digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Entre a preguiça e a vontade de não fazer


Entre a preguiça e a vontade de não fazer. Desmaiado acordado, derreto-me numa cadeira fofa, enquanto o corpo espera o calor inanimado que se forma no deixar ficar.
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Do outro lado da janela há um dia sem interesse. Faltam muitas horas para o prazer duma obrigação maior e, até lá, duvido que chegue vivo do tempo com a cabeça em chumbo.
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Cabeça em chumbo, sim. Pelo peso dos pensamentos, da vida e de suas memórias, dos desejos frustrados, da descontracção da desistência, da fraqueza contra o tempo. De chumbo, sim.
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Não são apenas as pálpebras, mas todo o corpo. Vergado pelo tédio e pelo horizonte fechado. Nem numa praia deserta, como a folha branca e imaculada da vida, com o horizonte inalcançável, tenho esperança. Nem na fé tenho esperança.
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Deus não se terá esquecido de mim, mas esqueci-me dele, no desalento das contrariedades, no tédio e na autocomiseração.
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Deito-me esperando a passagem das horas, dos dias e dos anos. Tento esquecer-me da vida aborrecida e vazia, do tédio insistente. Durmo e tento dormir quando acordo, para que me habitue à posição final do meu corpo.
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A esperança restante é essa. Escrevo mensagens a quem gosto, declarando-me em amor e gratidão, até da que lamento sentir. É a esperança estancada, crosta de sangue vertido, prova de rio seco. Quando optimista, espero que alguém entre e abra tudo, para que o vento higiénico leve toda a chatice.
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Os amores vêm e vão. Os amores ficam sempre. Como as dores que deram, os prazeres cedidos. Saudades dos amigos traidores. Vergonha das minhas traições.
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Sonho sempre que estou noutra terra. Longe, dum outro lado do mar. Esquecido de casa, em descoberta e vontade de não voltar. Sempre além da água, onde chego de barco, avião ou balão… até de zepelim. Por cima da água, chegar e descobrir, sem memória de voltar.
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Ainda que dorido, senão nem sairia, tenho nessas partidas o prazer e a dúvida das descobertas, a liberdade de deixar tudo e todos donde fugi. Ainda que dorido, há nessas viagens um atenuar do tédio.
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Acordo estranho. Habituei-me a acordar. Habituei-me ao desgosto de serem apenas sonhos. Acordo no tédio dos dias e na incerteza de amar o Deus. Partir é o desejo e esperança restante. De ir para o além, de ir para qualquer lado com saudades ou ir sonhando, por cima da água, para um terra onde descubro sem dor.
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Entre a preguiça e a vontade de não fazer, resigno-me à derrota na vida. A dormir estou morto, assim me convenço a viver.

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