digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Confissão audiovisual

Não sei onde escondi os dias felizes, davam-me jeito nestes tempos sem futuro. Existo numa cassete de vê-aga-ésse, perdendo magnetismo e esquecido dos dias além de próximos.
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Não vou em alta definição. Aliás, na melhor das hipóteses, não tenho nada definido. Haja uma réstia de esperança.
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O som sarraunde apenas traz as vozes dum passado que não quero ouvir. Mas, não há uma vidente que me bichane o futuro?
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Além de tudo o mais, a vizinhança estranharia as palavras tão baixas numa casa de televisão com som tão alto. Tantas horas no dia.
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Os meus dias fazem-se de tê-vê. Directamente apontada à cabeça. Directamente injectada nas veias.
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As minhas noites são de costas torcidas, de abandono no sofá, para curtir os efeitos do audiovisual que me entorpece.
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Não leio! Não leio! A pedra dum livro é ligeira e difícil. Mesmo na dureza das palavras, os livros não batem. Só a televisão dá moca.
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Como qualquer dependente, a droga não me sacia. A televisão não me satisfaz nem chega. Nunca farta, fartando a cada minuto que passa.
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Espero, a esperança pouca que me resta, a emissão que me dê esperança. Não que me devolva os dias felizes, mas que me dê alguma utilidade aos que tenho pela frente.

Letra B


terça-feira, novembro 24, 2009

sexta-feira, novembro 20, 2009

quinta-feira, novembro 19, 2009

Dias felizes

A felicidade nos dias tristes. Não deixo de pensar nisso, para que os dias valham as vinte e quatro horas. Parece tão distante quanto o fim do arco-iris. Chamo esperança à vontade de ir vivendo. O dia cinzento se for de tranquilidade será feliz. Mas as insuficiências tremem-me, o medo está e o café não me mantém acordado. Há solidão e tédio. Falta uma vidraça virada para a água. A luz de dentro filtra-se na vegetação, nos ramos dos limoeiros, do jardim. Dentro é ausência de perturbação, só o tique-taque do relógio da sala. Nem o vento de fora faz ruído. Nem a madeira range. Dias felizes?

Letra V


terça-feira, novembro 17, 2009

Marcha

Gostava de ouvir a marcha fúnebre que tencionam tocar no meu funeral, é que depois de morto será mais complicado pronunciar-me e espero partir já a trautear qualquer coisa em memória destes dias.

Estar lá

Às vezes lembro-me de Albufeira e das mães de família de classe média muito entornadas, muito inglesas… dos beijos deles, encontrados à pressa na escuridão ou depois dos escaldões da praia. Eles, os outros, os delas, não viam, fingiam ou não estavam. Tudo o resto sempre lá esteve e está.

Letra T


domingo, novembro 15, 2009

Namoro antigo

Ainda bem que te encontrei. Vamos retomar a conversa onde a deixámos há vinte anos. Está bem. Então, ficas na tua casa ou na minha?

Anonimato

No jardim das margaridas, estás à conversa com o invisível. Vestida como uma criança. Não me reparas, mas digo-te. Sem resposta. Mil passos mais à frente, sentado num banco verde junto ao chafariz, falas-me e não me dizes quem és. Podes ser quem quiseres, acredito. Nas tuas palavras, acredito. Negas-me a identidade. Tenho direito à ilusão de saber o teu nome.

Futuro

O futuro passa por aqui e estou a vê-lo passar.

Quase como Magritte 2





















Harpsichord!

Quase como Magritte 1

Sleeve!

Adolescências


Os concertos são uma adolescência. Felizes na chegada e no fim, com dor pelo meio. Uma memória de prata, um lugar onde não se pode voltar. Uma vida a passar que só deseja o regresso. Nostalgia no presente e no futuro, quando for passado.

98.99.00 Agosto





















Agosto, triste Agosto. Feliz Agosto. O mais triste dos Agostos. Monotonia de Agostos.

