Tenho um amigo com um coração maior do que ele. Por o coração ser tão grande, as palavras saem-lhe sem filtro pela boca fora. Não tem o coração ao pé da boca... tem é a boca no coração. Diz o que pensa e diz muitas vezes sem pensar. Por isso é muito inconveniente. Mas é verdadeiro e puro, até ingénuo.
Ele é casmurro e rabugento sem ser impertinente. Anda enclausurado no trabalho e sociabiliza pouco, o que o torna ainda mais resmungão. Esta é uma razão por que os amigos lhe chamam Turco... porque inscreve-se no arquétipo das personagens do cinema.
Quando bebe um copo a mais vira-se do avesso e avinagra o vinho: normalmente dá para fornicar o juízo ao irmão. É um divertimento. O melhor de tudo são as opiniões azelhadas sobre tudo: faz diagnósticos precisos sobre os mais diversos temas. É óbvio que estão absolutamente errados, porque parte de pressupostos incorrectos que têm vícios e tendências de raciocínio, mas são divertidíssimos. Isto torna-o muito português, mas ele é tão afirmativo que lembra aqueles turcos nas manifestações a gritar os seus argumentos.
A primeira razão para a gireza dos argumentos do Turco é a inteligência deste meu amigo: é das pessoas mais finas de pensamento que conheço. Ele estrutura bem, manipula o que quer para levar os ouvintes a concordarem com ele. Tem azar, pois ele é o Turco e os amigos lembram-se sempre disso e gostam de o lembrar. As tiradas sábias do Turco são de gritos!... e gargalhadas! Às vezes até de zanga, quando se mete na especialidade de alguém. E o Turco tira grande gozo quando consegue fazer comichões em alguém.
Mas o que tem de melhor o Turco é mesmo o grande coração, que é maior do que ele. É capaz de quase tudo por um amigo. Pode não saber datas de aniversários, pode baldar-se até a alguns acontecimentos importantes, mas no coração do turco cabe tanta coisa!... Mais do que ter bom fundo, não tem fundo, o coração do turco! Gosto mesmo daquele miúdo!
Nota: Como não posso e não quero mostrar a fotografia do Turco... nem revelar o nome para não se descobrir a sua identidade... fica a imagem do Banho Turco de Ingres.
5 comentários:
O melhor das amizades é mesmo conhecer-se e aceitar-se de coração aberto todos os defeitos que só caracterizam aquela pessoa que se ama (como amigo/a). No fundo é o que falta às relações. Amar-se o lado lunar de coração aberto como se finge que se ama o lado solar de cada um.
Fico-me por aqui pois hoje estou "avinagrada"...
Amizade é: Dizer publicamente que se ama um amigo! Mesmo com defeitos e manias. Gostei muito.
Como dizia um filófoso de quem eu gosto, a amizade é a forma sublime de amar, e aos amigos nunca esquecemos, mesmo que às vezes tenhamos a habilidade de só os magoar a eles, aos de que mais gostamos... porque são eles os que mais esperam de nós... e mais intensamente!
Agora que já me compus... posso escrever como deve ser.
Que honra me deu o meu amigo. Sei que sempre teve palavras boas para mim mas não esperava tal honra mesmo, nem a mereço.
Para mim, o tal que o maltrata por não ter papas na língua nem no feitio.
Após isto, estando eu exposto na blogosfera, que posso dizer.
Quando me divorciar da Inês meu querido vou viver contigo. LOL.
que bonito!
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