Tenho raiva de mim, pela culpa que não tenho e sinto. O mal
que me ataca é o mal que faço. Fazer é só um pormenor do pensar, para a alma
pouca diferença faz.
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Serve amar quando se odeia amar por não ser amado? Que ciúme
é esse que consome quando não há cadáver nem cheiro?
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Há uma festa atrás das cortinas pesadas de veludo carmim. Onde
quase não há luz, mas velas, música e máscaras. Talvez uma droga, para que quem
esteja mergulhe no escuro vicioso e saia quando for quase dia.
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Há muitos anos numa pista de dança… os seios descobrindo-se
de roupa e nas mãos. Olhos nos olhos e qualquer coisa que mexeu no medo e na
perda.
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Muitas mortes depois, resta morrer na saudade. Na memória, aquelas
noites não se apagam antes.
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Ciúme esse? Pouca diferença faz, foi há muitos anos. A festa
fantasmagórica continua, e eu por morrer, amando.
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Há qualquer coisa de sagrado. Um amor em transcendência,
quase religioso. Fantasma de várias vidas, apaixonados, em desatino,
desencontrados, prometidos e frustrados.
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O frio branco duma igreja. A luz amarela das velas e o
silêncio. Os passos nas pedras e o frio, não uma corrente de ar, dum fantasma
de muito saber.
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As vidas num altar sacrificial. Esta como outras antes. Esperando
pelas promessas de muitas vidas…
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Qualquer coisa de solene, uma crónica de reis, uma criança
prometida.
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Nada, tudo é quase nada. De tudo fica o ciúme e a falta dum
cadáver para velar.
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