.
Dias dormentes no jardim onde não há cidade e campo. É lugar
onde tudo pode, letárgico e demorado.
.
É calor e vem água do Inverno. No frio, mantas e almofadas até ao chão onde se nada e brinca ao amor às
escondidas não fossem risinhos.
.
O que importa é aquém do muro e depois dos ciprestes, Éden
sem veneno nem pecado. Umas vezes músicas dolentes do amor ou vento, sempre
aves, e silêncio. A árvore para o País das Maravilhas.
Alamedas, azinhagas e horizonte, linha férrea sobre pedra,
água e mar, apeadeiros de ausência, sombra de pomares e florestas. O céu, maior espectáculo.
.
O dia não começa sem acabar nem nascer, Inverno, Primavera,
Verão e Outono nos tempos perfeitos, não exigindo mais do que seus carácteres.
.
Vinhos surgem sem chegarem, sortilégio que permito e gosto.
.
Noite de lobisomem, luar tanto faz, castigo do mar na rocha da gruta, porta sob a casa.
.
Na vez de heras, videiras, segredos e fantasmas, tapeçarias de pastrana. A casa de barroco de Greenaway, o espelho espelha-me em Rembrandt, lá fora o céu
de Rubens e a luz de Vermeer, da sua janela se vê de Magritte e a noite de Burton.
.
Os retratos dos antepassados seguindo, mistério de qualquer coisa. O cheiro do pó-de-arroz e talco, baunilha e canela, bebendo
chá. Café, tabaco e batota. Alguém viu aberta uma porta fechada há duzentos anos.
.
A capela de gótico puro, junto de rococó de impuridade,
pedra e soalho, a biblioteca de escada longa, de dormir de abóbada celeste sem cadentes igualmente silêncio na estufa de ferro, vidro e verdes. No corredor veludo e seda, escarlate, lazúli e negro indo ou fiáveis.
.
No salão houve bailes, debruçando-se para fogos-de-artifício e, se proíbe se permite, amantes
fugindo no labirinto de bucho, dando rosas, roubando beijos, transgredindo
nas grutas e secretos, lagos de cisnes sonâmbulos, velas nos caminhos, gargalhadas,
choros e desflorares.
.
Sítios sempre noite, outros de revelação. Abandonos de granito para a chuva surpreendente.
.
Gatos fogem, gatos vêm, gatos ficam, gatos sentam-se no colo. Cães sendo cães sem pressa. Ninguém, sortilégio que me permito e gosto.
.
Claro a tristeza, melancolia da solidão, memória que espero
criada. Tédio de remorsos e vergonha.
.
Sem horas, os dias ligam-se às noites e as estações nos seus
tempos perfeitos e carácteres.
.
Fazer amor e comer uvas, no refresco do pavilhão dos linhos voando e ribeiro azulejado. Ninguém ouve os risinhos.
.
Só para dizer longe.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário