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Fui convidado por três vezes para a Maçonaria. A cada
convite respondi com um redondo «NÃO» e quase com uma gargalhada.
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Quem se lembraria de me convidar para a Maçonaria? Nem gosto
de tijolos e as únicas coisas que construí foram castelos de areia na praia,
mesmo assim com recurso a uma forma.
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Peço desculpa aos meus amigos maçons, cujo número total
desconheço, mas essa coisa de cerimoniais, simbolismos estranhos, leituras
densas para se poder fazer o exame de admissão lembra-me sempre um clube de
adolescentes.
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Quem me conhece muito, pouco ou quase nada sabe que gosto do
desconstrutivismo e do brutalismo. Penso que tais estilos arquitectónicos devam
arrepiar os maçons.
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Todavia, de pedreiros só têm o nome. A Maçonaria foi sempre
um clube de elites – raras excepções. Pedreiros porque foi a única guilda que
os aceitou. No entanto, há quem sonhe com catedrais medievais, com a Ordem dos
Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – comummente conhecida por
Ordem dos Templários – e até com os construtores das pirâmides do Egipto
Antigo, erguidas no século XXVI antes de Cristo.
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Quanto a mim, a Maçonaria nunca teve nada a ver com
pedreiros e buscou referências para uso simbólico quanto à construção dum mundo
mais evoluído. Essa é matéria de debate com membros doutras organizações e nem
me meto.
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Até reconheço que não entendo se os maçons acreditam em
Deus. Lá têm o Grande Arquitecto, o que me soa a divindade. Se assim é nem sei
por que embirram com eles e por que foram os maçons adversários de cristãos.
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Não percebo nada e sinceramente nem me apetece. Gostava de
assistir a uns cerimonias, pelo carácter mágico que parecem encerrar.
Reconheço que sinto pela Maçonaria – tal como outros grupos com rituais,
simbolismos, formas de cumprimento, números, graus, títulos, adereços e
vestimentas – o mesmo carácter adolescente.
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Para adolescência já basta a minha. Não resolvida em muitos
aspectos, mas em relação a clubes identitários está satisfeita.
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É claro, que os veneráveis irmãos não andam a brincar. Todos
sabemos da influência que têm e tiveram ao longo dos anos. Juro que não
compreendo por que tanto é secreta como discreta… claro que é secreta, embora
tenha irmãos discretos… alguns só lhes falta um letreiro luminoso a anunciar a militância.
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Todavia, acabo por ter uma nostalgia dum tempo que não tive,
os anos que não pertenci à Maçonaria e que – nem tenho dúvidas – me valeria uma
mais confortável vida económica.
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Com o devido respeito e atrevimento, apresento hoje a Grande
Loja dos Enófilos de Portugal. É para levar a sério, porque o vinho é um exemplo
do que se pode chamar de agricultura inteligente. O vinho sacia, inebria, é
sagrado e profano.
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Espero que veneráveis lojas, com outras filosofias, entendam
esta nova confraria. Porém, sei que seremos perseguidos pelo longo braço da lei,
nomeadamente nas operações stop e teste de alcoolemia.
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Espero contactos para novos membros para o templo, a Grande
Adega Lusitana. Como sou modesto e nestas coisas de Maçonaria há que haver
respeito, embora irmão fundador, adopto o número 0,75. O grupo pode ser aberto
ou fechado e os irmãos podem embebedar-se em segredo, às escondidas em locais
públicos.
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Quanto aos graus, os irmãos aprendizes têm diferentes
títulos, mas não lhes é atribuído qualquer numeração, ostentando apenas uma
imagem gráfica alusiva à sua categoria. A Grande Adega Lusitana tem dois irmãos
com funções de chefia, cuja numeração é de cinco centenas para o Mestre e de
dez centenas para o Grão Mestre.
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Os títulos são os seguintes e por ordem crescente: Porta
enxertos, Vide, Uva, Mosto, Depósito de Inox, Barrica de Quarto Ano, Barrica de
Terceiro Ano, Barrica de Segundo Ano, Barrica de Primeiro Ano, Copo de Três, Cálice,
Meia Garrafa (0,375), Meio Litro (0,50), Garrafa (0,75), Litrosa (1), Magnum
(1,5), Jeroboam (3), Réhoboam (4,5), Matusalém (6), Salmanazar (9), Baltazar
(12), Nabucodonosor (15), Solomon (18), Sovereign (26), Primacy (27), Adegueiro (500) e
Enólogo (100). Veneráveis Irmãos que não tiveram funções específicas usam o
título de Vinhas Velhas. Antigos Mestres ostentam, conforme a antiguidade, os
títulos de Ânfora e Talha.
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O grande
momento cerimonial acontece no Dia de São Martinho e consiste numa bebedeira
que, pelas dimensões, oblitera a consciência e a memória, pelo que será sempre
secreta.
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Além de
Mestre, existem as funções – não títulos – de Pipa, Barril, Balseiro, Tonel e
Depósito Tronco-Cónico.
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