digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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segunda-feira, junho 12, 2017

Eu-Lisboa

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Não vou para ficar e antes de ir sinto regresso, sou aqui, como se fosse desta cidade como a luz ou, mais modestamente, uma árvore que só aqui tem chão.
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Sou fim, sem lembrança nem caminho.
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Ordem das fotografias: Artur Pastor, Gérard Castello Lopes e Joshua Benoliel.

O livro que não se leva para as férias

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Sou irreflexo, opaco e translúcido. Sou objecto igual e horas de não esperar. Sou a dor nas costas na curva da rua errada. Sou a bebedeira inglória que sobra da discoteca. Sou a moeda de cêntimo esperando conveniência e inútil na máquina de cigarros. Sou a chuva na madrugada deserta à porta fechada da rodogare. Sou incandescência no frio, teimosa como o magma. Sou a caneca para canhotos.

sábado, outubro 03, 2015

Bilhete de ida

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Nasci doce e manso e por isso cresci fazendo-me estúpido, umas vezes querendo e outras espontâneo. Tantas e tonto verdadeiro, mais triste. Dei-me à lâmina antes que me traíssem.
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Por causa da mansidão quis-me frio cínico. De tudo fiquei com a essência dos derrotados. Fazendo-me de estúpido não entendi que me percebiam, fiz figura de estúpido, sem mérito.
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Disfarçando os golpes patéticos, mais do que uma vida aguenta, recriei-me menino, menino-pateta, aparvatando nas fotografias. Se no humor fui sincero, riram-se de mim e não das palavras.
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Talento, trabalho, esforço, dedicação do pensamento ao sonho e da boca aos dedos, nos traços e nas palavras, para que me restasse na sala de estar dum hospital à espera de vez.
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Tudo em vês e zês, zumbidos de impaciência e mansidão. Suspiro, levanto-me, sento-me quando há lugar ou despejo moedas para beber água. Numa bola dentro da nave em gravidade zero, ouvindo dentro dum aquário, tenho a ilusão do consolo da inalação de benzina. Era quase isto, esta sala antiga com gente feia enfeitada de verde e carregada duma dor. À espera impaciente e resignado – tudo na vida. O que fazer com ela?
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Nem corrente nem margem.

quinta-feira, abril 27, 2006

Gerard Castello Lopes


































Gosto de ti, porque és português e conheces-nos a todos como fomos. Sabemos quem fomos e até como ainda somos, porque estiveste lá. Havia bola e não havia mais nada do que bola. Havia as ruas compridas e gente a ir para o trabalho, havia até gente com trocos para apanhar o autocarro. Eram tempos difíceis. Mas o mais divertido era brincar na rua, jogar à bola e sonhar em um dia ser campeão, ser um cromo da bola, mesmo sem chuteiras... fazia-se uma bola com tudo e jogava-se em qualquer lado. Tu estiveste lá.