digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, julho 26, 2016

Quando lá não estou

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O mar está cheio de tubarões, peixes-aranha, alforrecas, caravelas-portuguesas, orcas, olharapos, extraterrestres sanguinários, viscosidades nojentas, coliformes fecais, lâminas infectadas, algas carnívoras, piranhas transgénicas, crocodilos voadores, hipopótamos de mau-humor, tigres de bengala, galifões de crista, remoinhos, correntes traiçoeiras, vagalhões de trinta metros, maremotos insistentes, desabamento de arribas, salteadores aquáticos, onças confusas, jaguares perdidos, cavalos-marinhos gigantescos, enguias assassinas, tremelgas, cobras de água, jibóias, boas, anacondas, formigas irritadas, térmitas, filoxera, varejeiras verdes, pulgas, chatos e carraças, sacos de plástico, vidros errantes, pregos em mergulho invertido, ladrões oportunistas, miúdos a jogar à bola em cima das toalhas e sem cuidado, idiotas nos olhares e a mergulhar-bomba, miúdas feias em topless, gordos com escaldões, agentes da autoridade prepotentes, bandeira vermelha, vento ciclónico, calmaria de queimar, areia incomodativa a entrar nos olhos e orelhas, raios ultravioleta, buraco de oxono, alto nível de oxono no ar, águas radioactivas – tudo isto e mais algumas coisas se podem encontrar na praia quando lá não estou.
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E no campo? Há ursos acordados da hibernação, alcateias, matilhas desamadas, tigres, chitas, leões, leopardos, jaguares, linces e gatos assanhados, incêndios florestais, sismos, desabamentos, avalanchas, ribeiros com fundões, descargas de fábricas de curtumes, ventos de Almaraz, assassinos foragidos, limpa-chaminés amnésicos, bruxas voando a cavalo em vassouras, políticos psicopatas, gordas apaixonadas, pançudos embriagados, crianças afrancesadas, velhas de bigode, festas de aldeias, foguetes, cerveja marada, intoxicações por tremoços, amendoins bafientos, salazaristas de calções, republicanos de gola-alta, palermas com motas, patos-bravos com piscinas em declives,  pernas partidas, geninhos corruptos, formigas de ponta vermelha, vespas traiçoeiras, abelhas daltónicas, poetas populares apaixonados, concertos de músicos pimba, vendedores de farturas, romarias, feiras toda a noite, gárgulas falantes, sinos matinais tocando mais do que finados, coscuvilheiras de aldeia, padres moralistas, industriais pedófilos, tarados de gabardina – é como a praia.

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