É outra vez quase Verão. Há luz e imponderável levitação. Falta um terço dos zumbidos aos insectos para que esteja pronto o sossego e o estio. Por agora parece estar quase tudo pronto, mas falta algo indefinivel. Por agora há luz e imponderável levitação, como se houvesse espaço para um outro tempo.
Por mim volto atrás e revejo a época das chuvas em busca do momento anterior ao zumbido dos insectos. Deve ser aí que reside o começo de todos os enganos. Minuto a seguir a minuto. cada minuto formado por infinitos instantes. Cada instante completo por inseguranças e loucuras. Tresloucados instantes e silêncios analisados em angústia incerta e incompreensível desamor.
Ou talvez antes. Provavelmente é preciso recuar a um tempo anterior ao Inverno, mesmo mais antigo que o Outono, para perceber a dissonância actual. Se calhar o desfazamento dos espelhos começou no próprio início, há coisa de quase um ano, quando as bocas se abriram para se saudarem antes de se beijarem e as almas se espantarem com o reencontro depois de tantos anos e vidas de separação.
Passou um ano imperfeito e não há maneira da levitação concertar-se com a música esquisita das açucenas, dos aloés e dos lírios. Não distingo os sons e os aromas das flores e tampouco as minhas mãos as sabem segurar com delicadeza. Tenho os gestos bruscos, os modos brutos e, dizem, um mau querer.
Passou um ano imperfeito com alguns dias felizes e noites de tempestade. Entre relâmpagos e calores perdi a noção de onde se desafinou a carne com a alma e o sangue desatinou a doer, fervendo. É outra vez quase Verão. Há luz e imponderável levitação. Não sei onde está a falha nem por que existe.
1 comentário:
ou talvez nem haja..seja simplesmente diferente
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