digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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domingo, julho 13, 2014

O Sarrazola e eu

Escrevo poemas toscos de contra-senso barroco.
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O Sarrazola escreve poemas finos, de arestas vivas por serem tão polidas.
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Escrevo poemas a respirar.
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O Sarrazola escreve poemas a doer de parto.
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Faço tudo em bruto, aos trambolhões da cabeça abaixo.
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O Sarrazola escreve pensando. Volta a pensar, rasga, pensa, escreve, rasga, rescreve e escreve.
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Desculpo-me no argumento do genuíno, no poema-bom-selvagem.
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O Sarrazola diz-me para limpar a sujidade do quase improviso.
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Escrevo acreditando na inspiração.
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O Sarrazola escreve com trabalho.
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Acredito em musas...
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O Sarrazola...
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Acredito no talento e no talento do Sarrazola e convenço-me que tenho algum.
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O Sarrazola...
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Escrevo poemas num blogue – serão eternos.
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O Sarrazola escreve livros pequenos.
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Os meus poemas ficarão esquecidos na multidão da internet e os que terão uma mão de fora estarão maltratados pelo tempo.
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O Sarrazola estará nas bibliotecas e será citado.
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Gostaria de um dia ser reconhecido, mas suicido-me a cada poema que escrevo.
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O Sarrazola escreve poesia e sabe escrevê-la.
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Tenho preguiça.
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O Sarrazola sua das palavras.
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Sou leviano.
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O Sarrazola é fiel.
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O Sarrazola é um grande poeta e gostava-o maior que.
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Sou um malabarista e detesto circo. Como toda arte morta circense, nem mesmo eu me lembro do que escrevi.
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O Sarrazola é um grande poeta.
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Nota: Dedico este meu poema ao meu grande amigo Alexandre Sarrazola, que publica na editora Averno – editora pequenina mas muito séria.

sexta-feira, março 06, 2009

terça-feira, outubro 14, 2008

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Cuco

Tenho agora a casa mais arrumada, posso levantar-me. Quando a tiver novamente em desalinho, volto a deitar-me.

sábado, fevereiro 24, 2007

sexta-feira, junho 09, 2006

O Turco

Tenho um amigo com um coração maior do que ele. Por o coração ser tão grande, as palavras saem-lhe sem filtro pela boca fora. Não tem o coração ao pé da boca... tem é a boca no coração. Diz o que pensa e diz muitas vezes sem pensar. Por isso é muito inconveniente. Mas é verdadeiro e puro, até ingénuo.
Ele é casmurro e rabugento sem ser impertinente. Anda enclausurado no trabalho e sociabiliza pouco, o que o torna ainda mais resmungão. Esta é uma razão por que os amigos lhe chamam Turco... porque inscreve-se no arquétipo das personagens do cinema.
Quando bebe um copo a mais vira-se do avesso e avinagra o vinho: normalmente dá para fornicar o juízo ao irmão. É um divertimento. O melhor de tudo são as opiniões azelhadas sobre tudo: faz diagnósticos precisos sobre os mais diversos temas. É óbvio que estão absolutamente errados, porque parte de pressupostos incorrectos que têm vícios e tendências de raciocínio, mas são divertidíssimos. Isto torna-o muito português, mas ele é tão afirmativo que lembra aqueles turcos nas manifestações a gritar os seus argumentos.
A primeira razão para a gireza dos argumentos do Turco é a inteligência deste meu amigo: é das pessoas mais finas de pensamento que conheço. Ele estrutura bem, manipula o que quer para levar os ouvintes a concordarem com ele. Tem azar, pois ele é o Turco e os amigos lembram-se sempre disso e gostam de o lembrar. As tiradas sábias do Turco são de gritos!... e gargalhadas! Às vezes até de zanga, quando se mete na especialidade de alguém. E o Turco tira grande gozo quando consegue fazer comichões em alguém.
Mas o que tem de melhor o Turco é mesmo o grande coração, que é maior do que ele. É capaz de quase tudo por um amigo. Pode não saber datas de aniversários, pode baldar-se até a alguns acontecimentos importantes, mas no coração do turco cabe tanta coisa!... Mais do que ter bom fundo, não tem fundo, o coração do turco! Gosto mesmo daquele miúdo!

Nota: Como não posso e não quero mostrar a fotografia do Turco... nem revelar o nome para não se descobrir a sua identidade... fica a imagem do Banho Turco de Ingres.

segunda-feira, abril 10, 2006

Exausto

Estou exausto de te amar e de desconfiar que não me amas só a mim. Julgo o amor e condeno-o, culpo-o pela minha infelicidade. O meu amor tomo-o por perverso e o teu por incerto e pueril.
Entonteço quando te beijo insaciável as costas longas. Satisfaço-me nos beijos que te entrego nas pernas... chego mesmo aos pés e como-os se preciso for. Fico feliz com as risadinhas nas brincadeiras no umbigo e dos suspiros com os beijos nos seios. Gosto de adivinhar o que me dizes quando te trinco suavemente as orelhas ou quando alternadamente osculo e lambo o pescoço. Enlouqueço quando sufoco no teu recanto mais húmido e sensível. Faço tudo até ser teu. Sou só teu.
Quem me dera fosses só minha e só minhas fossem as tuas costas longas e a tua gruta dos prazeres e a tua boca dos segredos. Dizes-me que toda tu és minha. Não acredito, nunca acredito. Não to digo para que não chores ou aborreças. Nunca acredito. Uma mulher tão bela não pode ser só minha. Não pode ser de um homem só. Muito menos o pode amar. As mulheres belas não amam, entregam-se aos prazeres. Não acredito quando dizes que és só minha.
Acordo abraçado a ti, enrolado na roupa da nossa cama a cheirar aos nossos corpos, aos nossos líquidos postos para fora. Acordo abraçado a ti e tu está bela, sempre muito bela. Pedes-me beijos e eu não acredito em ti.