digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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quinta-feira, agosto 21, 2025

Um dia um pintainho

 

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A dor faz parte da vida, mas dispensa-se.

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Nem sempre a lógica tem sentido, mas não há causa sem resultado nem retorno sem partida.

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Desilusão é verter sangue rubríssimo e fechar a alegria no luto.

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Um dia um pintainho pensou ser mais do que um tigre e mandar no mundo.

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Mostrou os seus dentes, eram todos caninos. Alargou a peitaça, rugiu e mandou e ai de.

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Na capoeira mordeu todos os bichos, aleijando sem excepções.

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O tempo manda e a vida obedece-lhe. Um dia outro bicho o irá morder.

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Irá descobrir que as galinhas não têm dentes e que um pintainho não é um tigre, muito menos só com caninos.

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As certezas são para serem quebradas, mas algumas são infinitas e eternas.

domingo, julho 27, 2025

Onde pertenço não é aqui

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Passei, desejando passar, enganado passei, querendo ir, tendo passado, julgando o caminho certo, crendo ser no caminho, é passado, agora passo, andando sempre sem ver, olhando parado, retomando o passo, virando, revirando-me e continuando na direcção para onde dizem os pés e, como sempre, não o tino, que não é mais atinado, vou desperto como dormindo desejando o pedestal, crédulo num sonho da infância, mas não alcançarei mais do que a lápide das datas, avisa-me o senso-sincero-insensível, mago do desânimo, conselheiro ignorado, se não for para ser cinza.

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Entardecendo vejo o futuro. Agora querendo aqueles anos de tintura e película, da sala do cinema, do cheiro do teatro, quando comia as letras como se fosse traça, sei dos equívocos e os meus pés estão moídos.

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Aqueles dias, somente novos, os outros arderam como a folha listada onde se começou um poema desinspirado, quase plagiado, de amor ou melancolia.

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Onde errei e quantas vezes, pergunto-me sem interrogação.

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Desejar o regresso é caminhar numa rotunda de becos sem saída e sentidos proibidos, relógio sem ponteiros, conduzindo à inglesa.

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Nem saudade nem nostalgia, valha-me a graça de não ser de tais interesses. Nem imagino se. Porém.

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Não peço o regresso, mas a seta certeira e a quantidade de metros para chegar. Pergunto-me e é a cabeça quem responde.

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– Por que errei?

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– Porque tenho os pés mais feios do mundo.

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Olhando-me ao espelho percebo que estou quebrado e leio-percebo-constato as décadas de azar.

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As vitórias foram derrotas. Não sei se me impuseram à verdade ou se a mentira iludiu por mim. Tinha tanto brilho e ouro.

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Abro a mesa e liberto uma toalha de algodão, vincada pelas dobras da guarda prolongada, baixo as janelas, acalmo a luz com uma vela, jogo as setenta-e-oito cartas e pergunto-lhes e não leio o que entendo.

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Acaricio a bola dos meus estilhaços, a minha esfera só se transcende com o passado, ansioso leio as borras do chá na caneca e decifro os resíduos do café na chávena – as tais rugas e sulcos do pano naftalino, irregularidades de encantar, não desviam previsões nem calam engodos.

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Não me assusto com fantasmas, ilumino-os com preces, explico o momento e indico o caminho. Contudo.

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Não comigo. Alvoroço-me, sou fantasma de mim, não me desencosto com pau de incenso aceso, malva queimada, cânfora no bolso da camisa e velas na capela. Tanto quanto creolina e lixívia.

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Se há labirinto sem saída, é. Não tenho portas abertas e janelas fechadas nem o contrário, em negrum só paredes-cantos e ar sem luz.

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Como sempre, a cabeça responde à cabeça, porque sabe a verdade, da ilusão ao desgosto, assim acredita ou diz que.

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– Onde errei?

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– Em quase tudo.

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Por que quero conhecer o futuro quando sei o passado, se a minha curiosidade não tem apetite.

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Tenho-me em excesso e ainda me sobram erros e ilusões, doenças crónicas.

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Tão desviado que caído, por tão caído desviei-me, tão enganado que tão derrotado, tão derrotado que caído, constato a minha derrota no sucesso dos imerecedores. Lambo as lágrimas da inveja e do desrespeito que me dão sobradamente, tantas que.

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Pés tão feios só vão erradamente – diz a cabeça.

