Ponho os pés em qualquer parte, porque não sei onde os hei-de pôr. Tenho-os no fim das pernas, porque é onde melhor me servem, embora não me ficassem mal no lugar das orelhas para que os pensamentos corressem.
Deito-me, por vezes, cansado numa banheira de água quente, fechado num quarto quente para que o vapor me faça suar. Penso melhor e relaxo. A cabeça funde-se nas nuvens e os pés dissolvem-se na água e no esmalte do vaso. Sou um peixe. Em algumas situações necessito de música, mas, por regra, basta-me o ar abafado e o torpor.
No fim do corpo estão os pés. Longe dos olhos, calados mesmo se aflitos pelo peso do corpo. Gosto de lhes cortar as unhas e de as ver crescer. Permaneço imóvel dias a observá-las... quieto sem comer nem respirar, apenas a admirar a natureza sublime das unhas e a forma absurda dos dedos dos pés.
Dos pés nem mesmo lamento o cheiro depois do esforço. Ponho os pés em toda a parte. Não sei onde os hei-de pôr.
1 comentário:
:p
Fantástico!
Adorei visualisar os pés no lugar das orelhas....
Lindo, divertido, inquietante;)
um beijo
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