O Carnaval é o momento mais patético do ano. Não é patético fazer-se uma triste figura sem querer, patético é fazer uma alegre figura porque se quer estar alegre à força e diferente sem originalidade. Mas há pior. O Carnaval é um anacronismo saloio e sem sentido. É como os palhaços do circo, não tem graça nenhuma.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. É no tempo do Dias de Todos os Santos que ganhámos o Halloween, uma importação tão idiota quanto a sua desnecessidade. A coisa é esvaziada de significado. Claro que, se o Natal é quando um homem quiser, também o Carnaval o pode ser. De acordo! Mas, por que temos de multiplicar a imbecilidade?!
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Se o Halloween é uma festa importada e, por cá, esvaziada de significado, já o Carnaval não é; ou não era. Hoje o período da carne alargou-se e caiu do sacrário. Até se come carne quando dantes era pecado.
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Se comemos carne todo o ano, então para que queremos o Carnaval? É como a festa do 25 de Abril, se temos liberdade, por que haveremos de repetir o mesmo ritual todos os anos? Se comemos carne todo o ano, podemos divertir-nos todo o ano. Podemos mascararmo-nos, no sentido literal, todo o ano. Até porque mesmo na Carnaval há quem leve a mal, e fora dele quem não leve. Para que queremos o Carnaval?
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A sociedade ocidental contemporânea habituou-se à diferença, às posturas de ruptura desde os anos sessenta, embora na década de vinte já se tivesse andado muito à frente. Já ninguém pára na rua para ver passar um tipo andrajoso com uma moicana. E quem diz moicana diz as vestimentas de «elegância» exagerada dos setenta e as extravagâncias dos oitenta.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. Ganhámos o Halloween e também o Natal. Ou pior, o Carnatal; mistura de Carnaval com Natal. É juntar Coca Cola Light com Mentos… a gasosa salta da garrafa em vómito grosso e súbito.
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Não ligo nada ao Natal, mas compreendo que haja quem o celebre e respeito muito o que significa, mas, como já disse em postas anteriores, passa-me ao lado. Porém, juntar o sagrado ao profano, numa mesma festa, não é pecado, é uma estupidez. Esvazia-se uma e enxerta-se com outra. Não é carne nem peixe. Esquisitices.
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Onde devia haver contenção passa a haver desregramento. Onde devia haver meditação há o regabofe. Contudo, por todos os sítios onde presenciei o Carnatal, as festas eram o menos desbragado possível. Todos com muita atenção ao que faziam e ao que os outros diziam, todos educadissimamente bêbados com duas taças de espumante manhoso, todos cerimoniosamente enfardados em doces não tradicionais, a música baixinha para não ofender os ouvidos, as conversas circunstanciais, fúteis e a marcar posições e estatuto… Tudo muito calculado e previsível. Sem a espiritualidade do Natal nem o excesso do Carnaval. Champanhoso sem gás.
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A festa do Carnatal não é uma orgia fidalga no século dezoito. Não é uma festa de arromba e de desvario. Não há engates indecentes, encornanços nas barbas do cônjuge. Não! É uma seca disfarçada, onde ninguém quer estar com o resto da gente e só finge estar feliz e divertido, porque demonstrar o contrário seria má educação. A coisa ficou no termo idiota entre a tradição cristã burguesa e a projecção cultural burguesa do Carnaval. Uma bizarria de saloios urbanos, certamente com vergonha das suas, não muito distantes, raízes rurais e populares.
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Vou, por um momento, aceitar o argumento do Carnaval apenas pela sua tradição. Tradição por tradição. Acontece porque sempre aconteceu. Tudo bem. Tudo bem. Mas… e as escolas de sambas dos carnavais mais desvairadamente giros, interessantes e divertidos de Portugal? Adoro o sambar no pé na Mealhada, Estarreja, Ovar, Torres e Albufeira (espero não ter-me esquecido de nenhum). Mas, se há escolas de samba e desfiles semi-nus num país setentrional, talvez essa seja a verdadeira razão e essência da gireza e razão do Carnaval, pois ridículo, mais ridículo, não há.
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Faz tanto sentido uma branquelas beirã ou algarvia andar a sambar na estrada como um Pai Natal no Rio de Janeiro. Se os sul-hemesferianos representam árvores de Natal com neve é com eles e a questão é estética, mas uma tipa andar descascada no Inverno a dançar na rua é estupidez.
