Estou sem paciência para a paciência. Quero o mundo e já. E o
mundo é o que quero. Não querendo tudo, quero o que quero, e o que quero é o
mundo. Como uma criança quer o gelado, que se derrete na mão, que sobra e não
come a mãe, porque cai no chão.
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Ainda que saiba que a má vontade é própria dos imbecis, que
os tacanhos são pouco inteligentes e que a minha mediana luz de espírito está a
anos-luz da clareza e conhecimento deles… irrito-me, porque, apesar de tudo,
acho-os humanos. Com direito à vida, ainda que menos inteligentes que as minhas
gatas. E irrito-me porque os acho humanos. E irrito-me porque me irrito… duas
vezes.
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O mau gosto cheira mal, como cheirava a ribeira do Jamor. Mau
gosto de vestir mal está no vestir mal. A mulher veste mal, é saloia. A artista,
que se veste igual, é artista. É alternativa, é muito à frente, é iluminada,
tem o génio e a cultura.
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Se uma coisa se chama assim, por que dizem que é assado? E se
alguém diz que é assado, caem-lhe os iluminados idiotas, que diziam que era assado,
a dizer que sempre disseram assim, e que quem disse que o assim era assim só
estava a implicar, que o faria sempre, fosse assim ou assado.
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Dói-me a alma pela imbecilidade dos outros. Não! Dói-me a
alma em solidariedade com os imbecis a quem devia doer a alma. Não por ser
cristão…
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Pergunto-me muitas vezes acerca do que Cristo sentiria
quando confrontado com um parvo, ou, pior, com um estúpido, ou, pior, com um
mal-criado, ou, pior, com um cretino, ou, pior, com um imbecil, ou, pior… que
sentiria ele? Pena? Raiva, não. Chorava? Dava-lhe por certo a mão para o ajudar…
para quê, se iria recusar?
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Eu que não sou nem Cristo nem bom, e que só tento quando
atento, preocupo-me com a aridez da parvoíce, da alarvidade e adjectivos
adjacentes.
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Basicamente, estou sem paciência para mim. Porque mais parvo
é aquele que se preocupa com a parvoíce alheia. Prova de orgulho ou
sobranceria. Sim, parvo sou eu! Raios, que estou sem paciência.
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