digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, junho 22, 2010

Vento-jasmim


Tenho a cabeça cheia de vento e deles vem o aroma de árvores-jasmim. Serão umas quatro da tarde e há quietude nas ruas orientais da cidade. O Tejo espreita atrás das casas seguintes e os comboios de Santa Apolónia sossegaram-se por momentos. Lembro-me de alguma coisa que não sei definir. É uma sensação de qualquer coisa que não sei dizer. Não é aperto nem absolvição. Serão palavras, certamente serão palavras. Palavras que me querem dizer coisas, mas que não oiço ou não entendo. O vento que tenho na cabeça leva-as e traz-me o cheiro do jasmim.

Alemanha





















As luzes da Alemanha a chegar à velocidade possível dum bus. A Alemanha presente do ataque de fúria e auto-comiseração num apartamento de Essen. A Alemanha quase toda na torre mineira de Bochum. A Alemanha toda vista sob a catedral de Colónia. As saudades que tenho tuas são maiores do que todos os ciúmes que tivemos um do outro.

Ir desta

Deve-se morrer devagarinho, não se vá tropeçar e tombar, batendo com a cabeça e chegar morto ao outro lado.
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Nota: Esta pintura chama-se «Nunca viajo, só sonho».

sexta-feira, junho 11, 2010

Factos e certezas

Aos dez anos sonhava. Não em ser astronauta, mas ser qualquer coisa feliz. Aos vinte tinha traçado o destino e estava feliz. Aos trinta já não tinha ânimo para mudar de vida e ainda acreditava na felicidade, já ausente. Aos quarenta tornei-me cínico, desacreditando que a minha vida possa um dia ser feliz. Aos cinquenta estarei bêbado. Aos sessenta ficarei amargo, confirmando as certezas dos quarenta. Aos setenta continuo a pensar na morte e na inglória. Aos oitenta estarei resignado ao falanço da vida. Aos cem espero já cá não andar, sob pena de maior catástrofe.

quarta-feira, junho 02, 2010

Peso

Sob a bebedeira, abro os braços e deixo cair todo o peso e sensualidade. Na cama, sobre mim. Se isto se prolongasse ligar-te-ia amanhã pela manhã. Como é loucura passageira, desgraço tudo com prematuras juras e promessas.