digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

Mostrar mensagens com a etiqueta Fotografia de Ori Gersht. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Fotografia de Ori Gersht. Mostrar todas as mensagens

domingo, março 12, 2017

Do entardecer à luz da manhã

.
A música e o vinho vieram de noite, até ao primeiro beijo de transgressão entre os ébrios.
.
Uns caíram sem loucura e outros como os salmões nos ribeiros. Nem todos adormeceram, descalços na pedra dos degraus ficaram esperando alguma coisa.
.
Ainda sem luz e o já perdido o escuro. A fruteira dá fruta todo o ano e a videira trepa pela parede. Vêem-se as montanhas para lá da floresta e o jardim demora-se a acordar.
.
Descalços na pedra dos degraus quietaram-se hipnotizados, em esforço de ficar ou dormir.
.
Do vinho e do amor à ressaca e ao arrependimento. O frio subtil anuncia a hora. Logo mais tarde.

sexta-feira, julho 15, 2016

Dor de corno

.
Ela fez sexo sem mim. Não lhe perdoo-o e não me perdoo e não lhes perdoo. Juro vingança, elaboro planos – um após outros, anulados por defeitos e riscos. Se o matasse, se fosse capaz, se fosse invisível e silencioso e ubíquo para alibi. A ela não, para que seja minha, embora a perdido.
.
O que fazer às horas, aos dias, semanas, meses, anos? A vida não tem futuro e a luz é-me indiferente. A noite é noite, por vezes bebedeira.
.
De tanto maquinar revanchas, no tempo longo pelo que abstracto e sem medida, esqueci-me dela e nem me lembro quem é ele.

quinta-feira, julho 28, 2011

Elogio do suicídio
















Só quem nunca provou o seu sangue pode pensar que o suicídio não é solução. Quem nunca adormeceu comprimidado não pode saber que o suicídio é mesmo a solução.
.
A morte é sedutora. Quem já passou o túnel, quem já viu a luz de branquidão indefinível, sabe da vontade de ir, deixando com saudades os que ficam.
.
Também quem morre sente saudades. De certo. Mas será tão mais livre sem o peso do corpo. Sem o peso do corpo, que se pode deixar pendurado, preso pelo pescoço.
.
Quem nunca se lançou duma altura não sabe da leveza de voar, ainda que por uns segundos. Só dói bater com os pés no chão, prova de que viver não vale a pena.
.
Que dizer da vertigem em se lançar para diante dum comboio? Um orgasmo louco e breve.
.
Só quem nunca pensou em suicídio não pode saber da leveza que terá quando se for e deixar para trás toda a mágoa de viver.
.
Cansado que cantem a vida. Quanto pesa viver em dor? Quanto pesa não ter futuro? Pois que o futuro seja além.
.
A sombra, o buraco, o canto, o sufoco. A sombra que dá lugar ao escuro-negro, as lágrimas que doem. Doer só por doer. O suicídio é mesmo a solução.
.
Basta querer. No momento em que viver já não é solução. Basta querer. O suicídio é libertação.