digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, fevereiro 27, 2011

Basta querer para se ter uma satisfaçãozinha





















Já fiz e não custa nada. A coragem é maior do que um segundo, mas dura menos do que um instante. Depois de o corpo sair ficará a marca, prensada na memória e na fantasia, de quem viu ou soube. Que palavras poderão ser ditas? Coitado. Teve um dia difícil. A mulher com o outro. Andava a beber. Tinha dívidas de jogo. Uma doença incurável. Perdeu um filho. Desde então que não andava bem. Nada disso, só o prazer de sair daqui.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Jardim, com pássaros, abelhas e gatos

Jardim, rosas multicores e amoras. O chão de ervas muito verdes, uma fonte, um lago e um ribeiro que vai para caudal maior, já fora da vista. Sombra de folhosas e ciprestes como torres de vigia.
.
No topo, ervas de cheiro e abelhas, mansas e laboriosas. Melros, pardais e outros, anónimos, por toda a parte. Ao sol e à sombra. Ao vento e no abafo. Na chuva ou na temperança. Todas as estações, todos os dias. Lua cheia, lua nova, lua metade.
.
Flores? Margaridas. Fruta? De polpa branca, peras doces e maçãs de frescura verdácea. Abelhas entretidas nas sobras trincadas, caídas, pousadas e descuidadas, enquanto a preguiça manda. Uma manta no chão, por causa da roupa, e outra por cima, porque, dizem, nos constipamos quando deitados ao relento.
.
Ramalhete de perfumes e gatos. Daquele lado cebolas. Não, rosas. Dizem, entretanto, que são ranúnculos, flor rara e rara também nas aparições. Ali, mesmo ao lado do canteiro dos morangos.
.
Por toda a parte, espalhadas, tulipas, açucenas, mimosas, lírios, violetas e jasmins. Alegria das abelhas. Limoeiros e laranjeiras. Figueiras e romaneiras. Sombras e delírios. Pássaros e gatos, e outros que tenho preguiça de enumerar.
.
O ribeiro e os pássaros. O silêncio dos gatos. O vento e as sombras. A preguiça. Um dia todo. Um entardecer com rosado e uma ceia de figos secos, tâmaras melosas e Vinho do Porto Tawnie com anos.
.
Pode ser Verão. Com toda esta preguiça só não é Primavera. Com todos os aromas só não é Outono. Com este calor suave só não é Inverno. Pode ser Verão, mas tão ameno… não pode ser. É lua cheia, ainda de dia. É céu estrelado na lua nova.
.
À noite só gatos e fantasmas. Flores, jasmim e violetas. Sei lá, tanta coisa. Demasiadas para quem se delicia com tudo, além do Vinho do Porto idoso.
.
Amanhã será mais um dia no jardim. Ao acordar, tapado e fora da manta. Apetite de sumo de laranja. Aroma de pão quente e chá verde. Framboesas e mirtilos. Como se tivesse feito amor toda a noite. De certeza.
.
.
.
Nota: À amiga AA, que também é musa e até tem um número, que nunca sei de cor.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Pânico

O coração aos sustos e a cabeça florida de fúnebre. Sem vida nem descanso, entre mortes. O querer viver, às vezes, é um querer de morte. Não me recordo nem acordo. Alguma vez me terei perdido num jardim de buchos, fugindo e caçando risinhos de êxtase virginal de mocinhas. Não veio noite nem companhia, todas fugiram para onde não as oiço. Perdido e desistido, desesperado por viver ou morrer. Ficando entre mortes. Sempre o mesmo nome, que ninguém chama nem responderia. Os dedos frenéticos, como se desejassem um cigarro, fumável que a boca recusa. O coração aos sustos, desejoso que algo consuma o que está dentro da cabeça. Será que vale a pena? Será que vale a pena sem interrogação no final. Entre mortes.