digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

Mostrar mensagens com a etiqueta Música dos The The. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Música dos The The. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, agosto 13, 2025

Concentrado sintético

 


.


.

Funciona ou fica de consolo ou despreza-se. Nos dias tristes medem-se os objectos e o resultado é o que.

.

A verdade é uma caixa onde está tudo, do labor equívoco fortuna-má-sorte e do amor, ódio e desamor. Daí se escolhe para se ser pode inversamente.

.

Só trabalha o trabalhante e restam os sentimentos-acções.

.

Tal as palavras, os dias são por nascerem e para se gastarem. Se depois de ditas, fica, à escolha, a aceitação, a nostalgia e a desordem.

.

O passado não se deita fora. Talvezmente nem se arruma. Escondido, não digo que não. Regressa como bumerangue.

.

Poucas coisas laboram como as canções, colo da mãe e açoite de alguém.

.

A pomada não se me segura a momento, porque é eterno o consolo, mas sem saudade.

.

Agoniado, não celebro glória nem infortúnio. Amargura pela minha aflição. Cair para trás com cabeça à frente, queixam-se as costas, porque a alma tocou o fim e já não.

.

Sono, lugar onde se é e se está, igual à vigília, umas vezes e outras.

.

O que a canção me lembra não importa. O unguento é o seu concentrado sintético.

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Milagre pascal

.
Loura com uma melena branca sobre a testa, o cabelo era comprido.
.
Descia a Rua da Verónica. Descia a Rua da Verónica. Virava na Rua Leite de Vasconcelos. Virava na Rua Leite de Vasconcelos.
.
Ficava na paragem do autocarro 12. Descia e lamentava a incoragem de ficar e seguir no mesmo carro. Fantasiava uma conversa, um local e um beijo.
.
Vestia-se de preto e branco, às vezes de castanho-claro. Vestia-me de preto e branco, às vezes de castanho-claro
.
Desejava que me olhavasse discretamente. Procurava-lhe os olhos, sabia que não seria capaz de os fixar nela.
.
Pensava que me olhava discretamente, com desejo parecido com o meu. Não o fazia.
.
Veio a Páscoa e na luz-escuridão da discoteca para adolescentes encontrámo-nos. Olhei-a e desejei que me encarasse e tivesse um desejo parecido com o meu.
.
Falou-me e eu. Nem um beijo, tanto que lhos desejava. Ingénuos e tímidos dançámos, sem lábios. Quase manhã, apanhámos o 42 – e o 12 era o que me servia.
.
Olhava-me discretamente e desejava idêntica – que surpresa.
.
Segurou-me na mão e despiu-se, ficou a camisa por pudor, aberta para que a sentisse. A minha primeira.
.
Dias e acontecemos tão insaciáveis.
.
A Páscoa foi a 19 de Abril. O milagre não sei.
.
Passou a Páscoa e tudo.