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Rasguei papéis até os acabar e já me doíam as mãos, isso é
sem espessura, pois é mágoa breve.
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Se não somos os únicos donos das palavras que dizemos,
talvez só das pronunciadas secretamente, se fantasma as não ouvirem, a sua razão
é a quem respeitam. As palavras dos mortos a quem pertencem?
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Herdei uns papéis, foram meus até os despejar no silo da
reciclagem. Neles houve do que aconteceu. Se Deus não precisa de arquivo, não
serei eu a construir nem quero vidas além da minha.
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Não li nada, fui rasgando desinteressado, enfastiado. Claro que
houve palavras emergentes, que eram só letras. Vi lágrimas nos papéis várias
vezes reconstruídos. Das vistas, só uma me fixou:
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– Lisbôa.
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