Om. Om. Om.Oooooooom.
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Acho que este não é o mantra.
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Hokus pokus, abracadabra!
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Esta não é a magia.
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Viva o comunismo!
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Não é a ideologia.
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Com a verdade não vi.
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Na poeira, na cinza e no escuro também não.
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Nem as águas do Ganges nem as do Jordão.
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Em Cristo encontro a lógica, falta-me a fé.
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De que serve a luz aos olhos fechados.
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Dias felizes houve alguns.
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Afectos, amigos, amores.
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Apaixonei-me e sofri sem contas.
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Já perdi amores e chorei cem rosários.
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Acredito na vida eterna e quero a morte.
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O vinho não acalma e droga não apeteceu.
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Não gosto de ler, gosto de livros.
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Quase não oiço música e não vou ao cinema.
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A comida, porque tem de ser. Ter de ser também cansa.
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Deixo o que tenho para fazer, como se abandonasse a vida.
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Não quero saber nem pensar no que vão pensar por pensar
assim.
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Pela manhã penso na vida.
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À tarde desisto de pensar.
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Penso à noite que não quero voltar a pensar na vida.
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Durmo numa loucura mal dormida, quando o pensamento se chama
sonho e o sonho é um pesadelo.
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É de manhã quando penso na vida.
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Porque de manhã há uma ideia vaga de esperança.
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Um dia e outro e outro e outro e sempre outro e outro.
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Daqui a nada é Natal e ainda não fui à praia.
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No ano passado não fui à praia.
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No ano anterior também não.
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Gosto tanto de praia, mais do que teatro.
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Não vou nem a uma nem ao outro.
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Não tenho dinheiro e sem dinheiro custa-me sair de casa.
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O que vão pensar se virem o meu extracto bancário?
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Em que devo gastar os cinco euros que me restam.
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Quase não nada para vestir e bem me fazia comprar qualquer
coisa, mas não gosto de fazer compras.
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Não tenho dinheiro.
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Andar a pé faz bem.
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Não me apetece.
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Faz bem.
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Não quero ir a nenhum lado.
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Faz bem.
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Mas não quero.
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Exercício físico.
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Não posso comer isso. Não posso beber tanto. Pago a renda. Pago
o IVA. Pago a Segurança Social. Pago os remédios e pago ao médico.
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Os papás dão dinheiro.
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Não chega.
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Sou menino dos papás.
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As primas emprestam.
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Não sei como nem quando pagar.
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Vou a casa dos pais, não quero.
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Tenho merdices para resolver.
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Deixo pra depois.
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Não quero.
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Dizem-me: Não deixes tudo para o fim...
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Não quero saber.
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Trabalho.
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Pagam pouco.
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Um pirolito no Tejo?
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Está despoluído, não serve.
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Tomar comprimidos, não porque são remédio.
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Pistola não tenho.
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As pontes não servem, tinha de ir de carro e o carro está
sem ar condicionado e já bebi uma cerveja, pelo que se a polícia me apanha
ainda me tira a carta e tenho de pagar uma multa ou dormir na esquadra para
amanhã ser levado a um juiz.
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Cortar os pulsos ia sujar o chão e alguém teria de limpar. Não
quero dar trabalho.
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Morrer é uma fatalidade. Morrer é um aborrecimento.
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Morrer deixa saudades. Morrer leva saudades.
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Morrer é uma banalidade.
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Mesmo quando escolhemos morrer somos banais.
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Tanta gente se matou e o fez de tantas formas.
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O suicídio é uma banalidade.
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Morrer é a banalidade seguinte à vida, que seguiu a
banalidade de nascer.
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Reencarnar é outra banalidade.
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A banalidade é um tédio.
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É impressionante constatar na quantidade de gente que se
sente especial. Já pra não falar dos que se julgam fenomenal ou fantástico ou
simpática ou divinal ou com bom gosto.