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As Câmaras Municipais da parvónia financiam os cortejos e as escolas de samba portuguesas – escrevo isto em riso incontrolável por causa do ridículo. Podem as bibliotecas ser curtas e vazias, as escolas distantes, o cinema ausente, o teatro desconhecido, as artes plásticas só as dos artistas locais – tudo isto aplicável às diferentes actividades artísticas, a enumeração foi aleatória e estética -, mas dinheirinho para esbanjar em aleivosias alarves, isso não pode faltar.
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Já todos devem ter reparado que uma característica do Carnaval português é a das matrafonas, ou seja homens vestidos de mulheres. Não quero nem falar na facilidade simplória de quem se disfarça com o sexo alheio, isso é um problema de imaginação. O que quero é maior compreensão para os travestis e transexuais deste e doutros países. Por que quem quer ver homens vestidos de mulheres não vai à noite passear para a rua do Conde de Redondo? Bem, se calha, muitos irão…
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Mas nestas coisas das mutações das festas culturais há mais: São Valentim foi um bispo itinerante e tipo como padroeiro dos amorosos e dos epilépticos… compreende-se, pois a paixão causa grandes frémitos. Embora tendo sido retirado do calendário litúrgico pelo Papa Paulo VI, o facto é que os milagres, encomendas e celebrações têm vindo a aumentar. Duvido é que por causas espirituais. Já Santo António de Lisboa, ou de Pádua, foi um monge franciscano e, também, tido como casamenteiro. Não fossem os dois santos e dir-se-ia que eram concorrentes. Mas não, pelo que devem ser amigos e até trabalhar em conjunto.
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Bem, talvez a sofisticação da sociedade contemporânea ocidental necessite dum patrono para o namoro e outro para o casamento. Sim, porque há muita gente que tem muitos namoros na vida e outros um casamento para a vida. Já outros só conheceram um namoro e outros, ainda, vários casamentos. Tenho de escrever ao Papa, senhor de toda a sabedoria divina, mais do que o próprio Deus, a saber disto.
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Contudo, não percebo por que, a par da abertura da economia e sociedade portuguesa ao exterior, a devoção a António em matéria de amores decaiu a favor de Valentim. Será que o espírito material e comerciante, inflacionado por escalas da sociedade capitalista global, se impôs?! Hoje, os casais não vão celebrar os seus aniversários de amores ou festejá-los, tão somente, a 13 de Junho, mas a 14 de Fevereiro. Porquê? Porque é assim que estamos alinhados com o resto do mundo que queremos imitar.
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Mas não fiquem tristes os adeptos de Santo António, porque o taumaturgo português encontrou um novo mercado. Não um nicho de mercado, como em economia se diz, mas uns hectares de mercado, criados à custa de São Pedro e São João (Sanjoão no Puorto).
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Antigamente, numa sociedade dominada a mais de noventa por cento por católicos apostólicos romanos, o 13 de Junho era a festa do santo lisboeta, havia celebrações, pois então, bebida na noite, folia, com certeza, e religiosidade. No São João, a 24 de Junho, a festa pagã a ele associada levava a que se saltasse a fogueira. No São Pedro, a 29 de Junho, não era a fogueira, mas havia as suas tradições e espiritualidades.
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O problema não é a sociedade ter ficado menos espiritual, pois esse é um problema de cada um. O problema está no desvirtuamento das datas e das festas. Sim, outrora festas pagãs foram reconvertidas em católicas, mas mantinha-se uma linha de ligação espiritual e/ou mágica. Agora está desviada de qualquer significado além do interesse em beber muito, vomitar, causar ou assistir a confusões, roubos e violências. Em Lisboa, a noite de Santo António é uma imensa orgia, em que a generalidade dos mais de 2,7 milhões de habitantes da área metropolitana acorre aos bairros históricos da capital. Todos bêbados, muitos conflituosos e alguns meliantes. No Porto passa-se o mesmo com o Sanjoão.
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Na noite de Santo António, em Lisboa, o que importa são as sardinhas, a preços astronómicos, e o álcool – cerveja cara ou vinho manhoso a preços de escangalhar a rir… já para não falar em falta condições de higiene, de poucas facilidades para o cumprimento de necessidades fisiológicas, fuga aos impostos, poucas boas maneiras, maus vinhos, agorafobias, claustrofobias, etcaetera.
