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– Permita-me, a pergunta…
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– …
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– O senhor quem é?
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– Está em minha casa e não sabe quem sou?
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– O que tem dentro que lhe ilumina com escuro.
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– É uma pergunta ou uma afirmação ou uma constatação?
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– É uma pergunta.
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– Não a entendo como tal.
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– Diga-me, então… Diga-me quem é, por favor.
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– Quer que lhe responda… quem sou ou o que sou?
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– Sim… parece estranho, mas é isso. Ser e ser nem sempre são
o mesmo verbo.
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– Quem sou. Sou o dono desta casa.
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Quem sou. Sou esta casa.
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– Somos sempre… a soma.
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– Somos, somos e parecemos.
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– Isso importa?
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– Tem dias.
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– Uma confortável situação financeira não significará
felicidade, mas certamente ajuda.
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– O que é a felicidade?
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É a liberdade?
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O que é a liberdade? É ter tudo ou não possuir nada?
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– Será as duas coisas, em proporções variáveis, conforme
quem avalia.
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– Pouco me importa. Nesta questão, pouco me importam os
outros. Em mim, sou absoluto. Até na dor, na solidão, na ánima. Dias e noites
são diferentes, em tudo. Absolutamente tudo.
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– É livre?
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– Nunca o poderei ser.
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– Porquê?
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– Por causa da dor. Tenho dias em que tudo importa. Noutros,
nada faz sentido.
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– A euforia e o túnel.
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– Não sofro de euforia. Que trabalho mais seria.
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– Nunca é feliz?
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– A euforia não é alegria. Como o silêncio não é tristeza.
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– Não sei se entendo.
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– Quase toda a gente não entende.
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Conhece a linguagem das cores?
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– As cores da agitação, da alegria, do desassossego… é isso?
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– Não. Isso está entre o místico e o óbvio.
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– …
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– Pense numa palavra. Deixe-a abrir e soltar-se. Quando a
tiver diante de si, observe-lhe a cor.
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– Não sei se conseguirei.
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Aliás, não entendo.
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Não entendo nem como podem as palavras ter cor nem como
podem as palavras ter uma cor universal.
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– E tem a certeza que a sua matiz – quando olha para uma
folha ou para outra coisa qualquer – é igual à dos outros?
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– Não é?
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– Creio que não. Convictamente, nem me parece lógico.
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– A cor é substantivo.
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– Engana-se! A cor é também adjectivo.
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– Compreendo…
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– Se as opiniões – acerca de qualquer coisa – nunca são as
mesmas, de pessoa para pessoa, por que haveria a cor ser unânime?
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– Entendo. Somos mais sensíveis a um tom e não a outro…
tenho de admitir que será com tudo o que percepcionamos. Todos os sentidos…
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– Não apenas os sentidos nem apenas as divergências por
situação.
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Uma casa não é a mesma para si e para mim. Corrijo, uma
casa, em concreto, não é igual para si e para mim.
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– Não faz sentido. Isso não faz. É uma coisa.
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– Não. Não sabe o que é o tempo?
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Note… as margens do rio são de circunstância. Nenhum momento
se repete completamente.
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– A água passa ou não volta a passar sob a mesma ponte.
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– Um pouco mais do que isso. Mesmo que pudesse ou possa, o
tempo de passar, a conjugação de todas as coisas não pode ser a mesma.
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– Todas as regras têm excepção. Haverá, com certeza, uma
probabilidade matemática para…
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– Para nada. O que não se sabe pode existir? Sim ou não. Não
sei. Por isso, a probabilidade matemática está fora desta equação.
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– Compreendo, mas não concordo.
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– Ouvi dizer que até mesmo não haver regra sem excepção é
falso. Ouvi, não sei, que há uma regra matemática que não tem excepção.
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– Desconheço.
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Certamente sabe que não se apurou a raiz quadrada de dois.
Mas sabe-se que terá de existir.
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– Estaremos cá para saber essa resolução. Aliás, seremos cá
para saber essa resolução.
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Não são interrogações. São afirmações, exclamações.
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Não são interrogações. São afirmações, exclamações.
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A humanidade pode extinguir-se antes de tal ser encontrado.
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– Como os dinossáurios.
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– Sabemos que existiram, mas especulamos acerca da sua
inteligência. Nem se sabe – pelo menos em alguns casos – como se deslocavam.
Volta e meia descobrem que há ossos que estavam noutro sítio do esqueleto estavam num outro lugar.
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– As conversas devem ter um tema. Já viájamos para fora de pé
e não me respondeu quem é.
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– As conversas devem ser de liberdade.
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Quanto a quem sou… descubra no que lhe disse. Se prestou
atenção ao que lhe disse e se tiver memória.
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– …
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– …
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– Talvez não importe.
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– Sou contradição e diversidade. Sou constantemente inconstante.
Sou a casa.
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– A casa…
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– A sua casa é diferente da dos outros.
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– Se a dividir com alguém, não.
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– Faltou-lhe atenção ou memória… As margens são
inconstantes.
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– Não sei se é friamente racional ou se escaldadamente
pueril…
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– Tenho um medo irracional de louva-a-deus.
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– …
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– …
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– O bicho nem lhe pode fazer mal. Pode esmaga-lo facilmente.
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– Não lhe disse que é um medo irracional?
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– Respondeu-me … é irracional.
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– Não. Sou eu. Às vezes frio e noutras precipitado.
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– …
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– Entende?
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