Encontrei, ao calhar, a rapariga mais bonita. Descia a rua, olhos postos no caminho, e dei com ela. Tem uns olhos muito grandes e bem vivos. Estava sentada numa pedra a solucionar sopa de letras. Espequei-me embasbacado sem saber o que dizer, apontando sem o dedo o sentimento desperto naquele instante. Não disse palavra alguma por não saber de acerto ou tino. Ela olhou-me de baixo para cima e mostrou um sorriso tão largo e franco e juvenil que o meu coração ficou ainda mais dela. Com o delo indiquei-lhe os enigmas já decifrados, não percebendo que apenas os estava eu a ler como novidade. Todas juntas, as palavras contavam um amor por vir; e eu ali frente à miúda de olhos encadeados uns nos outros e as palavras ditas e por dizer a encaixarem-se nas vidas, em simetrias e sintonias. Uma maravilha escrita numa sopa de letras.
E de letrinha em letrinha percorremos o alfabeto, escrevemos amizade, cama e jantar. No fim da linha encontrámos o «z», de zebra e zulu, no léxico incomum. Chegou ao fim o enigma da sopa de letras. Finou o amor? Depois vieram os números. Ela sentou-se numa pedra a desfazer enigmas de sudoku e eu a olhar para ela com o mesmo espanto de quando a vi pela primeira vez. Faço silêncio e saboreio o momento.
1 comentário:
boas letras as tuas :)
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