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Quem não sabe ou não quer saber do significado das datas – e são muitos, talvez a maioria, por falta de cultura ou mero pragmatismo materialista – designa à noite de Santo António em Lisboa como a dos Santos.
- Vais para os Santos?
Isto pergunta quem quer dizer: vais sair à noite para te enfrascares, comer mal e pagar muito, no meio duma enorme confusão de gente e muita porcaria, numa área indeterminada da cidade velha.
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Vais para os «Santos», porque têm uma vaga ideia de que havia mais do que um quer era celebrado num ciclo de festividades de Junho. O que sabem, e querem saber, é que há um feriado em Lisboa e, por isso, uma noite propícia à borga. Como não vão celebrar o São João a Almada, porque, tratando-se dum subúrbio, «ninguém» conhece, ou o São Pedro ao Montijo, porque a terra é pequena e foi transformada num dormitório incaracterístico, ninguém descobre, a noite de Santo António, em Lisboa, é a noite de Santos. A noite tudo em um.
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Portanto, quando se ouve alguém interrogar-se acerca de alguém ir para os Santos, não está a referir-se ao dia de Todos os Santos, mas à noite de Santo António, em Lisboa. Data que agrega todas as noites dos santos fixes, os do álcool e da folia… como no Carnaval, só que no Verão. O ir para os Santos não tem nada a ver com o dia de Todos os Santos, pois nessa altura celebra-se o Halloween, ou seja o Carnaval. Aquele que, poucas semanas antes, antecipa o Carnatal.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. É no tempo do Dias de Todos os Santos que ganhámos o Halloween, uma importação tão idiota quanto a sua desnecessidade. A coisa é esvaziada de significado. Claro que, se o Natal é quando um homem quiser, também o Carnaval o pode ser. De acordo! Mas, por que temos de multiplicar a imbecilidade?!
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Se o Halloween é uma festa importada e, por cá, esvaziada de significado, já o Carnaval não é; ou não era. Hoje o período da carne alargou-se e caiu do sacrário. Até se come carne quando dantes era pecado.
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Se comemos carne todo o ano, então para que queremos o Carnaval? É como a festa do 25 de Abril, se temos liberdade, por que haveremos de repetir o mesmo ritual todos os anos? Se comemos carne todo o ano, podemos divertir-nos todo o ano. Podemos mascararmo-nos, no sentido literal, todo o ano. Até porque mesmo na Carnaval há quem leve a mal, e fora dele quem não leve. Para que queremos o Carnaval?
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A sociedade ocidental contemporânea habituou-se à diferença, às posturas de ruptura desde os anos sessenta, embora na década de vinte já se tivesse andado muito à frente. Já ninguém pára na rua para ver passar um tipo andrajoso com uma moicana. E quem diz moicana diz as vestimentas de «elegância» exagerada dos setenta e as extravagâncias dos oitenta.
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O Carnaval é o momento mais patético do ano. E, sinal da mediocridade da sociedade, tem-se contaminado a outras épocas do ano. Ganhámos o Halloween e também o Natal. Ou pior, o Carnatal; mistura de Carnaval com Natal. É juntar Coca Cola Light com Mentos… a gasosa salta da garrafa em vómito grosso e súbito.
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Não ligo nada ao Natal, mas compreendo que haja quem o celebre e respeito muito o que significa, mas, como já disse em postas anteriores, passa-me ao lado. Porém, juntar o sagrado ao profano, numa mesma festa, não é pecado, é uma estupidez. Esvazia-se uma e enxerta-se com outra. Não é carne nem peixe. Esquisitices.
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Onde devia haver contenção passa a haver desregramento. Onde devia haver meditação há o regabofe. Contudo, por todos os sítios onde presenciei o Carnatal, as festas eram o menos desbragado possível. Todos com muita atenção ao que faziam e ao que os outros diziam, todos educadissimamente bêbados com duas taças de espumante manhoso, todos cerimoniosamente enfardados em doces não tradicionais, a música baixinha para não ofender os ouvidos, as conversas circunstanciais, fúteis e a marcar posições e estatuto… Tudo muito calculado e previsível. Sem a espiritualidade do Natal nem o excesso do Carnaval. Champanhoso sem gás.