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Pés feios andam para o erro. Não há ajuda que ajude pés tão feios. 

segunda-feira, julho 30, 2018

Floresta de atrapalhação do dizer

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Por que amor é tão fácil de dizer e.
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Dito sentido.
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Não, não quero. Não quero glosas vizinhas do chão. O tédio vazio, circunstância costumada na vez da habitual maravilha. O amor alimenta-se. É faminto como o dragão e macio como uma cria.
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Não quero engravidar textos com palavras faladas como eco. Desejo as vitórias sobre os desânimos. Alcancemos os sorrisos, leve isso um instante ou até ao dia de passar. Por lá continuando esse amor como emergência.
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Ninguém diz como tu. A tua boca consegue tudo e tudo dá. Procuro ser quem. Dir-me-ás.
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Somos as liberdades das prisões consentidas e seremos as fugas do borralho do medo-grilhão.
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Sabes que vejo além e não constato – é o olho e a ferida. Contemplo só os dois.
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Só nós os dois testemunhámos em jura. A expressão da confiança e do devido. Não há privilégio no amor, nem graça. Primeiro-último: vontade-esforço e mercê-vitória.
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A querença é legítima, e as ilegítimas. Conquista sem razão é decadente, perdendo-se nos prazos da aceitação.
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Assim-lhes-seja. Dirão o mesmo, sem terem. Rabiando, bichas de próprio-equívoco-veneno.
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A tal estrela, de que te falei, está onde sempre. Épocas sem a vermos, por distracção e por rapina.
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Como roubar o que é nosso? Nunca se rapta o devido – digamos sina, pronunciemos carma, garantamos livre-arbítrio – e nada é coincidente-acaso. O nosso é nosso.
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Finalmente. Brilhou-me – por causa do castigo-remédio da vidência que carrego – para to poder dizer.
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A luz é e o seu odor é a mezinha chegada na especiaria, sacodindo esses agarrares ilegítimos.
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É a vitória.
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Mostrei-te o pontinho. Se vi antes – lá sabem – dividi, o nosso e a estrela cresceu e crescendo-cresceu. O nosso, é a glória.
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Sentiste-a viste-a e aceitaste-a, tudo o exigido sem imposição. Emancipação.
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Tantas estrelas. Uma é nossa.
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É difícil dizer do amor. Onde se está no patético e na vergonha e na timidez, do perder tempo.
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Quase fugi das glosas vizinhas do chão.
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O que disse? Mercadorias em frenético assombro de poesia. Ditos desenxabidos, cinzentos acerca do rubor do amor.
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Peço-te – porque me amas – não digas que me adoras. Afirma que me amas.
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Vejo-sinto mais luz no amor do que na admiração.

domingo, julho 22, 2018

Copas


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Não jogamos com o baralho todo!
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Apenas com as copas.
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Aliás, aqui todos somos diferentes.
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A Rainha é Flor de Luz, deslumbrante de bondura, isso de bondade e ternura, e de beleza.
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Não é segredo… A Rainha deixa-me de cabeça perdida…
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Depois há um Alguém Especial. Superlativo de tudo bom.
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Rimos mais do que um Jóquer em desvario!
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Nota: o Valete é um desenho de Salvador Dali.

segunda-feira, dezembro 26, 2016

Mil-imagens para escrever sensual

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As musas surgem e vão-se, de estado-matéria fugidio, no sólido sem tempo, estão para o feitiço incendiário, depois escorregando para água ou diluindo-se num esfumado.
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Os desgraçados apaixonam-se. Os outros fazem colecções de números ou outras coisas desconhecidas ou não gosto ou não gosto porque não sei.

