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Que vida podes dar? Só ovo
e semente. Acredites ou negues Deus, sozinho não tens sopro criativo. Sobre a
morte também nada.
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Quanto vale uma vida humana se
não a podes inventar? E se for formiga ou urso ou crocodilo ou tamboril ou
colibri? Não revertes a morte.
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Dirás que matamos para comer.
Direi que sacrificamos, porque nos cede vida.
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Ah, a morte! Morreremos, dirás. Possivelmente
até te sentirás imortal.
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Ah, a morte! Fim de ciclo da vida
ou duma vida.
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Feres, matas e amas. Leva-lo ao desconhecido,
onde assustado pelas luzes, vozes e música.
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Em Espanha picam-no antes do
massacre. Mas leva os cornos vivos. Dizes da sua morte honrosa. E se matar o
homem?
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Em Portugal é rasgado a cavalo, porta para sofrimento a outro bicho. Tem os chifres fechados. Honra só os
forcados, que se vestem de sangue, agarrando de corpo desarmado.
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Às vezes correndo desgovernado para
divertimento. Às vezes preso a uma corda, sem a liberdade de quem goza.
Às vezes iluminado com fogo preso nos chifres e queimando-se.
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Gostarias que te fizessem? Que
não!
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Traje de luzes, dizem. Luz negra
de negrume, sombria de dor.
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Ah! Que Deus proteja o bravo
homem enfrentando a besta. Pode amar mais um filho do que outro? Acredites ou o
negues, não tens sopro criativo. Sobre a morte também nada. Seja! O que for! Não podes! Não
podes nada! Um dia morrerás!
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E se disseres que Deus protege o
homem, porque homem é homem e tu és homem, e fez do toiro um inimigo? Quando te
benzes pensas em Francisco de Assis? Tens-te como melhor santo.
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Se o toiro mata que se mate ainda
a mãe. E se fosse contigo? E se fosse a tua mãe? Aquela que possivelmente chamas de santa. E se fossem os teus
queridos filhos?
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Pode saltar-se sobre o dorso e
desafiando as hastes. Como os minóicos. Mal menor.
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Pensa com coração e consciência. Na
justiça e em Deus ou no tangível. Não tens sopro.
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Em branco imaculado, diz-me se não te sentes
Minotauro.
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Podia citar as muitas notícias
acerca da morte de um toureiro na arena. Daria sempre no mesmo. Uma basta. Fica
a do sítio da TVI, de dia 11 de Julho de 2016.
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A progenitora do touro que colheu e matou um toureiro,
na praça de touros de Teruel, em Espanha, foi abatida. É o que dita a
tradição tauromáquica de Espanha. Esta decisão impulsionou os protestos
por parte das associações dos direitos dos animais.
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Victor Barrio foi fatalmente
atingido pelos cornos do touro, em frente a centenas de espectadores,
incluindo a sua mulher. Este episódio ocorreu no sábado, na província
espanhola de Aragão. Barrio tornou-se o primeiro toureiro deste século a ser
morto durante uma tourada.
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O animal, chamado Lorenzo, atingiu o
toureiro no peito, causando-lhe ferimentos fatais. O touro foi morto logo
a seguir ao incidente, mas, agora, chegou a vez de Lorenza, a mãe,
também ser abatida para se acabar com a linhagem familiar. Esta não foi
uma decisão inédita, pois a tradição espanhola assim a dita: sempre que um
touro mata um toureiro, o animal e a sua progenitora devem ser abatidos.
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Os activistas dos direitos dos animais
demonstraram grande revolta pelo sucedido, referindo que o animal não deve
«pagar» pela morte do toureiro. Muitos usaram o Twitter para mostrar o
descontentamento, através da hashtag #SalvemosALorenza e, em poucos minutos, conseguiram o apoio de centenas de pessoas.
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Nota: Até há alguns anos
frequentei praças de touros. Garanto que gostava, provavelmente gosto, de
touradas. Um dia pensei na dor e se fosse comigo. Não me importa se gosto. A
questão é moral. O prazer não pode alimentar-se de sofrimento involuntário. Não
me importa se gosto, mas que alguém faça justiça e finde as touradas.
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