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Não sei onde estive estes anos. Adormeci ou morri ou invisivelei-me,
alguma coisa que não sei, o que disse, o que fiz, se fiz ou se disse.
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Num comboio expresso a paisagem não se demora. A janela está
molhada dos dois lados.
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Na estação ninguém me espera nem fica, vazia de vida como se
sorvida por espaçonave, um canto de ave e nada mais do que as folhas mexendo-se
nas árvores. Fechando os olhos, ánimas rodeando-me enlouquecidas. Ainda assim é
dia, terrivelmente dia.
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Não sei se dormindo, sei que não, mantenho-me desperto e
confuso. Olhando o vazio ou cegando-me temporariamente, na irresistível dor,
para inquirir personagens deletérias. Porém é dia.
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Nesta vida não sei e noutras pouco menos. As contas desta e
das outras espelhadas na folha do deve e haver escaldando na consciência,
lembradas nos urros e ameaças dos espectros. Antes fosse noite para acordar.
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Não, não pode ser. Não posso estar, não posso ser. Atónito e
mudo, culpando-me pelo que sei, deduzo e dizem.
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As mais antigas questões da consciência. A janela é molhada.
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