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A festa do Carnatal não é uma orgia fidalga no século dezoito. Não é uma festa de arromba e de desvario. Não há engates indecentes, encornanços nas barbas do cônjuge. Não! É uma seca disfarçada, onde ninguém quer estar com o resto da gente e só finge estar feliz e divertido, porque demonstrar o contrário seria má educação. A coisa ficou no termo idiota entre a tradição cristã burguesa e a projecção cultural burguesa do Carnaval. Uma bizarria de saloios urbanos, certamente com vergonha das suas, não muito distantes, raízes rurais e populares.
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Vou, por um momento, aceitar o argumento do Carnaval apenas pela sua tradição. Tradição por tradição. Acontece porque sempre aconteceu. Tudo bem. Tudo bem. Mas… e as escolas de sambas dos carnavais mais desvairadamente giros, interessantes e divertidos de Portugal? Adoro o sambar no pé na Mealhada, Estarreja, Ovar, Torres e Albufeira (espero não ter-me esquecido de nenhum). Mas, se há escolas de samba e desfiles semi-nus num país setentrional, talvez essa seja a verdadeira razão e essência da gireza e razão do Carnaval, pois ridículo, mais ridículo, não há.
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Faz tanto sentido uma branquelas beirã ou algarvia andar a sambar na estrada como um Pai Natal no Rio de Janeiro. Se os sul-hemesferianos representam árvores de Natal com neve é com eles e a questão é estética, mas uma tipa andar descascada no Inverno a dançar na rua é estupidez.
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As Câmaras Municipais da parvónia financiam os cortejos e as escolas de samba portuguesas – escrevo isto em riso incontrolável por causa do ridículo. Podem as bibliotecas ser curtas e vazias, as escolas distantes, o cinema ausente, o teatro desconhecido, as artes plásticas só as dos artistas locais – tudo isto aplicável às diferentes actividades artísticas, a enumeração foi aleatória e estética -, mas dinheirinho para esbanjar em aleivosias alarves, isso não pode faltar.
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Já todos devem ter reparado que uma característica do Carnaval português é a das matrafonas, ou seja homens vestidos de mulheres. Não quero nem falar na facilidade simplória de quem se disfarça com o sexo alheio, isso é um problema de imaginação. O que quero é maior compreensão para os travestis e transexuais deste e doutros países. Por que quem quer ver homens vestidos de mulheres não vai à noite passear para a rua do Conde de Redondo? Bem, se calha, muitos irão…
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Mas nestas coisas das mutações das festas culturais há mais: São Valentim foi um bispo itinerante e tipo como padroeiro dos amorosos e dos epilépticos… compreende-se, pois a paixão causa grandes frémitos. Embora tendo sido retirado do calendário litúrgico pelo Papa Paulo VI, o facto é que os milagres, encomendas e celebrações têm vindo a aumentar. Duvido é que por causas espirituais. Já Santo António de Lisboa, ou de Pádua, foi um monge franciscano e, também, tido como casamenteiro. Não fossem os dois santos e dir-se-ia que eram concorrentes. Mas não, pelo que devem ser amigos e até trabalhar em conjunto.
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Bem, talvez a sofisticação da sociedade contemporânea ocidental necessite dum patrono para o namoro e outro para o casamento. Sim, porque há muita gente que tem muitos namoros na vida e outros um casamento para a vida. Já outros só conheceram um namoro e outros, ainda, vários casamentos. Tenho de escrever ao Papa, senhor de toda a sabedoria divina, mais do que o próprio Deus, a saber disto.
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Contudo, não percebo por que, a par da abertura da economia e sociedade portuguesa ao exterior, a devoção a António em matéria de amores decaiu a favor de Valentim. Será que o espírito material e comerciante, inflacionado por escalas da sociedade capitalista global, se impôs?! Hoje, os casais não vão celebrar os seus aniversários de amores ou festejá-los, tão somente, a 13 de Junho, mas a 14 de Fevereiro. Porquê? Porque é assim que estamos alinhados com o resto do mundo que queremos imitar.
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Mas não fiquem tristes os adeptos de Santo António, porque o taumaturgo português encontrou um novo mercado. Não um nicho de mercado, como em economia se diz, mas uns hectares de mercado, criados à custa de São Pedro e São João (Sanjoão no Puorto).
