digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, maio 14, 2007

Os admiráveis pés

Ponho os pés em qualquer parte, porque não sei onde os hei-de pôr. Tenho-os no fim das pernas, porque é onde melhor me servem, embora não me ficassem mal no lugar das orelhas para que os pensamentos corressem.
Deito-me, por vezes, cansado numa banheira de água quente, fechado num quarto quente para que o vapor me faça suar. Penso melhor e relaxo. A cabeça funde-se nas nuvens e os pés dissolvem-se na água e no esmalte do vaso. Sou um peixe. Em algumas situações necessito de música, mas, por regra, basta-me o ar abafado e o torpor.
No fim do corpo estão os pés. Longe dos olhos, calados mesmo se aflitos pelo peso do corpo. Gosto de lhes cortar as unhas e de as ver crescer. Permaneço imóvel dias a observá-las... quieto sem comer nem respirar, apenas a admirar a natureza sublime das unhas e a forma absurda dos dedos dos pés.
Dos pés nem mesmo lamento o cheiro depois do esforço. Ponho os pés em toda a parte. Não sei onde os hei-de pôr.

1 comentário:

moonlover disse...

:p


Fantástico!


Adorei visualisar os pés no lugar das orelhas....

Lindo, divertido, inquietante;)

um beijo