digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, abril 10, 2008

À árvore
























A memória dos meus ossos está depois da carne e do que me vai no sangue. Sou uma velhinha. Mãos translúcidas. Pelica. Curva.
Sento-me à distância, sou também uma projecção, corpo esticado e multiplicado. Estou aqui. A minha sombra está na Boca do Inferno. O meu corpo senta-se nas Azenhas do mar.
Uma árvore com sombras felizes. As pedras secas – almofadas. Frente a qualquer coisa. Atrás os olhos e à frente uma prejecção. À frente do cenário. À frente da realidade. Pode ser. Aqui ou noutro lado qualquer.
A memória é um filme e a vida um cinema. Tenho ainda os ossos todos. Sinto-os. Em novo não tinha memória, agora só a tenho. Nunca tinha sentido os ossos todos, só agora.
Encostado à árvore da infância e da morte, tenho a vida projectada diante da vista. Não estou aqui nem a minha vida por aqui fica. Estou noutro lugar.

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