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Antigamente, numa sociedade dominada a mais de noventa por cento por católicos apostólicos romanos, o 13 de Junho era a festa do santo lisboeta, havia celebrações, pois então, bebida na noite, folia, com certeza, e religiosidade. No São João, a 24 de Junho, a festa pagã a ele associada levava a que se saltasse a fogueira. No São Pedro, a 29 de Junho, não era a fogueira, mas havia as suas tradições e espiritualidades.
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O problema não é a sociedade ter ficado menos espiritual, pois esse é um problema de cada um. O problema está no desvirtuamento das datas e das festas. Sim, outrora festas pagãs foram reconvertidas em católicas, mas mantinha-se uma linha de ligação espiritual e/ou mágica. Agora está desviada de qualquer significado além do interesse em beber muito, vomitar, causar ou assistir a confusões, roubos e violências. Em Lisboa, a noite de Santo António é uma imensa orgia, em que a generalidade dos mais de 2,7 milhões de habitantes da área metropolitana acorre aos bairros históricos da capital. Todos bêbados, muitos conflituosos e alguns meliantes. No Porto passa-se o mesmo com o Sanjoão.
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Na noite de Santo António, em Lisboa, o que importa são as sardinhas, a preços astronómicos, e o álcool – cerveja cara ou vinho manhoso a preços de escangalhar a rir… já para não falar em falta condições de higiene, de poucas facilidades para o cumprimento de necessidades fisiológicas, fuga aos impostos, poucas boas maneiras, maus vinhos, agorafobias, claustrofobias, etcaetera.
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Quem não sabe ou não quer saber do significado das datas – e são muitos, talvez a maioria, por falta de cultura ou mero pragmatismo materialista – designa à noite de Santo António em Lisboa como a dos Santos.
- Vais para os Santos?
Isto pergunta quem quer dizer: vais sair à noite para te enfrascares, comer mal e pagar muito, no meio duma enorme confusão de gente e muita porcaria, numa área indeterminada da cidade velha.
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Vais para os «Santos», porque têm uma vaga ideia de que havia mais do que um quer era celebrado num ciclo de festividades de Junho. O que sabem, e querem saber, é que há um feriado em Lisboa e, por isso, uma noite propícia à borga. Como não vão celebrar o São João a Almada, porque, tratando-se dum subúrbio, «ninguém» conhece, ou o São Pedro ao Montijo, porque a terra é pequena e foi transformada num dormitório incaracterístico, ninguém descobre, a noite de Santo António, em Lisboa, é a noite de Santos. A noite tudo em um.
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Portanto, quando se ouve alguém interrogar-se acerca de alguém ir para os Santos, não está a referir-se ao dia de Todos os Santos, mas à noite de Santo António, em Lisboa. Data que agrega todas as noites dos santos fixes, os do álcool e da folia… como no Carnaval, só que no Verão. O ir para os Santos não tem nada a ver com o dia de Todos os Santos, pois nessa altura celebra-se o Halloween, ou seja o Carnaval. Aquele que, poucas semanas antes, antecipa o Carnatal.
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Nota: Estão a ver o que dá não ter namorada nem o que fazer na noite de São Valentim?! É o resultado que dá!
1 comentário:
É uma da manhã... Fiz uma leitura transversal e, por enquanto, só tenho duas coisas a apontar:
1. A imbecilidade do Carnaval é directamente proporcional ao grau de mediocridade de um povo;
2. "O problema não é a sociedade ter ficado menos espiritual, pois esse é um problema de cada um." O problema é, provavelmente, estarmos todos tão entrincheirados na sacrossanta esfera do individualismo, que já nada fazemos em conjunto ou em prol da comunidade humana. Salvo cada vez mais raras excepções. O problema não é realmente a sociedade ter ficado menos espiritual... É o facto de se ter tornado tão egocêntrica e polutamente materialista. Até na sua fome de espiritualidade. E isso, infelizmente, é mal contagioso que se pega às massas e não à casa de cada um. Logo esse que eu gostava tanto de poder dizer que deveria ser da esfera particular de cada cidadão...
No que me diz respeito, eu dispenso o Carnaval porque já passo grande parte do ano mascarada. Mas conto cumprir a minha Quaresma. É que, para mim, ainda são valores de referência.
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