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Há livros de esoterismo e do erotismo sabem os emotivos, ambos nas fantasias de crerem no futuro de as sentirem.
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Têm a boca perfeita e os olhos de malefício e sortilégio, as mãos de encantamento e libertação e o corpo de fazer amor. Falando dos lábios e do corpo, digo da vontade do sabor, o primeiro do saber.
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Sem exorcismo para o enguiço são indigentes os ficantes e desventurados os partintes. Por mal-olhado, bem-olhadas, tranquilas e desassossegadas, os infortunados vêem-nas nuas, como os marinheiros ouvem as sereias.
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Os enfeitiçados são da mesma substância, isso é segredo, e o coração esquece-se do que o cérebro se omitiu. Em fascínio libertam-se do encantamento, fugindo depois de transpirados os lençóis ou dos quartos nocturnos sem luar.
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Cada um por si, mas unidos invisíveis-intangíveis.
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Nota: Por incapacidade do Blooger, por limite de caracteres, ficam indicados, em baixo, os créditos autorais das imagens utilizadas.
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Desenho de Edouard Vuillard
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Desenho de William Woodward
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Fotografia de Seba Kurtis
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Técnica mista de Donald Sultan
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Escultura de Rona Pondick
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Pintura de Paul Neagu
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Pintura de Victor Vasarely
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Fotografia de Thomas Ruff
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Pintura de Marica Fasoli
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Pintura de Phillip Mark Anthony Thomas


sexta-feira, outubro 28, 2016

Elazul

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Pernas imperfeitamente imperfeitas, peito esculpido por Eros, olhos infalivelmente ternos, a boca de temperatura certa e dentro, onde dentro é dentro e íntimo, como nunca. Pensamento de luz.
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Liu Hong
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Irmãos Stenberg
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Edward Weston
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Stephanie Peek
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Barbara Cole

sábado, julho 16, 2016

Minotauro

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Que vida podes dar? Só ovo e semente. Acredites ou negues Deus, sozinho não tens sopro criativo. Sobre a morte também nada.
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Quanto vale uma vida humana se não a podes inventar? E se for formiga ou urso ou crocodilo ou tamboril ou colibri? Não revertes a morte.
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Dirás que matamos para comer. Direi que sacrificamos, porque nos cede vida.
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Ah, a morte! Morreremos, dirás. Possivelmente até te sentirás imortal.
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Ah, a morte! Fim de ciclo da vida ou duma vida.
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Feres, matas e amas. Leva-lo ao desconhecido, onde assustado pelas luzes, vozes e música.
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Em Espanha picam-no antes do massacre. Mas leva os cornos vivos. Dizes da sua morte honrosa. E se matar o homem?
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Em Portugal é rasgado a cavalo, porta para sofrimento a outro bicho. Tem os chifres fechados. Honra só os forcados, que se vestem de sangue, agarrando de corpo desarmado.
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Às vezes correndo desgovernado para divertimento. Às vezes preso a uma corda, sem a liberdade de quem goza. Às vezes iluminado com fogo preso nos chifres e queimando-se.
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Gostarias que te fizessem? Que não!
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Traje de luzes, dizem. Luz negra de negrume, sombria de dor.
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Ah! Que Deus proteja o bravo homem enfrentando a besta. Pode amar mais um filho do que outro? Acredites ou o negues, não tens sopro criativo. Sobre a morte também nada. Seja! O que for! Não podes! Não podes nada! Um dia morrerás!
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E se disseres que Deus protege o homem, porque homem é homem e tu és homem, e fez do toiro um inimigo? Quando te benzes pensas em Francisco de Assis? Tens-te como melhor santo.
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Se o toiro mata que se mate ainda a mãe. E se fosse contigo? E se fosse a tua mãe? Aquela que possivelmente chamas de santa. E se fossem os teus queridos filhos?
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Pode saltar-se sobre o dorso e desafiando as hastes. Como os minóicos. Mal menor.
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Pensa com coração e consciência. Na justiça e em Deus ou no tangível. Não tens sopro.
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Em branco imaculado, diz-me se não te sentes Minotauro.
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Podia citar as muitas notícias acerca da morte de um toureiro na arena. Daria sempre no mesmo. Uma basta. Fica a do sítio da TVI, de dia 11 de Julho de 2016.
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A progenitora do touro que colheu e matou um toureiro, na praça de touros de Teruel, em Espanha, foi abatida. É o que dita a tradição tauromáquica de Espanha. Esta decisão impulsionou os protestos por parte das associações dos direitos dos animais.
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Victor Barrio foi fatalmente atingido pelos cornos do touro, em frente a centenas de espectadores, incluindo a sua mulher. Este episódio ocorreu no sábado, na província espanhola de Aragão. Barrio tornou-se o primeiro toureiro deste século a ser morto durante uma tourada.
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O animal, chamado Lorenzo, atingiu o toureiro no peito, causando-lhe ferimentos fatais. O touro foi morto logo a seguir ao incidente, mas, agora, chegou a vez de Lorenza, a mãe, também ser abatida para se acabar com a linhagem familiar. Esta não foi uma decisão inédita, pois a tradição espanhola assim a dita: sempre que um touro mata um toureiro, o animal e a sua progenitora devem ser abatidos.
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Os activistas dos direitos dos animais demonstraram grande revolta pelo sucedido, referindo que o animal não deve «pagar» pela morte do toureiro. Muitos usaram o Twitter para mostrar o descontentamento, através da hashtag #SalvemosALorenza e, em poucos minutos, conseguiram o apoio de centenas de pessoas.
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Nota: Até há alguns anos frequentei praças de touros. Garanto que gostava, provavelmente gosto, de touradas. Um dia pensei na dor e se fosse comigo. Não me importa se gosto. A questão é moral. O prazer não pode alimentar-se de sofrimento involuntário. Não me importa se gosto, mas que alguém faça justiça e finde as touradas.
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quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Todos os sentidos – a perfeição

