digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, abril 30, 2017

Universo

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Há pessoas caóticas e outras que são o caos. Um pouco velhaco, acho graça a quem se prejudica devido à sua desorganização. Mas irrito-me bastante com quem contamina a vida dos outros.
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Para além disso há o caos que tudo organiza e estabiliza.

sábado, abril 29, 2017

Enrolados na lã

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A intimidade faz comichão. Dizê-la é espirrar e a mudez acha-se o vómito contido. Todos sabemos o que todos, mas a gaveta das camisolas de lã está fechada. Fazer e desfazer caixotes é desarrumar confianças, viaja-se ao governar os livros nas estantes e cozinhar torna-se no abraço à mãe. Dentro dos lençóis há muitas noites e neles se ficam silêncios.
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Quem escreve está à janela, ao assomar-se abre as portadas e quem lê toma os seus olhos diante da rua. 

Letra C – A Brasileira


Regressado de Hades

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A verdade é que me desminto a quase segundo. Sou constantemente inconstante. Acerca da morte do infotocopiável, recuei o meu suicídio e cito Mark Twain:
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«As notícias sobre a minha morte foram manifestamente exageradas».
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De todos os argumentos e compreensões, o mais denso e faz-se de amizades de quem me sabe.

terça-feira, abril 18, 2017

O infotocopiável acaba aqui

Incompreendi que não gostavam do que escrevo. Criei falsas expectativas.
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Elogiaram-me muito o romance. Apesar de quatro escritores de renome me terem elogiado e recomendado, o «Sei quem tu és» não foi publicado.
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Publiquei-o, como e-book, no final de 2015 e vendi, até agora, 21 exemplares. O valor máximo é de 3,99 euros.
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Não é possível separar esse livro dos textos escritos no infotocopiável, sou o mesmo autor. Bem sei que a escrita evolui, penso que evoluí... provavelmente engano-me novamente... evolui, mas vejo maturidade no meu primeiro e último romance.
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Divulguei-o no blogue e no Facebook, o que se traduziu em, repito, 21 exemplares em dois anos, três meses e dezoito dias. 
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Este número é claro quanto à avaliação do que escrevo. Não vale a pena insistir. Não presta!
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Para as mães, os filhos são sempre os mais lindos. Não diria os melhores, mas pensei que os textos tivessem algum préstimo. Enganei-me, pelo vício da paralaxe. Levei tempo a perceber, talvez me tenha recusado a ver o óbvio, mas não sou completamente estúpido nem narcisista.
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Não é possível separar o «Sei quem tu és» de outros textos criativos, que andam espalhados por aí, quase todos no infotocopiável.
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Os textos que estão estacionados no infotocopiável ficam, as palavras que se dizem não tornam nem podem ser anuladas e deixam de ser de quem as escreve, mas é o momento de o terminar e deixar de teimar que sei escrever.

segunda-feira, abril 17, 2017

Goela

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Fugi-me, ainda me tenho num pouco. Não correr para quem se escapa é mais difícil do que não amar imparmente. Procurar quem se nos esconde dói da perda e do não achar, é granito contra ar. Sou os dois e rodando não apanho as costas.
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A solidão é uma mão de areia, grãos húmidos colados à pele, o mar a pouco e tão pouco para nele lavar as mãos e o motivo para ser em terra.
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Ter valentia é mais difícil do que tragar o mar. Se me conseguir intrépido será breve. Estranho por que me falta desassombro. É o arrependimento antecipado do desmancho do infeito e remorsos por não cometer.

quinta-feira, abril 13, 2017

Armadilha

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Não chegar a ter também é perder. Temo-nos não em sonhos, mas na meiga lembrança-futura onde se mergulha suspenso e em tremuras adolescentes.
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És toda lábios, a flor de me enganar, se fosse abelha. A ladra que anseio me roube algumas horas da vida fazendo o princípio do mundo.

sábado, abril 08, 2017

Cartas do destino

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Não revelarei as cartas, que só escrevi. Nem direi disso por fazer. Nem de te perder sem te ter. Nem falarei do silêncio. Nem que incompreendo a vida.
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Os dias têm as mesmas horas e porém somos diferentes. Hoje sou e amanhã desconheço e doutros menos. Se o mundo tivesse acabado, se nascer não fosse regresso e depois voltar.
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Não sei de cartas que não deitei numa roda de doze vezes três. Deixei o futuro correr, a fortuna ao destino e a decisão à imprudência. Incapaz de suportar a fraqueza largo-me numa desobediência, seja a que for, serei triste e arrependido.

Lisbôa

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Rasguei papéis até os acabar e já me doíam as mãos, isso é sem espessura, pois é mágoa breve.
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Se não somos os únicos donos das palavras que dizemos, talvez só das pronunciadas secretamente, se fantasma as não ouvirem, a sua razão é a quem respeitam. As palavras dos mortos a quem pertencem?
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Herdei uns papéis, foram meus até os despejar no silo da reciclagem. Neles houve do que aconteceu. Se Deus não precisa de arquivo, não serei eu a construir nem quero vidas além da minha.
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Não li nada, fui rasgando desinteressado, enfastiado. Claro que houve palavras emergentes, que eram só letras. Vi lágrimas nos papéis várias vezes reconstruídos. Das vistas, só uma me fixou:
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– Lisbôa.

segunda-feira, abril 03, 2017

Letra S

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Nota: São curvas harmónicas e não faço a mínima ideia do que significa, apenas sei que é som.

domingo, abril 02, 2017

Letra G

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Nota: Não consegui identificar o autor da fotografia. Se alguém souber da autoria, por favor informe-me, de modo a poder atribuir o crédito autoral.

sábado, abril 01, 2017

Efeitos colaterais do consumo de heroína

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Dar o Nobel ao Bob Dylan é o mesmo que dar uma Estrela Michelin ao MacDonald’s.
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Dizendo só daqui, deste sítio da língua, Camões não ganhou o Nobel. O Pessoa não ganhou o Nobel. O Herberto não ganhou o Nobel. O Saramago ainda bem.
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Não é o Lobo Antunes que não merece o Nobel, é o Nobel que não merece o Lobo Antunes.
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O português não precisa de dinamite!
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Um dia começo a fumar e com bandeirinhas de militância com pombas e denúncias piegas.
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Vou pela estrada, que é a felicidade, sou o carteiro que leva as músicas. E como uma pedra que rola tocarei os sinos da liberdade. Quando se não tem nada, não há nada a perder.
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Depois vomito a pirosada – uma poesia parola fica sempre bem em inglês e vice-versa.
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Nota 1: Sim, sei que os autores falecidos não podem ganhar o Nobel. Aquilo do Camões e do Pessoa é retórico.
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Nota 2: O texto não é peta de 1 de Abril, o Dylan é mesmo mau.