digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, julho 13, 2016

A cabeça como uma canção em repetida espiral

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Nascer e crescer sem amanhã. Depois os sonhos. Depois as esperanças. Depois vitórias. Depois qualquer coisa. Depois perder. Dias de se ser nada e de até já desejar ser coisa.
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No que me tornei, umas vezes cínico noutras maldando noutras traindo-me falando demais e diante de surdos que me escutam em aflição e indiferentes, incomovíveis e a minha consciência abrindo-me carne e alma.
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A culpa é da mãe. A culpa é do pai. A culpa é dos amigos, das más companhias. A culpa é da vida. Quem me dera não saber que é minha e acreditar.
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Diziam do mercúrio a eterna vida.
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O faqueiro de prata empenhado. O brasão escondido. A loucura revelada. A solidão é fogo posto e não mais do que cinza.
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No que me tornei, mas riu-me patético da desgraça nas vagas etéreas esperanças do pesadelo e da visão do Sol pondo-se ao fundo do mar calmo sem nuvens.
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A solidão é isso mesmo, solidão. Como o escuro é escuro e o sangue calor e a derrota amarga e enraivecente, por certezas de injustiça e crueldade de abandono e incompreensão na desilusão da traição.
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Não me avisaram não ouvi não acreditei, o mundo era meu, o Sol punha-se sem nuvens.
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Matei três ratos, duas cobras e um pombo. Maltratei a Liberdade, a mansa cadela enjeitada que o bairro cuidava por vezes guardava. Castiguei o amigo Gordo a quem revelei as traições m’infligidas e o traí.
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Consolo-me na misericórdia que me permito. Era criança e não havia futuro porque não havia passado, antes dos sonhos, apenas a lonjura dos dias da escola, a ânsia das férias, o Verão não tinha fim.
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No que já me tornara antes de me tornar no que sou.
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Inconsciente no amor leviano. Sem amanhã. Sem sonhos, porque o Sol se punha sem nuvens.
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Então cresci por acaso, fiz amor, um dia perdi e perdido me perdi. Então a loucura, apunhado verti vida depois arrependido e agora arrependido do arrependimento mas cobarde.
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A perdição é isso mesmo, um local em que se está desconhecendo onde se fica não podendo ir nem.
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Não há perdição sem solidão nem solidão sem dor nem dor sem alma-coração-cabeça-pulmão-fígado.
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Diziam do mercúrio a eterna vida.
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Se olhando a libertação pudesse pois desexistir, não é pedido que Deus conceda.
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No que me tornei. Não quero a culpa porque me arrependo mas o gesto não regressa nem esqueço. Afinal não tive o Diabo na mão.
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O pior são as mágoas que deixei, a vergonha de trair o Gordo e a maldição de maltratar a Liberdade, generosa me perdoou como só os cães.
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Não quero a vida eterna mas mercúrio.
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Nota: Como muita coisa do outro lado da Cortina de Ferro, a autoria do desenho deste rádio permanece anónima. Contudo, se por milagre alguém souber, que me diga o nome, para que possa atribuir o crédito da autoria.

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