digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, julho 25, 2016

A chatice dos livros

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Ler é-me penoso, não sei se o é para ti. Mas adoro livros, senti-los com os dedos, usar o nariz e pousar os olhos – não é como uma mulher-objecto ou fotografia de nu. O problema é a leitura, sabes? A cada par de palavras somo outras, tiro algumas, mudo-as de lugar, substituo-as. Quantas mais, maiores os arranjos. Depois há as vírgulas, os pontos finais, a pontuação, no geral e particulares. Claro que a ortografia conta, a gramática, a irritações secretas e as públicas, aquelas em que estou só e noutras na multidão. De tudo, o pior é a estória. Há com cada cretino a desviar-se do trilho, gente que escreve bem e falha porque não sabe escrever. Depois há aqueles que não sabem escrever e que por isso nunca o saberão. É difícil encontrar um livro que não tenha de rescrever – esses são os que leio até à ponta. É desgastante para os olhos, cabeça e fígado, até talvez para o coração. Martirizo-me porque gostava de saber ler. Não é arrogância nem qualquer forma de superioridade, é um impulso nativo, animalesco, sôfrego e maníaco de refazer.
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Ou quase tudo. Quando, apaixono-me e não perco letras. Ainda que por vezes me deixe levar pela mania submeto-me à luz e escuridão. Rendo-me e digo que gostaria de ter escrito aquilo. Acredita que não é sobranceria, é impulso como respirar.

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