digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, novembro 14, 2006

Letras e sudoku

Encontrei, ao calhar, a rapariga mais bonita. Descia a rua, olhos postos no caminho, e dei com ela. Tem uns olhos muito grandes e bem vivos. Estava sentada numa pedra a solucionar sopa de letras. Espequei-me embasbacado sem saber o que dizer, apontando sem o dedo o sentimento desperto naquele instante. Não disse palavra alguma por não saber de acerto ou tino. Ela olhou-me de baixo para cima e mostrou um sorriso tão largo e franco e juvenil que o meu coração ficou ainda mais dela. Com o delo indiquei-lhe os enigmas já decifrados, não percebendo que apenas os estava eu a ler como novidade. Todas juntas, as palavras contavam um amor por vir; e eu ali frente à miúda de olhos encadeados uns nos outros e as palavras ditas e por dizer a encaixarem-se nas vidas, em simetrias e sintonias. Uma maravilha escrita numa sopa de letras.
E de letrinha em letrinha percorremos o alfabeto, escrevemos amizade, cama e jantar. No fim da linha encontrámos o «z», de zebra e zulu, no léxico incomum. Chegou ao fim o enigma da sopa de letras. Finou o amor? Depois vieram os números. Ela sentou-se numa pedra a desfazer enigmas de sudoku e eu a olhar para ela com o mesmo espanto de quando a vi pela primeira vez. Faço silêncio e saboreio o momento.

1 comentário:

Folha de alface disse...

boas letras as tuas :)