digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, abril 26, 2008

Leva-me ao desejo

























Oh Diabo, leva-me a alma para que possa estar com quem desejo. E este desejo é já razão para perder a alma. Às vezes nem sei se sou o corpo se a alma, pois um dia o corpo morrerá e, contudo, viverei. Leva-me, então, para junto do meu desejo. Se o meu desejo é pecado, não é pecado desejar.

quarta-feira, abril 23, 2008

Melancolia

Estou doente de melancolia. Se fosse doce, ao menos. Sem enlevo e sem sonho. Apenas ferido no ânimo. Desejo desejar. Nada mais.

domingo, abril 20, 2008

quarta-feira, abril 16, 2008

Paralelo

Ainda fazemos amor. Ainda luz pelas persianas. Ainda uma cama, umas vezes feita. Desfeita de luz. Desistimos do outro. O hábito da memória. A preocupação despreocupada. Sem segredo nem partilha. Paralelos. Mas ainda fazemos amor.

Desistência

Carne e ossos cruzados. Vida contínua. Corpo estendido. Braços cruzados. Descanso antes do descanso eterno. Descanso eterno. Antes da resignação. Carne e ossos cruzados.

terça-feira, abril 15, 2008

Sandeman

























A vida é um mistério. Tão profundo e complexo quanto um Vinho do Porto pode ser. Quem me dera voltar àquela idade em que acreditava. O castelo como um labirinto e a busca. O mistério. Memória dos dias sem dor. Memória do tempo de sonhos. Mistérios que a vida levou. Está ainda a lembrança e a impressão feliz nos olhos.

Porca devida

Ler n'ocavalo de dom josé.

segunda-feira, abril 14, 2008

A loba

Loba de Rómulo e Remo. Outros tempos. Outras metáforas. Outras gentes. Outros tempos, mas ainda o choro da humanidade. Indiferente, a mãe e amiga alimenta-se para alimentar. O homem domina o mundo. A vida maravilhosa dos humanos.
Loba de Rómulo e Remo. Carne que amamenta a humanidade. Choro de humanidade. Dos dois.

Primeira luz

Primeiríssima luz da primeira manhã. Tempo de esperanças. A memória das coisas. A memória dos dias.
Por entre as árvores corre melancolia. A solidão do tempo é própria da época. Finura de luz e amplidão.
A cidade deserta. As ruas lavadas. A luz e o ar. A vida em essência.
Temperatura da terra. A cor das árvores. A rua. O som primordial. Finura de vida. Primeiríssima luz da primeira manhã.

O meu destino

Deixei o meu destino entregue a si próprio. Que vá para onde quiser, que vou sem ele. Com quem quiser, que vou sozinho.

Por causa

Por causa do desamor, que o tempo passe depressa, que o tempo passe devagar. Por causa do amor, que o tempo não passe.
Que passe o tempo de tempo passar. Que passe pelas tardes de nostalgia sobre o chão de ladrilho. Que passe a tarde pela janela traseira da cave sombria.
Que o amor antigo não passe. Que passe sem remorsos. Que passe sem ciúmes. Que não saia por porta alguma.
Onde deixei os amores. Sítio incógnito. Sítio esquecido. Sítio guardado.
O meu amor tem dois troncos, um para cada amante. E pernas, para andar e sair, daqui. Um par para cada amante.
Duas vontades. Vontades opostas. O amor pode rodar, mas não sai. Quantas relações traz cada amor? Quantos amantes leva um amante para a cama?
Tantas vontades. Que o amor passe, mas não o momento. Um rebuçado de ficar.

sexta-feira, abril 11, 2008

Lux

Estive contigo em todas as noites de luz e nunca te vi. Agora que não vejo a luz também não te vejo. Contudo, só na escuridão te quis. Não te conheço. Não me sais da cabeça.

Diamantes

Bem sabia que havia uma razão. Bato os pés e finjo uma dança elegante. Grito de felicidade absolutamente triste. Finjo a tristeza com alegria fingida de tristeza. Não sabia, mas era por isso. E o que fazer agora? Nada, esperar ser, um dia, uma pedra e brilhar no olhar. Quem quiser que me leve, já que ninguém me quer. O que for, será.
Um qualquer luar. Um qualquer lugar. Um qualquer amor. Espro não esperar nada. Espero ninguém e espero que nunca me espere para que não a espere. Cabelo curto ou comprido, sempre uma eternidade. Sempre a eternidade.
O engano pleno. Redondo engano. Nem flores. Nem chocolates. Nem jantares. Nem nada que espere. Não espero nada. Nem espero que ela espere. Não espero por ninguém. Só se for pelo que falta. Se for, então era por isso.

quinta-feira, abril 10, 2008

Aquilo

Quando toca aquilo, há qualquer coisa que dentro toca, toca em qualquer lado.

Peixe

Comi hoje aquilo que nunca comi. Que nunca esperei comer. Que disse jamais comeria. Que disse me poria doente. Gostei. Fiquei doente.


Nota: as anchovas vinham disfarçadas na pasta de azeitonas, que lembrava os caracóis no Verão.

Pode

Pode ser um dia junto à grande porta-janela das traseiras junto ao jardim. Não me lembro dos dias de sol, só dos de chuva.
Pode ser um prédio na década em que nasci. Ainda não havia memória nem frio. Havia a mãe.
Pode ser o elevador que não usei para ir à casa da namorada de então. Era um prédio alto rodeado de prédios e de verdes.
Pode ser que nunca venha a saber.

Nota: à Fundação Calouste Gulbenkian, à década de 70 e à Rusa.

Chuva

Chove em Abril e a gente estranha. Ninguém estranha laranjas de Agosto. A gosto não há que chova.

Dizer

A imagem não me diz da bondade nem da sabedoria. Talvez os olhos de carne me pudessem dizer. Se eu soubesse dizer-lhes que não sei ver bondade nem saborear a sabedoria.

O quarto

















Como o quarto da minha infância. A luz do alto, o brinquedo e o agora minguado espaço. Alguém também sou eu. Imitação de vidas. Alguém andou a brincar com ela.

À árvore
























A memória dos meus ossos está depois da carne e do que me vai no sangue. Sou uma velhinha. Mãos translúcidas. Pelica. Curva.
Sento-me à distância, sou também uma projecção, corpo esticado e multiplicado. Estou aqui. A minha sombra está na Boca do Inferno. O meu corpo senta-se nas Azenhas do mar.
Uma árvore com sombras felizes. As pedras secas – almofadas. Frente a qualquer coisa. Atrás os olhos e à frente uma prejecção. À frente do cenário. À frente da realidade. Pode ser. Aqui ou noutro lado qualquer.
A memória é um filme e a vida um cinema. Tenho ainda os ossos todos. Sinto-os. Em novo não tinha memória, agora só a tenho. Nunca tinha sentido os ossos todos, só agora.
Encostado à árvore da infância e da morte, tenho a vida projectada diante da vista. Não estou aqui nem a minha vida por aqui fica. Estou noutro lugar.

sexta-feira, abril 04, 2008

Escada

Por muito que custe acreditar, a vida é subir sem descer. O tempo das vidas é um respirar rápido e ansioso. Dia a dia espera-se uma data. Na data outra data. Um dia, só mais uma data. Depois toda a vida vista e outra vida antevista. Por muito que custe acreditar, a vida é sempre a subir. O cume é o destino, momento de perfeição junto a Deus.

Sono



















Não estivesse com tanto sono que até me iria deitar a dormir. O sono é na vida um fingimento de morte, a vida é um intervalo de liberdade de espírito.

quarta-feira, abril 02, 2008