digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, maio 06, 2007

Colo

Quero pousar a cabeça no colo duma mulher qualquer e esperar todo o afecto que espero da mulher eleita. Estou cansado de esperar pela minha mulher. Estou cansado da perfeição que não vem, não chega nem se alcança.
Vou pousar a cabeça no colo duma mãe e chorar todos os mortos. As minhas lágrimas sem sexo vão molhar os tecidos indiferentes, mas jamais chegarão às suas pernas. Nem ao longe nem ao perto se ouvirá piano nem harpa. Será um drama sonoro, mas a sua música terá a orquestração dos soluços e a catadupa de arrependimentos, gestos de baba, olhos lavados e face escorrida.
Vou pousar a cabeça no colo duma mulher escolhida ao acaso, uma mulher qualquer: uma mãe. Vou chorar toda a manhã, toda a tarde, toda a noite, toda a madrugada. Até não me lembrar de mim. Até não me lembrar do meu drama.
Todos os mortos desta vida festejaram-se um dia vivos. Vou levantar a cabeça do colo quieto dessa mãe e sorrir-lhe refeito. Depois do pranto e do consolo, o tempo de voltar à vida.

4 comentários:

moonlover disse...

Lindo!
acabei o texto a chorar:(

Anónimo disse...

Esbarrei a pouco por cá...
e li os últimis posts...
senti assim uma "coisinha" agradável e que me atraiu profundamente.
Sim, eu reparei no editorial. Não pretendo confundir nada.


Enfim..
quero apenas partilhar o prazer que me deu ler este lindo aglomerado de palavrinhas!

¨*¨

João Barbosa disse...

Miss Moon: :-) bjs

j: Sejas benvindo(a) e ainda bem que gostaste.

Teresa Durães disse...

Gosto da escrita, bastante!