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O Inferno deve ser um sítio bestial. Uma surpresa, ainda que
banal, para a multidão de gente banal que se pensa especial.
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Ao pé de mim há uma casa que vende frangos para fora. São uma
porcaria.
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Será que alguém já o disse aos donos da frangaria?
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Sei é que as pessoas lá vão.
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Isto é abaixo de medíocre.
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Outro exemplo: na minha rua há uma tasca pestilenta. Nem vinte
barrelas tirariam o cheiro nauseabundo a pescada frita daquele antro. Esse e
outros cheiros. Estão todos misturados.
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Está sempre cheia, a casa.
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É alarmante para quem ainda possa ter alguma consideração
pela espécie humana.
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Ah! É popular. É para gente pobre, dirão alguns, entre a
bonomia e o snobismo.
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Então, os pobres e os encalhados têm de comer mal e malcheiroso,
com falta de higiene?
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A inspecção não vê? Pra quê?
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Tem clientela, a imundice.
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Nada pior do que gostar do mau. Até isso é banal.
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Nasci pra ser rico. Os outros também.
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Querer ser-se rico é tão banal que até os ricos o querem
ser.
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Chateia-me a minha existência banal.
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Tendo em vista a situação económica, diria que sobreviver
nestas condições é extraordinário.
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Não é. É banal. O país e o mundo estão cheios de pobres,
miseráveis e inimputáveis que vivem com bastante menos do que eu.
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A culpa é dos políticos. Só lá estão pra se encherem.
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Encherem de quê? De insultos. Pobres as senhoras, suas mães.
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Ganham muito? Não ganham.
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Fazem pouco e mesmo assim ganham pouco.
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Estão lá é pra fazer pela vidinha deles.
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Pois estão. Como todos fazemos pelas nossas.
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Não digo que todos fizéssemos como alguns fazem aquilo que
muitos acusam de fazerem.
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Todos fazemos pela vida. E quantos chulos, oportunistas, corruptos,
corruptores anónimos andam por aí? Quantos filhos-da-puta há fora da política?
Já não contando com os que querem entrar e nos que já saíram.
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Não sei se o país merece o povo que tem ou se o povo tem o
país que merece.
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Temos o país que temos. Temos o povo que temos. Temos os
políticos que merecemos.
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Os políticos são todos iguais!
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Não são. Há os do tacho que mal disfarçam e os do tacho com
olhos meiguinhos. Há os que querem o tacho e de vez em quando se afiambram a um
cargo. Há os democratas de ideologia que não o é nem pode ser. Há os bem-pensantes
preocupados com o povo, mas que mal disfarçam a impressão que lhes faz quem não
sabe comer de faca e garfo, não tem cultura nem provou trufas, caviar e
Champanhe Cristal.
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Há os fascistas, os nostálgicos, os tacanhos, os matarruanos
e mais uns tantos, que se dividem em filhos-da-puta e pobres de espírito.
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É o que temos. Há que encolher os braços e aceitar as coisas
com a normalidade que a democracia exige.
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Há que aceitar com normalidade a banalidade.
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Este país, que todos os portugueses dizem ser fantástico
numa série de coisas, que não devem passar de cinco, aplaude a alarvidade dum
pseudo-humorista que só diz caralhadas e bate palmas a qualquer merdice que lhe
ponham à frente, num palco, numa televisão ou numa rádio, desde que seja de
graça. Porém, às vezes também paga para ser encornado.
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Este país, coisa que mais ou menos sempre fez, aplaude medíocres
e deixou morrer à fome o Camões, o Pessoa ou o Pacheco.
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Este país não lê nem jornais nem livros. Eu também não. Sou tão
medíocre e banal como qualquer um, o que me chateia.
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Não se pensa, mas diz-se o que se pensa. Pensa-se mal. Diz-se
mal. Fala-se mal. Escreve-se mal.
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A culpa é dos professores. Se a culpa fosse dos professores
eles não escreveriam mal nem diriam mal nem pensariam mal.
