digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, agosto 14, 2013

Herdade da Bombeira 2009





















Dos dois milhões de critérios e conjugações de alíneas, momentos e contingências para escolher um vinho... escolhi este (não esta colheita) por causa dum serzinho de quatro anos, dos quais com 4.000 de ternura.
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Corria o ano de 2005 e namorava eu uma moça (a G) que tinha uma filha linda (linda mesmo) e muito doce (docíssima). A P era uma paixão de se cair para o lado. Para se ter uma melhor ideia da P... coisa dum ano depois, estava eu com uma nova namorada, a V, e cruzei-me com a G e sua filha. Encontro que não foi longo, mas que deu para V, muito habituada a lidar com crianças, entender e afirmar:

 – Como é possível alguém não se apaixonar por esta miúda?
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Tranquilos! Sossegados! Não houve sangue! Tudo bem! Tudo bem!
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Voltando a 2005... a P é a «mãe» da minha gata Paraquedas. Gata que já se chamava Paraquedas antes de ela a ver, e que foi tida na ninhada da gata do meu irmão – a par da Amiguinha, cuja narrativa é excessiva para aqui. A Paraquedas que é irmã, embora doutra ninhada, da Granita e da Lioz, 11 meses mais velhas. Por enredos dispensáveis ao tema, a Paraquedas acabou minha e, visto a forma como ficou, pode dizer-se que caiu de paraquedas em minha casa.
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Uma vez mais, voltando a 2005 e à P... a miúda dizia querer ser bombeira. Ok, por que não? Há os que querem ser astronautas... outros médicos... professores... eu queria ser calceteiro. Como também quis ser bombeiro, razão pela qual o meu pai foi cravar, e conseguiu, um capacete... achei absolutamente compreensível que a P também quisesse ser bombeira.
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Uma tarde, passeava eu sem rumo (mais ou menos), olhei para a montra duma loja em Campo de Ourique... ok, a Garrafeira Campo de Ourique, dos meus amigos... e estava uma garrafa de Herdade da Bombeira.
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Todos já comprámos coisas só porque combinam com qualquer coisa, independentemente de terem um sentido com sentido: uma gravata azul branca para oferecer a um fanático do Benfica, após perder o campeonato para o Porto; um porta-chaves do café «O Careca» ao amigo calvo; um busto de Lenine para um anti-comunista universitário; uma edição do jornal Avante do dia do nascimento daquele cromo que teima em ser fascista... um disco do David Bowie a alguém que nasceu no mesmo dia, ainda que não aprecie a sua música (eu – as duas coisas)...
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Pois! Herdade da Bombeira prestou-se mesmo para um jantar com a G e sua partenaire. Assim foi. Correu bem... e o vinho esteve mesmo bem... sem qualquer avaliação subjectiva. Tratou-se da edição de 2004, à qual atribuí a nota claramente positiva de 4,5.
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Para ser sincero, não me lembro do vinho. Lembro-me da miúda e da sua fantasia profissional. Lembro-me da mãe da catraia, que é pessoa de quem só posso dizer bem. Lembro-me do momento... do vinho, não.
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Por todas as notas atrás referidas, Herdade da Bombeira não mais me sairá da memória, a menos que uma doença degenerativa me corroa os miolos. Se todas as avaliações são subjectivas, e as expressas neste blogue são-no o «mais possível»; e nunca este vinho terá uma menção negativa.
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Ok, se fosse vinagre... e do mau, não o elogiaria. Não é o caso. Acresce que o vinho é bom, agora refiro-me à vindima em causa, embora tenha tido sempre ecos muito favoráveis doutras vintage. Mas bebidos por mim, só 2004 e 2009.
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Justificar uma nota? Para mim, tal é sempre subjectivo; tenha copos pretos, temperaturas ajustadas, sejam as garrafas escondidas. Tudo depende de muita coisa. Este blogue não é feito mais do que impressões pessoais, falíveis, com erros de paralaxe, de miopia, de hipermetropia... é sincero e honesto. E sinceramente, apesar de tudo o que adiantei, este é um belo vinho.
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Sendo tudo subjectivo e assumindo isso no ADN deste blogue, qualquer análise vai forçosamente errar na justiça, seja por excesso, seja por defeito, via complexo emocional tentado reparar...  já perceberam. Porém, não falha na verdade, na do seu autor. Represento-me a mim e só a mim. Tenho a presunção de ter alguma coisa a contar; e o que quero é «contar histórias, estórias», não definir padrões ou ditar sentenças.
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Faço, tento, o exercício da imparcialidade... não consigo. E neste vinho, não consigo mesmo. Tenho distanciamento para dizer que é um vinho de qualidade. Direi o que me vai na alma: muito bom!
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A história é esta! Quanto à adjectivação, cada um leia como quiser.
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Factual: a herdade fica no concelho de Mértola, na margem direita do Guadiana. As castas que compõem o lote são: trincadeira, cabernet sauvignon, syrah e alicante bouschet.
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Finalmente: se já o disse e escrevi bastas vezes, embora frequentemente ceda ao protocolo, os descritores não me interessam nada e, na verdade, não indicam nada, a menos que apontem defeitos. Tendo isto em consideração e mais ao que disse, não vou perfilar narizes nem paladares.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Bombeira do Guadiana
Nota: 6/10

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