digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

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quarta-feira, dezembro 21, 2011

Amor solene



Tenho raiva de mim, pela culpa que não tenho e sinto. O mal que me ataca é o mal que faço. Fazer é só um pormenor do pensar, para a alma pouca diferença faz.
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Serve amar quando se odeia amar por não ser amado? Que ciúme é esse que consome quando não há cadáver nem cheiro?
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Há uma festa atrás das cortinas pesadas de veludo carmim. Onde quase não há luz, mas velas, música e máscaras. Talvez uma droga, para que quem esteja mergulhe no escuro vicioso e saia quando for quase dia.
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Há muitos anos numa pista de dança… os seios descobrindo-se de roupa e nas mãos. Olhos nos olhos e qualquer coisa que mexeu no medo e na perda.
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Muitas mortes depois, resta morrer na saudade. Na memória, aquelas noites não se apagam antes.
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Ciúme esse? Pouca diferença faz, foi há muitos anos. A festa fantasmagórica continua, e eu por morrer, amando.
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Há qualquer coisa de sagrado. Um amor em transcendência, quase religioso. Fantasma de várias vidas, apaixonados, em desatino, desencontrados, prometidos e frustrados.
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O frio branco duma igreja. A luz amarela das velas e o silêncio. Os passos nas pedras e o frio, não uma corrente de ar, dum fantasma de muito saber.
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As vidas num altar sacrificial. Esta como outras antes. Esperando pelas promessas de muitas vidas…
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Qualquer coisa de solene, uma crónica de reis, uma criança prometida.
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Nada, tudo é quase nada. De tudo fica o ciúme e a falta dum cadáver para velar.

sexta-feira, outubro 09, 2009

O uso da luz












Deus quis e fez-se luz. Não disse nem ordenou, apenas quis. Com elas criou as estrelas. Sossegado, cansou-se do tédio e, com o que sobrou, fez os planetas, depois viemos nós dar-lhes utilidade.

quarta-feira, julho 04, 2007

Parado junto ao vento

Quando a brisa ou a ventania passa no vale de prédios, passo por ali também. Às vezes passo. Outras paro nos semáforos. Por ali passo sempre a olhar para o alto, para o cimo da escarpa a ver se te vejo:
- Uma luz.
- Um assombro.
- Um aceno.
- Um acaso.
Passo pelo vale e sigo, porque o vento assim mo diz e a ausência mo ordena.
Tenho retratos teus espalhados pela casa. São quadrículas pequenas, pequeno pontos de luz a gerar luz e ventania no espaço fechado duma sala. Não poderia ser melhor o retrato, múltiplo e desarrumador.
Quando passo pelo vale lembro-me de abrir as janelas todas quando chegar a casa e deixar entrar toda a luz que encontrar. A projecção de sombras não é nem dor nem raiva, antes marcador do tempo.
Quando passo pelo vale do vento olho sempre para cima à espera dum aceno, por acaso, ou duma luz que te traga até mim. O vento é só vento e um dia seremos os dois pó.