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Loura com uma melena branca sobre a testa, o cabelo era
comprido.
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Descia a Rua da Verónica. Descia a Rua da Verónica. Virava
na Rua Leite de Vasconcelos. Virava na Rua Leite de Vasconcelos.
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Ficava na paragem do autocarro 12. Descia e lamentava a incoragem
de ficar e seguir no mesmo carro. Fantasiava uma conversa, um local e um beijo.
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Vestia-se de preto e branco, às vezes de castanho-claro.
Vestia-me de preto e branco, às vezes de castanho-claro
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Desejava que me olhavasse discretamente. Procurava-lhe os
olhos, sabia que não seria capaz de os fixar nela.
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Pensava que me olhava discretamente, com desejo parecido com
o meu. Não o fazia.
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Veio a Páscoa e na luz-escuridão da discoteca para
adolescentes encontrámo-nos. Olhei-a e desejei que me encarasse e tivesse um
desejo parecido com o meu.
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Falou-me e eu. Nem um beijo, tanto que lhos desejava. Ingénuos
e tímidos dançámos, sem lábios. Quase manhã, apanhámos o 42 – e o 12 era o que
me servia.
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Olhava-me discretamente e desejava idêntica – que surpresa.
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Segurou-me na mão e despiu-se, ficou a camisa por pudor,
aberta para que a sentisse. A minha primeira.
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Dias e acontecemos tão
insaciáveis.
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A Páscoa foi a 19 de Abril. O milagre não sei.
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Passou a Páscoa e tudo.
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