Jantar para um, à luz das velas. Vinho e bacalhau quadrado,
tirado do congelador para o micro-ondas. Mais uma noite de tédio frente ao
televisor, em voltas na cama até desarrumar os lençóis. Não há presépio nem
árvore de Natal. Não há presentes nem vontade. O Natal dura demasiados dias e
todos os telefonemas são tristes. A comida é triste. Depois do Natal há pouca imaginação: o ano novo. Pouca imaginação: bebedeira. Tristeza
em forma de festa. Se sobrevive o aborrecido bom-senso, dieta e análises
tristes. A luz amarela e frágil duma lâmpada incandescente, amarela como a da
infância, no quarto da avó, amarela como a nostalgia. Duches frios pela manhã,
para acordar e fingir viver. Depois de seco, a mesma casa vazia e o silêncio das
ressacas da noite gorda. Tristeza na contemplação de todos os dias
desnecessários. Mais uma semana, mais um ano sem acrescentar à humanidade. Algumas
palavras, poucas lembranças e o tédio de sempre.
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