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O que vale a pena na vida. Digo dos olhos e ainda faltando à verdade – a verdade é absoluta.
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Podia dizer de música. Não há ofício tão benquisto, poucas legendas a caligrafia abandona.
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Pelos olhos se apaixona. Incontável maioria de esquecimento de contar o nome do operário
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Há juras de que não se sabe cheirar. Mais não do que de memória de nomes ou locais e momentos. Do seio ao orgasmo, sangue e ansiedade, por raiva da essência animal – adrenalina.
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O tacto é tudo.
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A boca é sagrada. Com ela se sela o casamento ou outro negócio. Quem sabe dos amargo, doce, salgado e ácido. Umami… O picante é exactamente o quê? A boca começa no nariz e termina no estômago.
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A cama: sono, sono-mimo, mimo, sexo, sono-sexo, orgasmo, pesadelo, pesadelo-erótico, heroísmo e pré-morte. Na cama: preocupação, paixão e outros sofreres, desejo e efabulação, orgasmo, amor, impenetração, fidelidade, adultério e conversas acabadas. Bendita é se na quebra não viver violência.
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Pelos olhos se apaixona. Que digo de minha injustiça?
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– O céu de Rubens, a luz de Rembrandt, um anjo de Leonardo e a terra de van Gogh.
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Ainda o azul.

domingo, outubro 04, 2015

Como morrer – As eleições de 4 de Outubro – Declaração política

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Para não me aborrecerem neste fastio, poupo amizades e quaisquer gritos, digo-lhes o que não querem ouvir ainda que não oiçam o que não querem verdadeiramente escutar. Minto como quem diz e desfaz, na sensatez da incoerência e na inversão das verdades, culpo todos e condescendo alguns. A condescendência política é um insulto grave e se não percebem ou se fingem como um orgasmo, numa noite de afinal-já-não-quero-e-não tentes-e-não-me-chateeis-porque-bebi-em-demasia-e estamos-os-dois-a-mais-na-cama, são tolos, na última fileira do hemiciclo onde só têm de bradar indecências, ou cínicos como todos, porque os políticos são sempre todos. Há sempre alguém repara e conta. Vomitei o resto da paixão que iludia, definitivamente estúpido. Sei fazer contas e o bucolismo fica nas traseiras dos saguões e os países só morrem quando um fim-do-mundo acontecer.
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Nota: Texto escrito a 9 de Novembro de 2015, colocado no dia eleitoral.

terça-feira, maio 12, 2015

O meu cão

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A escritura é incapaz de replicar a forma como digo cão quando me refiro ao meu cão. É cão que enche a boca, abocanha e dá beijinho. Cão como a fugir dum disparate. Cão a brincar a estragar chinelos. Cão a correr. Cão a desafiar mimo. Cão! Cão que me enche todo.

