academia que se esqueceu de palavras camonianas... e um jogo de língua portuguesa, editado por reputada editora especializada, que tem erros de português. Tão medíocre como quem ouvê os acordeões na têvê.
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Tão banal como se ser assaltado na Zona J de Chelas, por mitras de boné de beisebol voltados para trás e calças a caírem pelo cu e a mostrarem o rego.
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Essas, a da língua portuguesa e a dos meliantes, não fazem a vida.
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Explicam-na. Entre a elite bronca e a populaça bimba só pode haver um intermédio medíocre. Banal.
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E a vida? Pá, que se lixe. É tudo normal!
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Há as excepções, aqueles que protestam na rua, em manifestos, na internet, em blogues, no Facebook... que se ornamentam com ilustrações dum assassino, que se hoje descesse à Terra se iria arrepiar com o culto da personalidade que lhe prestam e com o uso comercial do seu nome e imagem; que usam ténis de marcas que exploram os trabalhadores; que se vestem com roupas fabricadas por operários mal pagos; que usam ferramentas da modernidade desenvolvidas pelo capitalismo; que se deslocam de avião, porque hoje é barato, porque alguns capitalistas perceberam que podiam ganhar muito dinheiro a transportar pessoas a custos reduzidos, às custas duma série de gente, directa ou indirectamente. Esses que protestam, alguns de forma quase profissional – que tantas vezes usam uma (banal) máscara sinistra de sorriso sinistro dum branco sinistro realçado pelo preto sinistro, produzidas num modo sinistramente capitalista num país sinistramente comunista – são solução para alguma coisa?
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Querer que tudo mude é crer que nada ficará igual. Querer que tudo mude acaba ficando tudo igual.
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Os portugueses não lêem jornais. Porque dá trabalho e sai caro. Não pagam para ler na internet, porque há-de haver sempre um meio de saber as coisas de borla, mesmo que não seja bem assim.
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Eu também. Tão medíocre e banal como o gajo da tasca que cheira mal.
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Os portugueses só sabem o que ouvêem na televisão. Os portugueses só prestam atenção à televisão.
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A televisão mostra-lhes o que querem ver.
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Devia ser diferente? Educar o povo? Com que direito?
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Bardamerda mais aos purismos bacocos de virgens impolutas (até a expressão é banal). Porque o importante é ter audiências, fazer subir o investimento publicitário e dar maior rendimento ao accionista. Melhores salários nem despedindo os inevitáveis, o que sempre garante mais uns cobres; e cinco podem fazer a vez de vinte, e se lhes amarrarem uma vassoura à cintura ainda varrem as instalações quando se deslocam ou abanam na cadeira.
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Querer ganhar dinheiro é banal. Ganhar dinheiro até é banal. Ganhar muito dinheiro é que não é banal. Vender a alma por meia dúzia de trocos é banal. Negá-lo é estupidez.
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Perguntarão: tens inveja dos que têm emprego?
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Tenho pena de não ter emprego. Querer ter um emprego é banal. Desenrascar-se sozinho é banal.
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Dirão: mas tu não tinhas um texto para escrever, daqueles que dão a vida a ganhar?
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Primeiro: só tenho vida para perder.
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Segundo: como não tenho patrão, só assim posso fazer greve.
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Terceiro: Não me apetece.
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E quarto: Já experimentei outros mantras, mas nenhum resultou.