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É possível noite e chuva como dia e luz tanto quanto certas
e impossíveis. Depende dos negros luzidios e brancos baços e da forma como se
vêem os cinzentos e modo de os pronunciar.
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A acalmação desponta no pé-de-paz, quando o solo perfurado se
permite a ervas e depois árvores. O troar dos canhões num limbo, passado e
perene, numa bolha que se colhe para encostar às orelhas, os ouvidos dormentes
e a nostalgia do Inferno.
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Chove atrás da vidraça. A luz cinzenta da rua deserta. A quietude
da noite alta.
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Na rua, só e mal coberto, sapatos salpicados e a melancolia
como confidente, cabelos e ossos.
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Nem cão, só gato friorento num resguardo e infeliz, carente
de colo e precisado de fuga.
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A noite é dos gatos e da Lua. É minha nas insónias tristes
que permito e se impõem, a preto e branco de luz cinzenta, atrás e fora do
vidro.
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A melancolia é minha predadora e me alimenta.
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Vivo por aqui, aí nesse sítio, quando e sempre.
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Nota: Gostaria de ter escrito «A realidade é um lugar
estranho», mas tantos lugares estranhos foram escritos.
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Nota: Não foi possível identificar a autoria desta
fotografia. Se alguém souber o nome do fotografo agradeço que me informe, de
modo a atribuir-lhe os créditos.
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