digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

O Natal tem muitos dias


Jantar para um, à luz das velas. Vinho e bacalhau quadrado, tirado do congelador para o micro-ondas. Mais uma noite de tédio frente ao televisor, em voltas na cama até desarrumar os lençóis. Não há presépio nem árvore de Natal. Não há presentes nem vontade. O Natal dura demasiados dias e todos os telefonemas são tristes. A comida é triste. Depois do Natal há pouca imaginação: o ano novo. Pouca imaginação: bebedeira. Tristeza em forma de festa. Se sobrevive o aborrecido bom-senso, dieta e análises tristes. A luz amarela e frágil duma lâmpada incandescente, amarela como a da infância, no quarto da avó, amarela como a nostalgia. Duches frios pela manhã, para acordar e fingir viver. Depois de seco, a mesma casa vazia e o silêncio das ressacas da noite gorda. Tristeza na contemplação de todos os dias desnecessários. Mais uma semana, mais um ano sem acrescentar à humanidade. Algumas palavras, poucas lembranças e o tédio de sempre.

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