Arte no fim do mundo

No fim do mundo vão restar a arte e os momentos sublimes. Seria um desperdício se assim não fosse. Mas e a beleza do efémero, o que se faz com ela?

Tempo de amor

















Os meus namoros duram cada vez mais tempo. O último chegou a uma hora. Este promete durar até ao pôr-do-sol.

Meu amor

Perdoo-te todo o mal que te fiz.

Letra R


Letra Q


terça-feira, novembro 10, 2009

Nunca conseguirás





















Há miúdas que são tão miúdas, tão quase louras, tão boas e tão putas, que nunca serão tuas!

Ainda a propósito do dia de ontem














Contra os comunistas. Contra os fascistas. Contra os anti-comunistas. Contra os anti-fascistas. Contra os anti-anti-comunistas. Contra os anti-anti-fascistas. Contra todos os anti. Sou do contra, porque sou contra. Se for a favor quase ninguém pergunta porquê. Sou contra os extremos e o meio também. Voto, porque voto. Porque faz falta votar. Porque é importante votar. Mas não darei os votos a comunistas nem a fascistas. Já todos e a humanidade temos deles que baste.

Rosa-esturro

- Já reparaste que, ultimamente, perto de muitos socialistas cheira a esturro?
- São rosas, senhor!...

Letra N


segunda-feira, novembro 09, 2009

Festa dos vinte anos

Foi bonita a festa, pá! Triste, só a incapacidade dos comunistas portugueses em assumirem os crimes dos regimes totalitários do Leste. Triste é ainda haver comunismo. de resto, a festa foi e é bonita.

Cromossomas

Um homem belo tem traços de mulher. Uma mulher bela é muito mais mulher. Tal como é XX e o homem XY. A arte, no masculino, é também sempre feminina. Se um artista precisa duma mulher, uma mulher não precisa de nenhum artista para ser bela.

Letra M


domingo, novembro 08, 2009

Em poucas linhas

A vida vai toda em poucas palavras. Só por transtorno dizemos demais. Só por vaidade a escrevemos. Só por piedade a poupamos a outros.
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A minha vida contigo é ainda mais curta. Talvez nem valha estas linhas. Tu vales. A nossa vida não.
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Sempre fomos um amor pequenino. Queria-lo em botão. Queria-o como uma conífera. Não foi por isso, mas por um amor novo.
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Um amor novo morto antes da chegada. Não há dia que não me lembre desse amor novo no nosso amor novo.
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Ficámos a meio dum beijo.

Letra L


Letra K


terça-feira, novembro 03, 2009

A chuva e o imprevisto

Os imprevistos são imprevistos, como a chuva é chuva. Não há meios imprevistos, como não há meia chuva. É como estar-se zangado: pode estar-se muito ou pouco zangado, mas nunca mais ou menos zangado.
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O problema dos imprevistos é ser imprevisto. A chuva imprevista é um problema. A chuva imprevista faz-me zangar com alguém, normalmente comigo. A menos que a chuva imprevista não chegue em momento de caminho para um lugar onde se tem de chegar seco.
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Chegar cedo é, talvez, a melhor forma de enfrentar um imprevisto. Sendo que bom ou mau, um imprevisto é desarmante. Rápida deve ser a reacção. A chuva, imprevista ou não, pede rápida reacção, a menos que não chegue em momento de caminho para um lugar onde tem de se chegar seco.
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Sou do tempo em que os homens só usavam guarda-chuvas pretos. Outra cor seria sinónimo de dúvida. Todas as outras cores e as fantasias estavam para o outro género. Docemente, sem imprevisto nem previsto, mudou a vida. Mas a um chapéu-de-chuva, hoje como ontem, só se pede que proteja a roupa, o rosto e a pele. A menos que o caminho se faça para um lugar onde não é preciso chegar seco. E se os umbelas dos homens, tal como os das mulheres, podem ter qualquer cor, diga-se que estão mais perto do imprevisto, porque o imprevisto é sempre colorido.

Letra G


Letra F