digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, dezembro 31, 2011

Voto de ano novo


O Sol caído na tarde ilumina-te, num sono tardio e precoce. É como se fosse Verão, a praia e a brisa. Os olhos, cor de mar profundo, têm a ternura das mães e a alegria das namoradas. As mãos são abraços pequenos. Dois mil e doze abre-se, como o mar de Moisés, sem as esperanças de todos os anos e as dúvidas de sempre. Dia um é para se ficar abraçado em beijos, passear no frio, ver o mar e fazer amor. Não me fujas pela manhã.

Ser quem não é


Quando olho para a piscina vazia percebo que não ganhei o Euromilhões; nem piscina nem água nem dinheiro. Tenho saudade de quando era o que nunca fui.

sexta-feira, dezembro 30, 2011

O ano do fim do mundo


Dois mil e doze vai ser um ano complicado! É melhor parar antes de nele entrar. Se não for agora, a vinte e um de Dezembro, será ele a arrumar-se e a guardar-nos num jazigo de anonimato.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Perguntas com sentido


Se houver mais luz fora das estrelas o universo será mais infinito? De que cor será a noite e qual o calor do Sol? Deixa-me ser pequenino para te fazer perguntas com sentido. A banalidade dos dias é uma triste banalidade.
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Nota: Dedicado ao M... ou direi antes: m.

Por essa estrada fora


Dá-me o caminho finito e a infinita esperança de o fazer. Dá-me o abraço na noite, ainda que suemos. Dá-me o abraço na noite, para que te beije entre sonos. Dorme comigo, para que não te sinta a falta nos sonos. Que a noite seja de chuva, para que se deseje mais corpo. Que a noite seja escaldante, para que os corpos a façam mais. Daqui até aí, na saudade, é mais longe do que os anos-luz até Alfa de Centauro. Daqui para aí, juntos, o tempo é infinitamente pouco para tudo. Esta noite vou sonhar contigo, ainda que acordada, e estarás comigo, nesta ou numa Via Láctea qualquer.

terça-feira, dezembro 27, 2011

sábado, dezembro 24, 2011

Confusão dos conceitos de bem e de mal


























Há ditaduras e há ditamoles. Das segundas espera-se mais clemência, das primeiras espera-se tudo. Do comunismo sabe-se o que se espera. Do PCP sabe-se que se tem de abanar a cabeça e encolher os ombros, sorrindo tristemente, pela desfaçatez do que apregoa, do que faz, do que mente. Este Dezembro morreu um homem bom com defeitos. Václav Havel mostrou o caminho da democracia à Checoslováquia, em festa, em tolerância, em abraço de vida, em multidões libertadas. De boca cheia da palavra de democracia, os comunistas (portugueses, todos) aldrabam, evocam lutas que travaram, com outros propósitos que não da liberdade. Em Portugal, o PCP lamentou a morte dum criminoso, Kim Jong-il. Funeral de praças cheias, de lágrimas de propaganda, de medo de desalinhar, de previdente histeria. O PCP nunca aceitou a chegada da democracia aos países onde se sofreu o comunismo, não alinha no pesar de Václav Havel. O PCP acredita nos amanhãs que cantam na Coreia do Norte, país de estranha monarquia hereditária e absolutista. O PCP revela-se, não é gato escondido de rabo de fora, é lobo com pele de cordeiro… e só engana quem não conhece ou não repara no fedor totalitário que emana. De cordeiro só a lã, que nem lhe consegue tapar metade do corpo.

Flor de sal


Não quero um anel de compromisso nem colar de lágrimas. Que o teu amor não me sangre os dias, nem o meu me faça dono. A posse que se quer como posse é a posse que não marca a posse. O amor que prende, é o amor que deixa largo. Mas os olhos que prendem olhos, são os olhos que prendem olhos. E os lábios que prendem lábios, são os lábios que prendem lábios. E os abraços que prendem troncos, são os abraços que passam além do corpo. Amor à flor dos olhos.

