digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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segunda-feira, outubro 16, 2017

Margem

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– Permita-me, a pergunta…
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– …
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– O senhor quem é?
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– Está em minha casa e não sabe quem sou?
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– O que tem dentro que lhe ilumina com escuro.
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– É uma pergunta ou uma afirmação ou uma constatação?
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– É uma pergunta.
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– Não a entendo como tal.
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– Diga-me, então… Diga-me quem é, por favor.
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– Quer que lhe responda… quem sou ou o que sou?
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– Sim… parece estranho, mas é isso. Ser e ser nem sempre são o mesmo verbo.
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– Quem sou. Sou o dono desta casa.
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Quem sou. Sou esta casa.
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– Somos sempre… a soma.
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– Somos, somos e parecemos.
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– Isso importa?
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– Tem dias.
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– Uma confortável situação financeira não significará felicidade, mas certamente ajuda.
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– O que é a felicidade?
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É a liberdade?
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O que é a liberdade? É ter tudo ou não possuir nada?
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– Será as duas coisas, em proporções variáveis, conforme quem avalia.
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– Pouco me importa. Nesta questão, pouco me importam os outros. Em mim, sou absoluto. Até na dor, na solidão, na ánima. Dias e noites são diferentes, em tudo. Absolutamente tudo.
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– É livre?
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– Nunca o poderei ser.
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– Porquê?
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– Por causa da dor. Tenho dias em que tudo importa. Noutros, nada faz sentido.
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– A euforia e o túnel.
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– Não sofro de euforia. Que trabalho mais seria.
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– Nunca é feliz?
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– A euforia não é alegria. Como o silêncio não é tristeza.
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– Não sei se entendo.
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– Quase toda a gente não entende.
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Conhece a linguagem das cores?
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– As cores da agitação, da alegria, do desassossego… é isso?
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– Não. Isso está entre o místico e o óbvio.
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– …
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– Pense numa palavra. Deixe-a abrir e soltar-se. Quando a tiver diante de si, observe-lhe a cor.
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– Não sei se conseguirei.
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Aliás, não entendo.
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Não entendo nem como podem as palavras ter cor nem como podem as palavras ter uma cor universal.
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– E tem a certeza que a sua matiz – quando olha para uma folha ou para outra coisa qualquer – é igual à dos outros?
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– Não é?
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– Creio que não. Convictamente, nem me parece lógico.
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– A cor é substantivo.
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– Engana-se! A cor é também adjectivo.
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– Compreendo…
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– Se as opiniões – acerca de qualquer coisa – nunca são as mesmas, de pessoa para pessoa, por que haveria a cor ser unânime?
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– Entendo. Somos mais sensíveis a um tom e não a outro… tenho de admitir que será com tudo o que percepcionamos. Todos os sentidos…
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– Não apenas os sentidos nem apenas as divergências por situação.
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Uma casa não é a mesma para si e para mim. Corrijo, uma casa, em concreto, não é igual para si e para mim.
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– Não faz sentido. Isso não faz. É uma coisa.
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– Não. Não sabe o que é o tempo?
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Note… as margens do rio são de circunstância. Nenhum momento se repete completamente.
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– A água passa ou não volta a passar sob a mesma ponte.
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– Um pouco mais do que isso. Mesmo que pudesse ou possa, o tempo de passar, a conjugação de todas as coisas não pode ser a mesma.
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– Todas as regras têm excepção. Haverá, com certeza, uma probabilidade matemática para…
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– Para nada. O que não se sabe pode existir? Sim ou não. Não sei. Por isso, a probabilidade matemática está fora desta equação.
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– Compreendo, mas não concordo.
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– Ouvi dizer que até mesmo não haver regra sem excepção é falso. Ouvi, não sei, que há uma regra matemática que não tem excepção.
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– Desconheço.
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Certamente sabe que não se apurou a raiz quadrada de dois. Mas sabe-se que terá de existir.
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– Estaremos cá para saber essa resolução. Aliás, seremos cá para saber essa resolução.
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Não são interrogações. São afirmações, exclamações.
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A humanidade pode extinguir-se antes de tal ser encontrado.
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– Como os dinossáurios.
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– Sabemos que existiram, mas especulamos acerca da sua inteligência. Nem se sabe – pelo menos em alguns casos – como se deslocavam. Volta e meia descobrem que há ossos que estavam noutro sítio do esqueleto estavam num outro lugar.
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– As conversas devem ter um tema. Já viájamos para fora de pé e não me respondeu quem é.
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– As conversas devem ser de liberdade.
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Quanto a quem sou… descubra no que lhe disse. Se prestou atenção ao que lhe disse e se tiver memória.
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– …
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– …
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– Talvez não importe.
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– Sou contradição e diversidade. Sou constantemente inconstante. Sou a casa.
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– A casa…
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– A sua casa é diferente da dos outros.
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– Se a dividir com alguém, não.
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– Faltou-lhe atenção ou memória… As margens são inconstantes.
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– Não sei se é friamente racional ou se escaldadamente pueril…
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– Tenho um medo irracional de louva-a-deus.
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– …
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– …
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– O bicho nem lhe pode fazer mal. Pode esmaga-lo facilmente.
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– Não lhe disse que é um medo irracional?
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– Respondeu-me … é irracional.
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– Não. Sou eu. Às vezes frio e noutras precipitado.
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– …
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– Entende?

domingo, julho 16, 2006

Nova paixão

Acho que estou apaixonado! Foi hoje! Foi esta noite! Não me saem da cabeça: Aqueles ollhos, aquele jeito, aquela voz, aquelas mentiras!... Aqueles ollhos, aquele jeito, aquela voz, aquelas mentiras!... Aqueles ollhos, aquele jeito, aquela voz, aquelas mentiras!...
Este calor!
Este calor!
Acho que estou apaixonado!
Aqueles ollhos, aquele jeito, aquela voz, aquelas mentiras!...