digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Um desejo muito grande

Quero nascer de novo, ser pequenino para quando chegar a jovem e beber sedento, com toda a novidade, os livros do Hergé e do Bilal.



Nota: Pelos vistos Enki Bilal andou a desenhar o Tintim.

domingo, agosto 06, 2006

Conheço-te

Conheço-te há dois mil anos, mas só outro dia é que nos vimos e começámos a falar. Tínhamos tanto para dizer!... Temos ainda muitas palavras para a troca e olhares cruzados, subtilezas e cumplicidades esquecidas.
Sinto-me parte de alguma coisa maior perto de ti, dum conforto quente sem suor. Há o riso e a inteligência. Por se terem passado dois mil anos há muita coisa certa e sabida e tanta já esquecida. Temos horas de conversas atrasadas.
Gosto de te ter por perto e tenho sido feliz por te saber junto e pendurada não muito longe, porque desapertas-me o sorriso e descomplicas-me. A tensão foge quando rondas.
Gosto de te ter por perto e tenho sido feliz por te saber junto e pendurada não muito longe, todos os dias... mesmo quando a distância é maior do que a dum grito. Tens estado comigo na ausência e nas horas vazias, abrindo espaços maiores de conversação para o teu regresso. Mas tens estado sempre. Por não respirares aqui, mando-te afectos e impressões pictóricas pelo vento. Retribuis com música e risos.
Dá-me um abraço.

Nota: Este texto é dedicado à Erva.

quinta-feira, julho 20, 2006

Gélido e tórrido

Por vontade da Carla e do Nasser e, provavelmente, de todos os meus amigos tiraria o coração da caixa e voltaria a pô-lo na caixa toráxica para pulsar e bombear sentimentos.
No entanto, devo afirmar que sou uma rocha inamovível na convicção de que as mulheres foram feitas para admirar e não para amar ou conviver. Não me verão constituir família nem ter qualquer outro tipo de convulsão que se aproxime de algo semelhante a um maremoto ou vontade de partilhar afeições íntimas que me possam voltar a fazer sangar. Já me esfolei de sobejo.
Por vontade da Carla, do Nasser, de todos os amigos voluntariosos, de todos os leitores curiosos e sedentos de novas e de todos os outros tenho a acrescentar que o meu coração tem dona. É uma caixa de ébano de trinta por trinta centímetros em ébano e forrada a veludos vermelhos e azuis, com nódoas de sangue (do dito órgão). O paralelipípedo está guardado num segredo que eu próprio não sei decifrar.
Quanto a mim, sou uma rocha. Sou gelo. Estou tórrido por uma miúda. Não irei ceder!

quinta-feira, maio 18, 2006

A intimidade

A intimidade não é um beijo prolongado nem ver-te nua pela manhã ou ao deitar. É saber como e onde pões os pés quando te deitas e como gostas que esteja para te aninhares. Sei do mau hálito e dos gases intestinais. Sei que bebi de mais. Tens dias difíceis alguns dias do mês e estás a envelhecer. Não quero saber da celulite e a minha barriga e pneu estão maiores. Já te vi vomitar e tu viste-me a mim. Falamos a dormir, eu ranjo os dentes e mastigo durante a noite. Tu embalastas-te para adormecer. Não gostas de falar quando acordas e eu não gosto que me perguntem pelo jantar logo pela manhã. Detesto fazer compromissos a longo prazo e mais ainda ter de adivinhar os teus desejos. Odeias que eu seja tão prosaico. Sei quando desejas romantismo e quando preferes que me afaste. Tu sabes que quase sempre me apetece, que nunca reparo se estás mais gorda e que não me importo com as rugas nem com a celulite.
A intimidade é abraçarmo-nos à noite e rezarmos juntos sem pronunciar as palavras. A intimidade tem muitas rotinas e muitas mais intimidades, por isso não se conta mais.

sábado, maio 13, 2006

Sim, sei

Se eu não soubesse quem és!... Já brinquei contigo a tanta coisa! O que mais queres tu agora? Não tenho navios nem tenho escolta. A esta hora estou sozinho. Aqui estou, só. Já te tirei do xadrez... levei-te para o jardim onde te servi um refresco e joguei poker por prazer. Não tiraste a máscara, mas vi-te um seio pela folga do decote. Não preciso que me digas quem és, sei... pelo hálito das tuas palavras e pelo jogo da tua sombra. Podes deixar de fingir que és parede e cinzenta. Já te vi e o teu abraço basta-me como sinal de todo o afecto. Sim, sei quem és.

quinta-feira, maio 04, 2006

A minha última loucura

Estou capaz de quase cometer uma loucura. Estou capaz de fazer pior: estou capaz de uma semi-loucura. Estou capaz! Acho que bebi demasiado Champanhe ao jantar, vi demasiados sorrisos à mesa e desejei um luar.
Estou quase capaz de emalucar. Se fosse corajoso saltava de cabeça. Se tivesse apenas um pingo de bravura ía nem que fosse de pés. Mas sei dos meus desastres e não os desejo a mais ninguém. Já me bastam as tragédias do acaso! Não vou desenhar batalhas para desejar felicidades e só colher tormentos. Não vou!
Prometi a mim mesmo um futuro longínquo. Uma promessa incumprível... com a graça das promessas incumpríveis. Não sei se a cumprirei, sei quão longe a quero guardar e revelar a toda a gente. No entanto, estou quase capaz de cometer uma loucura... ou uma semi-loucura. O pior é que nem vergonha já tenho e nem me importo. E até já se sabe por aí, mesmo quem não sabe ler ou escrever ou vê ou ouve ou quer ouvir dizer, que ando nas horas das maluquices, dos infernos divertidos, dos desvarios simpáticos e dos cremes de beijinhos.
Não se me importa nada. Tornei-me anarquista das coisas que importam: dos afectos. Dantes ainda me importavam os afectos e os outros, embora nunca quisesse saber. Hoje nada disso tem importância. Sou um anarquista das coisas que importam. Por isso mesmo sou um verdadeiro anarquista. Não tenho vergonha ou pudor. Nem me importo.
Estou capaz de cometer uma loucura e o que me vale é quem se acha ainda são e me agarra, tão feliz de contentamento, é a razão do meu torpor louco. A mesma razão que para alguns é de sorrir pode ser para mim de chorar. Se não cometer uma doidice é porque há gente saudável por aí.

sábado, abril 29, 2006

Um amor bonito-triste

Tenho um amor bonito, que é triste. Não o compreendo e deixo-o viver quietinho à espera dum resgate. É especial, porque sobrevive sem água e alimento. Não percebem como sou feliz. Ela está ausente. Eu nunca estou. Não há acordares nem mau hálito nem ansiedade nem ciúme nem satisfações a dar. Eu nada sei dela e ela nada sabe de mim. Não a conheço nem ela a mim. O meu coração está ocupado por coisa nenhuma. É um amor bonito e triste. Bonito, porque não pede nada a ninguém. Triste, porque não espera ninguém. Ninguém compreende este amor em espera de resgate e que não espera por ninguém. É grande e tão frágil. Quanto mais cresce mais quebradiço se torna, mas insiste em aumentar. É um amor bonito e triste que ninguém compreende.