Ai o amor


Com quantas letras se escreve amor? Não pense antes de responder. Diga apenas um número, antes de evocar a pessoa.
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O primeiro amor pode não ser o amor primeiro, nem o último ser o derradeiro.
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Estamos com quem amamos ou com o que resta, com quem mais ninguém quis, com quem nos aceitou como sobra? Até ao fim da vida, até ao novo amor, até à ilusão de um novo amor, até à ilusão do amor?
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Será que amamos ou amamos quem nos ama, que, julgando que a amamos, nos ama?
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Amar numa sopa de letras. Amar na razão do sudoku. Amar na ponderação do xadrez. Amar na leitura do poker. Amar por não saber o que fazer. Amar porque não há nada a fazer.
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Onde entra o beijo no amor? Lábios são lábios, de homem ou de mulher. Mas Pedro ama Rosa. Mas Teresa ama Miguel. Mas José ama Paulo. Mas Susana ama Cristina. Lábios são lábios e apenas nos deitamos com quem queremos num momento. Acreditamos, com quem amamos. Com quem amamos num momento. Com quem entesamos, quando entesamos.
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O que é o amor? O que é o tesão? O que é o sexo? O que é a amizade? Lábios são lábios. Cu não tem sexo. Boca é boca, pila é pila e rata é rata. Boca na pila, boca na rata. Pila na rata. Pila no cu. Boca no cu. Dedos em toda a parte. Águas de desejo.
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O superlativo de amor não é nada disto! O superlativo de amor é amor. É como dizer infinito! À falta de melhor palavra, dizemos amor a uma coisa que, sendo definível, não tem palavra que a defina.
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Diga um número. A matemática sintetiza tudo. Sem química não há física. Sem a matemática, o amor é abstracto, a música é abstracta, não há universo. Nem Deus permitiria. E além da matemática só Deus. Deus é amor e a matemática resume tudo.
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Pense na quantidade de letras para escrever amor. Responda antes de pensar.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Eu podia amar toda a minha inocência


Queria que toda a gente gostasse de mim. Ainda que não seja santo, gostava. Gostava que me perdoassem os defeitos, os enganos e os fracassos. Gostava que gostassem como gosto de pensar que gosto de toda a gente. Quando era criança gostava de toda a gente, sentia ternura. Gostava que não tivesse mudado, o mundo ou eu. Continuo a querer abraçar todos e que todos me retribuam. Perdoo, esqueço, tropeço e volto a cair, perdoo. Sou ingénuo, quiçá néscio. Quando me recusam, sinto. Quando rejeitam o amor, precipito-me no fim dos dias. Arraso-me com o desgosto da desilusão de não me quererem. A recusa é um desprezo. O desprezo é dor de morte, punhal de lágrimas. Quase morro. Quero todos e a todos amo, mesmo quem não amo. Contudo não sou santo, nem no amar nem na ausência de imperfeições. Gostava apenas que todos gostassem de mim, como abro as portas de casa a todos e lhes sirvo de comer.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Vida pastilha-elástica


Uma árvore larga para abraçar, no jardim que terei. Uma tarde de preguiça, na casa vazia. Sol ou trovoada, com a janela aberta por esquecimento. Dois cães, vários gatos… para lá dos muros, todo o mundo, o que não me interessa.

Vergonha


Sono de todos os dias. Silêncio de todas as horas. Desamor e despeito. Vergonha de ter sido e ter amado. Vergonha da desmemória. Vergonha da afronta levada para casa. Vergonha das esperanças. Vergonha dos meus erros. Vergonha por acreditar na verdade e admitir projecções. Vergonha por pensar. Vergonha por não ter amor-próprio. Vergonha de não ser rico, para mandar foder esta merda toda e esquecer-me.

O Natal tem muitos dias


Jantar para um, à luz das velas. Vinho e bacalhau quadrado, tirado do congelador para o micro-ondas. Mais uma noite de tédio frente ao televisor, em voltas na cama até desarrumar os lençóis. Não há presépio nem árvore de Natal. Não há presentes nem vontade. O Natal dura demasiados dias e todos os telefonemas são tristes. A comida é triste. Depois do Natal há pouca imaginação: o ano novo. Pouca imaginação: bebedeira. Tristeza em forma de festa. Se sobrevive o aborrecido bom-senso, dieta e análises tristes. A luz amarela e frágil duma lâmpada incandescente, amarela como a da infância, no quarto da avó, amarela como a nostalgia. Duches frios pela manhã, para acordar e fingir viver. Depois de seco, a mesma casa vazia e o silêncio das ressacas da noite gorda. Tristeza na contemplação de todos os dias desnecessários. Mais uma semana, mais um ano sem acrescentar à humanidade. Algumas palavras, poucas lembranças e o tédio de sempre.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Amor solene