quinta-feira, outubro 02, 2014

Nova Grande Loja Maçónica nasce em Portugal

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Fui convidado por três vezes para a Maçonaria. A cada convite respondi com um redondo «NÃO» e quase com uma gargalhada.
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Quem se lembraria de me convidar para a Maçonaria? Nem gosto de tijolos e as únicas coisas que construí foram castelos de areia na praia, mesmo assim com recurso a uma forma.
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Peço desculpa aos meus amigos maçons, cujo número total desconheço, mas essa coisa de cerimoniais, simbolismos estranhos, leituras densas para se poder fazer o exame de admissão lembra-me sempre um clube de adolescentes.
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Quem me conhece muito, pouco ou quase nada sabe que gosto do desconstrutivismo e do brutalismo. Penso que tais estilos arquitectónicos devam arrepiar os maçons.
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Todavia, de pedreiros só têm o nome. A Maçonaria foi sempre um clube de elites – raras excepções. Pedreiros porque foi a única guilda que os aceitou. No entanto, há quem sonhe com catedrais medievais, com a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – comummente conhecida por Ordem dos Templários – e até com os construtores das pirâmides do Egipto Antigo, erguidas no século XXVI antes de Cristo.
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Quanto a mim, a Maçonaria nunca teve nada a ver com pedreiros e buscou referências para uso simbólico quanto à construção dum mundo mais evoluído. Essa é matéria de debate com membros doutras organizações e nem me meto.
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Até reconheço que não entendo se os maçons acreditam em Deus. Lá têm o Grande Arquitecto, o que me soa a divindade. Se assim é nem sei por que embirram com eles e por que foram os maçons adversários de cristãos.
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Não percebo nada e sinceramente nem me apetece. Gostava de assistir a uns cerimonias, pelo carácter mágico que parecem encerrar. Reconheço que sinto pela Maçonaria – tal como outros grupos com rituais, simbolismos, formas de cumprimento, números, graus, títulos, adereços e vestimentas – o mesmo carácter adolescente.
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Para adolescência já basta a minha. Não resolvida em muitos aspectos, mas em relação a clubes identitários está satisfeita.
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É claro, que os veneráveis irmãos não andam a brincar. Todos sabemos da influência que têm e tiveram ao longo dos anos. Juro que não compreendo por que tanto é secreta como discreta… claro que é secreta, embora tenha irmãos discretos… alguns só lhes falta um letreiro luminoso a anunciar a militância.
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Todavia, acabo por ter uma nostalgia dum tempo que não tive, os anos que não pertenci à Maçonaria e que – nem tenho dúvidas – me valeria uma mais confortável vida económica.
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Com o devido respeito e atrevimento, apresento hoje a Grande Loja dos Enófilos de Portugal. É para levar a sério, porque o vinho é um exemplo do que se pode chamar de agricultura inteligente. O vinho sacia, inebria, é sagrado e profano.
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Espero que veneráveis lojas, com outras filosofias, entendam esta nova confraria. Porém, sei que seremos perseguidos pelo longo braço da lei, nomeadamente nas operações stop e teste de alcoolemia.
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Espero contactos para novos membros para o templo, a Grande Adega Lusitana. Como sou modesto e nestas coisas de Maçonaria há que haver respeito, embora irmão fundador, adopto o número 0,75. O grupo pode ser aberto ou fechado e os irmãos podem embebedar-se em segredo, às escondidas em locais públicos.
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Quanto aos graus, os irmãos aprendizes têm diferentes títulos, mas não lhes é atribuído qualquer numeração, ostentando apenas uma imagem gráfica alusiva à sua categoria. A Grande Adega Lusitana tem dois irmãos com funções de chefia, cuja numeração é de cinco centenas para o Mestre e de dez centenas para o Grão Mestre.
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Os títulos são os seguintes e por ordem crescente: Porta enxertos, Vide, Uva, Mosto, Depósito de Inox, Barrica de Quarto Ano, Barrica de Terceiro Ano, Barrica de Segundo Ano, Barrica de Primeiro Ano, Copo de Três, Cálice, Meia Garrafa (0,375), Meio Litro (0,50), Garrafa (0,75), Litrosa (1), Magnum (1,5), Jeroboam (3), Réhoboam (4,5), Matusalém (6), Salmanazar (9), Baltazar (12), Nabucodonosor (15), Solomon (18), Sovereign (26), Primacy (27), Adegueiro (500) e Enólogo (100). Veneráveis Irmãos que não tiveram funções específicas usam o título de Vinhas Velhas. Antigos Mestres ostentam, conforme a antiguidade, os títulos de Ânfora e Talha.
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O grande momento cerimonial acontece no Dia de São Martinho e consiste numa bebedeira que, pelas dimensões, oblitera a consciência e a memória, pelo que será sempre secreta.
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Além de Mestre, existem as funções – não títulos – de Pipa, Barril, Balseiro, Tonel e Depósito Tronco-Cónico.