Não cabia em mim de contente. Rebentei de alegria. Agora estou aqui que nem posso. A alegria é a causa da minha tristeza.Nota: A peça é absolutamente alegre. E ai de quem diga o contrário!
digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
O psitacista confunde-se com o erudito. O dinheiro não compra a sabedoria, mas pode dar brilho à ignorância e polir o gosto. A vaidade não é contrariada pela pobreza nem pela sabedoria nem pela riqueza nem pela ignorância. Ter ou não ter não significa pensar. Afinal para que serve a arte?
As palavras são de ferro e de pedra e com elas constroem-se edifícios de texto. Depois rasgam-se papéis e erguem-se vozes. Tudos se faz com letras, palavras, frases, períodos e parágrafos. Os meus dedos não param. Todos os dias e quase todas a horas estou ligado às palavras. Umas vezes gosto, mas noutras faço o sacrifício. As minhas mãos de menina têm outra sensibilidade para além das palavras. As minhas mãos tocam flores com palavras e com imagens. Pelas palavras, as minhas mãos amanham peixe, moldam ferro e partem pedra com palavras. Por que hoje haveria de ser diferente?
Sempre que fazemos amor aleijo-te com a barba e fazes-me rir com os olhos. Eis uma vantagem de estar vivo. Não me faças cócegas ou vou-me para o outro lado.
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A vida é um profundo azul e ilusão. Descobri isso no Loch Lomond. É mais erudito anunciar que aconteceu no exotismo selvagem das Américas ou nas terras milenaremente sábias dos confins da Ásia ou eventualmente nos termos genuínos, básicos e autênticos de África, mas nunca na civilizada, austera e aborrecida Europa. Mas aconteceu-me na Escócia.
Deus, na sua divina sabedoria e perfeição, parece esquecer-se de mim. Marimbo-me nele. Sei que existe e levo a vida como se ele estivesse ausente. Se ele nada me dá, eu também não lhe falo! Não sei o que virá a seguir nem o que se esconde atrás da realidade. Se a fé é um mistério, se a vida é um mistério, que se brinque ao quarto escuro. A minha vida é uma tragicomédia. Divirto-me horrores!
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Há um vazio na minha cabeça que é uma névoa de dor ou um nó de silêncio. O betão da parede está plano e liso, quase macio, como se o bater das ideias o tivesse polido e a luz dos dias o envernizasse. O cinzento dos dias é mais aborrecido do que o dos muros suburbanos e o tédio dos minutos não gera fontes de saber.
A Sara deu-me uma candeia para saber do caminho. Com a luz que ela me deu percebi que não quero ir a lado nenhum. O mais cego de todos é aquele que coxeia.
Dentro de mim tenho o meu mundo, tão errático quanto o universo donde venho. A minha cabeça está adaptada à atmosfera doutro quadrante, aqui desencontra-se e estranha o ar, a luz e os ângulos certos. A minha cabeça questiona o meio-dia e o quarto para as três. Não nasci para ser rico nem famoso. Não nasci para ser pobre nem ausente. Não nasci para ser mediano e remediado. Não pertenço aqui. Não sei estar doente nem loução. Quando era menino estranhava a infância e nunca percebi a adolescência. Agora que sou adulto quero ir para velho e quando lá chegar penso na viagem de volta ao lugar donde vim. Todavia só temo não encontra a porta. Por agora vagueio pelas praças a conversar com os pombos. Na minha cabeça transporto o meu mundo errático perante a indiferença de todos e a certeza curiosa das aves.
A origem da luz não faz sentido nem a duração dos dias nem a rotação da Terra. Venho dum universo errático. Os meus apetites não têm lógica e, por isso, são os mais puros: são apetites. Mais do que instinto, são apetites. O Norte, o Sul, o Este, o Oeste não fazem sentido. Simpatizo com o Sueste, mas é apenas uma simpatia... o ponto colateral tem tanto de disfuncional quanto qualquer outro. Não sei do cimo nem do baixo nem da frente nem do atrás. A minha vida decorria com uma lógica inexplicável e ininteligível até chegar aqui, a Lisboa. Não consigo habituar-me ao sistema solar. Não sei sair daqui.
O ar junto ao mar é tão especial que julgo ter nascido só para o respirar.
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Um dia claro ou de chuva oblíqua. Um dia de melros de bico muito amarelo. Sento-me num degrau qualquer, numa pedra e, de olhos fechados, deixo o Sol entrar em mim. Deixo a chuva oblíqua entrar-me. Em casa sento-me encostado às paredes para que sobre mais espaço à minha frente. Tenho as janelas escancaradas e as vidraças franqueadas para que tudo se veja. A minha vida é um cubo de vidro de absoluta transparência e as minhãs mãos uma só malga para a água da chuva oblíqua, que se evapora no Sol forte e se vai no bico dos melros de bico muito amarelo. Estou sentado num qualquer degrau num dia qualquer de luz clara ou chuva oblíqua.
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Ponho os pés em qualquer parte, porque não sei onde os hei-de pôr. Tenho-os no fim das pernas, porque é onde melhor me servem, embora não me ficassem mal no lugar das orelhas para que os pensamentos corressem.
Estou enamorado pela mulher desconhecida e tenho todo o medo porque sei que só a ausência ilude e só a escuridão tem fundura.
Quero viver, amar e morrer em esplendor. À minha vida só concedo o direito de dormir. A mim compete-me sonhar.| movie themes - jam... |
É outra vez quase Verão. Há luz e imponderável levitação. Falta um terço dos zumbidos aos insectos para que esteja pronto o sossego e o estio. Por agora parece estar quase tudo pronto, mas falta algo indefinivel. Por agora há luz e imponderável levitação, como se houvesse espaço para um outro tempo.
A minha amizade por Nasser tem mais anos do que aqueles que passaram desde que nos conhecemos. Conheço-o de há muitas vidas e sei muitas vezes no que pensa e o mesmo sabe ele sobre mim. Para mim, partilhar com ele um jantar é dos maiores prazeres que tenho. Não sei se a mesa tem de nós o mesmo prazer que eu e ele tiramos dela: pobres tábuas!... Havemos de ser muito velhos e ainda desfrutaremos grandes repastos bem regados. Noutras vidas faremos o mesmo, tal como fizemos em passadas.
Foi preciso que tivesse sabido quebrar as rectas e compreender as curvas para dar valor ao que desdenhava. As cores colocadas, antes julgadas em despropósito, afinal têm sentido. Tudo é mais do que um vago espaço e mais que um breve momento. Tudo é menos do que o seu oposto. O erro não era da paisagem, mas dos meus olhos.
Ainda não sei que língua falas. Tenho receio do toque das mãos, que as minhas e tuas se encontrem e se enfeiticem ou engalfinhem em guerras eróticas que só a pele entende. Nada em ti é compreensível. Detesto-te e odeio tudo o que representas. Porém, não resisto ao febrão de te ver: suo como se sofresse duma gripe muito forte e deliro, revirando os olhos, tal e qual, só que por desejo.
Quero pousar a cabeça no colo duma mulher qualquer e esperar todo o afecto que espero da mulher eleita. Estou cansado de esperar pela minha mulher. Estou cansado da perfeição que não vem, não chega nem se alcança.
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Cada vez que olho a linha do horizonte antevejo uma cor diferente e um novo dia. Não sei se é dos meus olhos ou se há uma esperança em mim.