Tenho raiva de mim, pela culpa que não tenho e sinto. O mal que me ataca é o mal que faço. Fazer é só um pormenor do pensar, para a alma pouca diferença faz.
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Serve amar quando se odeia amar por não ser amado? Que ciúme é esse que consome quando não há cadáver nem cheiro?
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Há uma festa atrás das cortinas pesadas de veludo carmim. Onde quase não há luz, mas velas, música e máscaras. Talvez uma droga, para que quem esteja mergulhe no escuro vicioso e saia quando for quase dia.
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Há muitos anos numa pista de dança… os seios descobrindo-se de roupa e nas mãos. Olhos nos olhos e qualquer coisa que mexeu no medo e na perda.
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Muitas mortes depois, resta morrer na saudade. Na memória, aquelas noites não se apagam antes.
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Ciúme esse? Pouca diferença faz, foi há muitos anos. A festa fantasmagórica continua, e eu por morrer, amando.
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Há qualquer coisa de sagrado. Um amor em transcendência, quase religioso. Fantasma de várias vidas, apaixonados, em desatino, desencontrados, prometidos e frustrados.
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O frio branco duma igreja. A luz amarela das velas e o silêncio. Os passos nas pedras e o frio, não uma corrente de ar, dum fantasma de muito saber.
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As vidas num altar sacrificial. Esta como outras antes. Esperando pelas promessas de muitas vidas…
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Qualquer coisa de solene, uma crónica de reis, uma criança prometida.
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Nada, tudo é quase nada. De tudo fica o ciúme e a falta dum cadáver para velar.

sábado, dezembro 17, 2011

Vigília estúpida


Bato-te à porta, na ausência. Espio-te nas horas de sono. Não estás, nem em casa nem acordada. Espero-te com a determinação dos parvos. Amo-te com a obsessão dos estúpidos. De quarto em quarto de hora, a meta. De dois em três em três minutos olho para o relógio, a noite toda, os dias todos. Na esquina, frente à porta, na varanda da casa da frente, no Google Maps, no rastreio do telemóvel, no equipamento de detective… o desejo de saber, a certeza de ser melhor nem saber, não querer saber, não querer existir. Ainda assim, espero-te. Nas insónias, no frio da gripe, na fome, no desconsolo. Caso-me sempre que me lembro. Na miséria e na abastança. Até que a morte nos separe… só a morte nos reunirá.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Às malvas, devia mandar eu... às malvas, mandar-me



Estou sem paciência para a paciência. Quero o mundo e já. E o mundo é o que quero. Não querendo tudo, quero o que quero, e o que quero é o mundo. Como uma criança quer o gelado, que se derrete na mão, que sobra e não come a mãe, porque cai no chão.
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Ainda que saiba que a má vontade é própria dos imbecis, que os tacanhos são pouco inteligentes e que a minha mediana luz de espírito está a anos-luz da clareza e conhecimento deles… irrito-me, porque, apesar de tudo, acho-os humanos. Com direito à vida, ainda que menos inteligentes que as minhas gatas. E irrito-me porque os acho humanos. E irrito-me porque me irrito… duas vezes.
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O mau gosto cheira mal, como cheirava a ribeira do Jamor. Mau gosto de vestir mal está no vestir mal. A mulher veste mal, é saloia. A artista, que se veste igual, é artista. É alternativa, é muito à frente, é iluminada, tem o génio e a cultura.
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Se uma coisa se chama assim, por que dizem que é assado? E se alguém diz que é assado, caem-lhe os iluminados idiotas, que diziam que era assado, a dizer que sempre disseram assim, e que quem disse que o assim era assim só estava a implicar, que o faria sempre, fosse assim ou assado.
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Dói-me a alma pela imbecilidade dos outros. Não! Dói-me a alma em solidariedade com os imbecis a quem devia doer a alma. Não por ser cristão…
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Pergunto-me muitas vezes acerca do que Cristo sentiria quando confrontado com um parvo, ou, pior, com um estúpido, ou, pior, com um mal-criado, ou, pior, com um cretino, ou, pior, com um imbecil, ou, pior… que sentiria ele? Pena? Raiva, não. Chorava? Dava-lhe por certo a mão para o ajudar… para quê, se iria recusar?
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Eu que não sou nem Cristo nem bom, e que só tento quando atento, preocupo-me com a aridez da parvoíce, da alarvidade e adjectivos adjacentes.
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Basicamente, estou sem paciência para mim. Porque mais parvo é aquele que se preocupa com a parvoíce alheia. Prova de orgulho ou sobranceria. Sim, parvo sou eu! Raios, que estou sem paciência.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Mulheres, o que eu gosto