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A mediocridade, a merda do banal, é transversal.
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Interviram. A gente fazemos. Melhor não é mais bem. O
conjunto dos portugueses não pensam. Porque é o mesmo que por que.
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Merda! Merda mais aos rodapés das notícias da televisão!
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Os professores não sabem ensinar. Os jornalistas e
tradutores não sabem escrever. Os paizinhos querem é boas notas. Os governos
gostam de números bonitos nas estatísticas.
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E o dicionário da academia que se esqueceu de palavras
camonianas... e um jogo de língua portuguesa, editado por reputada editora
especializada, que tem erros de português. Tão medíocre como quem ouvê os
acordeões na têvê.
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Tão banal como se ser assaltado na Zona J de Chelas, por
mitras de boné de beisebol voltados para trás e calças a caírem pelo cu e a
mostrarem o rego.
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Essas, a da língua portuguesa e a dos meliantes, não fazem a
vida.
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Explicam-na. Entre a elite bronca e a populaça bimba só pode
haver um intermédio medíocre. Banal.
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E a vida? Pá, que se lixe. É tudo normal!
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Há as excepções, aqueles que protestam na rua, em
manifestos, na internet, em blogues, no Facebook... que se ornamentam com
ilustrações dum assassino, que se hoje descesse à Terra se iria arrepiar com o
culto da personalidade que lhe prestam e com o uso comercial do seu nome e
imagem; que usam ténis de marcas que exploram os trabalhadores; que se vestem
com roupas fabricadas por operários mal pagos; que usam ferramentas da modernidade
desenvolvidas pelo capitalismo; que se deslocam de avião, porque hoje é barato,
porque alguns capitalistas perceberam que podiam ganhar muito dinheiro a
transportar pessoas a custos reduzidos, às custas duma série de gente, directa
ou indirectamente. Esses que protestam, alguns de forma quase profissional –
que tantas vezes usam uma (banal) máscara sinistra de sorriso sinistro dum
branco sinistro realçado pelo preto sinistro, produzidas num modo sinistramente
capitalista num país sinistramente comunista – são solução para alguma coisa?
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Querer que tudo mude é crer que nada ficará igual. Querer que
tudo mude acaba ficando tudo igual.
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Os portugueses não lêem jornais. Porque dá trabalho e sai
caro. Não pagam para ler na internet, porque há-de haver sempre um meio de
saber as coisas de borla, mesmo que não seja bem assim.
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Eu também. Tão medíocre e banal como o gajo da tasca que
cheira mal.
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Os portugueses só sabem o que ouvêem na televisão. Os portugueses
só prestam atenção à televisão.
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A televisão mostra-lhes o que querem ver.
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Devia ser diferente? Educar o povo? Com que direito?
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Bardamerda mais aos purismos bacocos de virgens impolutas
(até a expressão é banal). Porque o importante é ter audiências, fazer subir o
investimento publicitário e dar maior rendimento ao accionista. Melhores salários
nem despedindo os inevitáveis, o que sempre garante mais uns cobres; e cinco
podem fazer a vez de vinte, e se lhes amarrarem uma vassoura à cintura ainda
varrem as instalações quando se deslocam ou abanam na cadeira.
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Querer ganhar dinheiro é banal. Ganhar dinheiro até é banal.
Ganhar muito dinheiro é que não é banal. Vender a alma por meia dúzia de trocos
é banal. Negá-lo é estupidez.
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Perguntarão: tens inveja dos que têm emprego?
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Tenho pena de não ter emprego. Querer ter um emprego é
banal. Desenrascar-se sozinho é banal.
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Dirão: mas tu não tinhas um texto para escrever, daqueles
que dão a vida a ganhar?
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Primeiro: só tenho vida para perder.
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Segundo: como não tenho patrão, só assim posso fazer greve.
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Terceiro: Não me apetece.
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E quarto: Já experimentei outros mantras, mas nenhum
resultou.
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