Enjoado de carne. Enjoado do sexo. Enjoado de pós-adolescentes. Enjoado de mães tesudas. Enojado de kinkies, plural de kinky, diria quinquies. Vomitando velhas de mamas enrugadas a pender sobre o umbigo. Enojado com o ar falso-cândido de jovenzitas, de vintes e a fingirem-se de dezoito, insinuando virgindade. Enojado das gajas com ar de vacas… de cabras, de porcas. Sem paciência para galinhas e outras estúpidas. Insuficiente, mas desprezando peruas, pavoas e aves de arribação. Farto da badalhoquice do porno. Farto do ar gasto das gajas que se fazem de boas, mas que não são. Sem tesão para freiras. Sem interesse em deslavadas mães de família, que só fodem um domingo por mês, se tanto. Farto da trintonas e quarentinhas vestidas em tons pastel.
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Foda-se! O que eu gosto mesmo é de mulheres. Como são, sem molho bechamel nem fritura. Mulheres! Gosto mesmo de mulheres!

segunda-feira, dezembro 12, 2011

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Ninguém atende



Brilho da língua, contraluz, contrassol e água fresca. Viagem? Certamente. Dúvida? Sim. Ciúme? Também.
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Hoje beijava uma pedra. Cinzenta, um seixo. Primeiro seca. Depois molhada pela corrente fresca. Onde estaria?
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Mando cartas sem respostas. Do outro lado do telefone ninguém atende. Será que fuma? Em que lençóis se acoita? Morada desconhecida, pessoa incerta ou transparente.
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Estou? Sim? É do zoo? Conversas cruzadas, linhas trocadas, palavras de enganos. O coração ao pé da boca.
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Um pontapé na boca.
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Pesadelo com uma actriz, que sei não ser a virginal amante, de muitos desfloramentos. A actriz é de muitas camas, mas não da minha. Na dúvida acordo. Sufocado como se fosse a verdadeira.
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Se não esqueço é porque se esqueceram. Gostaria de estar nesse sítio, de água fria e Sol. Na falta, uma pedra.
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Outro pontapé na boca.
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Brilho de sangue na boca. Água tingida, de sangue e de dúvidas. Viagem? Sim. Ciúme? Também.
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Nem uma conversa de linhas trocadas. Ninguém atende do outro lado. Será que fuma?

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Entre a preguiça e a vontade de não fazer


Entre a preguiça e a vontade de não fazer. Desmaiado acordado, derreto-me numa cadeira fofa, enquanto o corpo espera o calor inanimado que se forma no deixar ficar.
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Do outro lado da janela há um dia sem interesse. Faltam muitas horas para o prazer duma obrigação maior e, até lá, duvido que chegue vivo do tempo com a cabeça em chumbo.
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Cabeça em chumbo, sim. Pelo peso dos pensamentos, da vida e de suas memórias, dos desejos frustrados, da descontracção da desistência, da fraqueza contra o tempo. De chumbo, sim.
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Não são apenas as pálpebras, mas todo o corpo. Vergado pelo tédio e pelo horizonte fechado. Nem numa praia deserta, como a folha branca e imaculada da vida, com o horizonte inalcançável, tenho esperança. Nem na fé tenho esperança.
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Deus não se terá esquecido de mim, mas esqueci-me dele, no desalento das contrariedades, no tédio e na autocomiseração.
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Deito-me esperando a passagem das horas, dos dias e dos anos. Tento esquecer-me da vida aborrecida e vazia, do tédio insistente. Durmo e tento dormir quando acordo, para que me habitue à posição final do meu corpo.
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A esperança restante é essa. Escrevo mensagens a quem gosto, declarando-me em amor e gratidão, até da que lamento sentir. É a esperança estancada, crosta de sangue vertido, prova de rio seco. Quando optimista, espero que alguém entre e abra tudo, para que o vento higiénico leve toda a chatice.
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Os amores vêm e vão. Os amores ficam sempre. Como as dores que deram, os prazeres cedidos. Saudades dos amigos traidores. Vergonha das minhas traições.
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Sonho sempre que estou noutra terra. Longe, dum outro lado do mar. Esquecido de casa, em descoberta e vontade de não voltar. Sempre além da água, onde chego de barco, avião ou balão… até de zepelim. Por cima da água, chegar e descobrir, sem memória de voltar.
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Ainda que dorido, senão nem sairia, tenho nessas partidas o prazer e a dúvida das descobertas, a liberdade de deixar tudo e todos donde fugi. Ainda que dorido, há nessas viagens um atenuar do tédio.
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Acordo estranho. Habituei-me a acordar. Habituei-me ao desgosto de serem apenas sonhos. Acordo no tédio dos dias e na incerteza de amar o Deus. Partir é o desejo e esperança restante. De ir para o além, de ir para qualquer lado com saudades ou ir sonhando, por cima da água, para um terra onde descubro sem dor.
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Entre a preguiça e a vontade de não fazer, resigno-me à derrota na vida. A dormir estou morto, assim me convenço a viver.